Uncategorized

Liderança: as quatro lições que aprendi em 40 anos de vida corporativa

CEO do Grupo Algar

Compartilhar:

O que faz de alguém um bom líder? Enquanto a informação era um bem escasso, quem tinha acesso a ela possuía um enorme diferencial para a liderança. A situação é totalmente diferente hoje em dia, com o excesso de informação disponível no mundo. Aprendendo onde buscá-la, um jovem profissional pode saber tanto sobre certo assunto quanto um CEO com muitos anos de experiência. Por isso, minha vivência mostra que algumas habilidades bastante humanas são cada vez mais valorizadas nos líderes.

O conhecimento técnico é insuficiente sem um bom par de ouvidos, dispostos a escutar as contribuições de todo time. A capacidade de planejamento não basta sem ser capaz de envolver uma equipe em torno de um novo projeto. A atenção à última linha do balanço financeiro não se justifica sem que haja um propósito meio norteando as ações.

Dediquei parte dos últimos 40 anos de vida corporativa a identificar as características de todos os bons líderes que passaram por mim, e consegui carregar um pouco delas comigo também. Resolvi juntar aqui as principais lições sobre liderança que já aprendi:  

Um bom líder precisa servir
—————————

“Servir” é um verbo frequente quando o assunto é liderança. Os problemas aparecem quando se confunde quem deve servir com quem deve ser servido. Os melhores líderes que conheci e sobre quem estudei eram todos servidores. Estavam a serviço de algo muito maior do que eles próprios – e justamente por isso foram capazes de inspirar pessoas e unir equipes em torno de objetivos em comum. Os líderes tomam a frente, traçam os caminhos, estabelecem as estratégias, é verdade. Mas fazem tudo isso em conjunto com as pessoas, buscando manter sua turma no mesmo compasso. Eles são como o sal em uma refeição: dão o toque, mas o que faz o prato existir são todos os seus outros ingredientes.

É por isso que, numa organização, há muitos líderes que não são chefes. São aqueles que assumem informalmente esse papel, lutando pelos melhores resultados e defendendo seus pares. Nem todos os que estão hierarquicamente empoderados são, de fato, líderes.

Ser chefe é diferente de ser líder
———————————-

A crença de que chefes são automaticamente alçados à condição de líderes, aliás, é um senso comum da gestão que precisa ser eliminado. O respeito das pessoas é conquistado a cada dia pelas atitudes – e não por conta de um novo título hierárquico gravado no cartão de visitas. As transformações que a tecnologia estabeleceu nas relações de trabalho na última década foram profundas, mas isso, definitivamente, não mudou. O relacionamento com o time continua sendo um ativo muito importante para que uma liderança seja reconhecida como tal. Estar junto com a equipe, promover a harmonia entre as pessoas e defender quem está no time são comportamentos que fortalecem essa visão.

Costumo dizer que as pessoas que trabalham em uma organização são voluntárias. Nada as prende ali. Se não houver entrosamento com a equipe e com a liderança, são grandes as chances de perdê-las para a primeira oferta de emprego feita por um concorrente. Já se líderes fizerem a sua parte, mesmo um salário maior em outra empresa pode ser pouco para atrair os seus colaboradores.

Liderar é um exercício de humildade
———————————–

Para os chefes, talvez seja muito duro perceber que seus colaboradores conhecem mais de certos assuntos do que eles próprios. Um líder, por sua vez, busca exatamente isso. O avanço da tecnologia possibilita encontrar dados e aprender sobre absolutamente tudo atualmente, e a um custo muito baixo. Hoje, a informação é abundante e está disponível para todos. Se seus liderados não sabem como executar um determinado procedimento ou conhecem pouco sobre um novo mercado, esteja certo de que eles rapidamente descobrirão onde pesquisar a respeito – e, em poucas semanas, talvez dominem os temas.

Reconhecer essa realidade é um exercício de humildade, com implicações muito positivas para as organizações. Pessoalmente, sempre procuro trabalhar com gente melhor do que eu. É como tento assegurar que a média do grupo seja cada vez mais elevada. Admitir que as soluções que proponho nem sempre são as mais eficientes não é um custo para mim, e sim um passo a mais para que conquistemos os resultados que esperamos. 

Um bom líder pavimenta o caminho dos próximos
———————————————

Manter-se em uma posição de chefia pode ser muito sedutor. Um bom líder, no entanto, precisa reconhecer que esse não é um espaço para ser ocupado indefinidamente. Seu papel é conduzir a organização, sim, mas também preparar sucessores para que possam assumir essa tarefa no futuro. Isso começa desde o início, com a escolha das pessoas para integrar o time da empresa. É um enorme erro, inconsciente ou não, buscar só talentos juniores para trabalhar. Selecionar as melhores pessoas é o primeiro passo para uma sucessão bem-sucedida. Esta mescla faz com que o time cresça.

Tanta reflexão depois, finalizo esse artigo repetindo a mesma pergunta do início do texto: para você, o que faz de alguém um bom líder?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025
Na era da hiperconexão, encerrar o expediente virou um ato estratégico - porque produtividade sustentável exige pausas, limites e líderes que valorizam o tempo como ativo de saúde mental.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura
Liderança
3 de novembro de 2025
Em um mundo cada vez mais automatizado, liderar com empatia, propósito e presença é o diferencial que transforma equipes, fortalece culturas e impulsiona resultados sustentáveis.

Carlos Alberto Matrone - Consultor de Projetos e Autor

7 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
1º de novembro de 2025
Aqueles que ignoram os “Agentes de IA” podem descobrir em breve que não foram passivos demais, só despreparados demais.

Atila Persici Filho - COO da Bolder

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
31 de outubro de 2025
Entenda como ataques silenciosos, como o ‘data poisoning’, podem comprometer sistemas de IA com apenas alguns dados contaminados - e por que a governança tecnológica precisa estar no centro das decisões de negócios.

Rodrigo Pereira - CEO da A3Data

6 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)