Quando falamos de liderança feminina no Brasil, é impossível não falar de diversidade. Mais do que uma palavra da moda, ela é uma necessidade urgente em um país que ocupa a 14ª posição no ranking global da desigualdade. E é nesse contexto que as mulheres das periferias e favelas se tornam protagonistas de uma transformação silenciosa e potente: elas empreendem, inovam e, acima de tudo, resistem.
Há 15 anos trabalho pela inclusão do empreendedorismo feminino por meio da Rede Mulher Empreendedora (RME) e do Instituto RME. Nesse tempo, aprendi que a realidade das mulheres periféricas vai muito além da falta de recursos: elas são também movidas pela força de quem precisa criar alternativas de sobrevivência para si e para suas comunidades. Não é sobre romantizar a luta, mas reconhecer a inovação social.
Em alguns casos, elas empreendem por urgência: precisam colocar comida na mesa, fugir de ciclos de violência ou garantir um futuro diferente para seus filhos. Mas também abrem suas empresas por potência: transformam suas ideias em negócios que impactam positivamente seus territórios, gerando emprego, autoestima e redes de solidariedade..
Quando uma mulher conquista autonomia financeira, ela alcança também autonomia de decisão — e isso salva vidas. Uma pessoa dona do seu dinheiro é menos vulnerável a relações abusivas e tem mais liberdade para decidir seu destino.
Esses negócios nas periferias são também inovação territorial. Mulheres que transformam suas casas em cozinhas comunitárias, salões de beleza em espaços de formação profissional, ou brechós em centros de moda circular, criam soluções de impacto real. Muitas vezes, essas ações passam despercebidas pelos grandes centros de poder e investimento.
Apesar de sermos a maioria da população, 51,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda somos minoria nos espaços de decisão. De acordo com o estudo do Painel de Impacto Social da VR, com base em mais de 100 mil empresas, aponta que 18% dos negócios são comandados exclusivamente por mulheres, enquanto 40% têm liderança exclusivamente masculina
Essa desigualdade se agrava quando falamos de mulheres negras, de periferia, trans e com deficiência. A falta de representatividade reforça barreiras invisíveis, mas seguimos resistindo e criando novas narrativas a partir dos nossos territórios.
A transformação social que precisamos começa com o reconhecimento dessas lideranças periféricas. E mais do que isso, é preciso investimento, acesso a crédito, educação empreendedora, redes de apoio e políticas públicas que entendam a potência que nasce das bordas.
A diversidade, quando levada a sério, não é apenas uma ferramenta para melhorar o país, é o caminho para uma sociedade mais justa e inovadora. Quando apoiamos uma empreendedora da periferia, auxiliamos toda uma rede de transformação: ela investe no bem-estar da família, melhora a educação dos filhos e impulsiona outras pessoas ao seu redor.
Na Rede Mulher Empreendedora, acreditamos que fomentar o empreendedorismo feminino, especialmente em territórios periféricos, é uma forma concreta de combater desigualdades históricas. Cada uma que conquista sua independência econômica não está apenas mudando sua história: ela está mudando o seu bairro, a sua cidade e, pouco a pouco, o país inteiro.
Por isso, é urgente olharmos para elas não com piedade, mas com admiração e apoio. Porque seus negócios não são apenas sobrevivência, são inovação, resistência e futuro.