Business content

Liderando em silêncio

O CEO da Construtora Passarelli conta que valoriza líderes discretos e focados, com humildade para aprender, resiliência para lidar com erros e que se cerca de pessoas complementares

Compartilhar:

A Passarelli Construção e Engenharia, o engajamento é uma característica essencial ao funcionário. “Não há inventividade em engenharia se não houver essa paixão para ir além”, explica Paulo Bittar, CEO da construtora desde 2019. E um valor essencial é respeito, termo que ele repete várias vezes nesta conversa com sua diretora de gestão de pessoas, Lúcia Menezes.

Isso combina com a descrição que ele faz do colaborador e do líder do futuro. O primeiro deve ser empático, resiliente e respeitoso. O segundo deve ser dedicado, focado e trabalhar em silêncio. “Deixamos que o sucesso faça barulho.”

## BRILHO NOS OLHOS

__Qual é seu próximo desafio de pessoas?__
Acredito que, após quase dois anos de pandemia, o maior desafio de modo geral, não só de pessoas, será o de liderar a retomada em 2022. Ainda que muitas áreas não tenham vivenciado o pleno isolamento, todos passamos por desafios pessoais ou profissionais durante a pandemia. E essa retomada poderá trazer à tona alguns medos e inseguranças, colocando em xeque a atuação dos líderes. Estes deverão, mais do que nunca, trazer segurança e apontar os caminhos pelos quais as equipes precisarão seguir. Já estamos endereçando esse desafio, inclusive: temos buscado apoiar os líderes para que possam conduzir essa retomada de forma assertiva, e assim trazer as pessoas de volta com brilho nos olhos.

__Esse brilho significa “gente engajada”?__
Isso mesmo. Um profissional engajado tem brilho nos olhos porque trabalha com paixão. Não somente encara os desafios que lhes dão; ele busca desafios. Vai muito além de cumprir com suas obrigações. Aqui na Passarelli, o brilho nos olhos é uma característica essencial. A engenharia é uma área que requer inventividade, por aplicar métodos científicos à utilização dos recursos da natureza para benefício do ser humano. Precisamos contar com profissionais engajados no time para conseguir ser inventivos.

__Que práticas da empresa mantêm esse brilho?__
O engajamento é responsabilidade tanto da empresa como de cada profissional! Do lado de cá, falando como representante da empresa e, claro, como líder, entendo que temos que fazer a nossa parte: promover um ambiente de trabalho que seja, ao mesmo tempo, desafiador e acolhedor (sabendo dosar os momentos de desafiar com os de acolher); enxergar as potencialidades de cada membro da equipe, apoiando-o no desenvolvimento e crescimento; cuidar do reconhecimento e da remuneração – atentos, principalmente, aos drives motivacionais de cada um. Esse é um trabalho contínuo feito pelos líderes em parceria com a área de gestão de pessoas.

Mas também existe a parte do funcionário, de ele reconhecer suas limitações e seus drives motivacionais, de dar feedbacks sinceros para a liderança, e claro, de se permitir engajar ao propósito da companhia. Você só se engaja quando se permite fazer isso.

## RESPEITO É BOM

__Há jeito certo de liderar? Que princípios você adota e acredita fazerem sentido para liderar hoje?__
Na Passarelli, temos em nosso “Jeito de Ser” a competência liderança, que tem três mensagens. Uma é “Ser exemplo!” Outra é: “Desenvolver, inspirar, influenciar e servir nosso time para atingir resultados. E a terceira: “Promover um ambiente produtivo, harmonioso e colaborativo”. Esse nosso jeito de liderar é explícito, não tem como questionar. Aqui, um líder nunca pode abrir mão do respeito pelos outros, por exemplo. Respeito é um de nossos valores mais importantes.

__Respeito é um bom começo para lidar com os desafios diversidade e inclusão. Então me diga: quão importante é ter D&I numa empresa como a nossa?__
Veja bem: nunca fazemos duas vezes o mesmo projeto. E, por esse motivo, a diversidade de perfis e experiências é fundamental. Acreditamos no poder do aprendizado por meio de um ambiente diverso para ter sucesso.

O tema diversidade e inclusão é bastante vinculado com o nosso valor “respeito”, sim, que diz “tratamos as pessoas com respeito! Independentemente de suas origens, estilo de vida ou posição”. E conta com programas específicos, como programas formais que focam a contratação de pessoas com deficiência e jovens aprendizes, acolhendo-os desde o processo seletivo até a integração ao nosso time. Também estamos desenvolvendo métricas em nosso programa de ESG para mensurar melhor a presença dos diferentes públicos em nosso time e para que possamos promover um ambiente cada vez mais diverso – e já consigo adiantar que temos uma boa presença feminina na empresa, até mesmo em cargos de liderança, e uma diversidade etária bastante rica.

Agora, respeito é a base, mas não basta. Nossa área de gestão de pessoas tem trabalhado em programas de segurança psicológica visando especificamente a quebra de paradigmas e a preparação do nosso time para ampliarmos o leque de diversidade na empresa, tornando aqui um local seguro para os mais diversos profissionais.

Creio que um dos grandes conflitos atuais do mundo corporativo tem a ver com diversidade também e com respeito: é o conflito geracional – e o impacto que essa nova geração questionadora trará ao universo corporativo. Isso está forçando grandes mudanças não somente no mercado consumidor (que desafia as empresas a terem uma transparência inédita), como também no mercado de trabalho (pela desafiadora construção de uma aderência desse público novo nas organizacões, interagindo com as demais gerações).

## MAIS INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E EMOCIONAL

__Você considera que o RH da Passarelli converte nossas prioridades estratégicas em ações?__
Sim, a atuação do RH aqui é bastante estratégica, começando pela sua contribuição nas definições da estratégia do negócio – não é só na implementação, não.

É muito importante dizer que o nosso RH prepara as equipes continuamente para termos prontidão ante os novos desafios que virão. E que, ao implementar as estratégias, vai além – por exemplo, fazendo alterações de estrutura sempre que é preciso.

__Existe algo que o RH não faz – ou faz pouco – e poderia fazer para ser mais efetivo?__
Algo que vai fazer cada vez mais, creio eu: otimizar e operacionalizar processos, utilizando inteligência artificial para o atendimento de muitas de suas demandas e colocando mais energia na realização de atividades que somente nós, humanos, conseguimos fazer.

__Quais as características que o RH deve procurar no profissional do futuro? E no líder do futuro?__
Acho que o profissional do futuro precisará ter suas habilidades humanas mais presentes do que nunca. O fator humano será essencial e insubstituível, o que significa colocar em prática a empatia, a resiliência e o respeito. Por isso temos ouvido falar tanto sobre inteligência emocional.

O líder do futuro tem muito em comum com o líder do presente na Passarelli. Gosto de falar que trabalhamos com muita dedicação, foco e em silêncio – deixamos que o sucesso faça barulho. Acredito que, para a gente chegar ao sucesso, em primeiro lugar precisa ter muita humildade para aprender, resiliência para lidar com erros e se cercar de pessoas – e de líderes – melhores que você ou com competências que você não tem. Também valorizo bastante o líder que faz uma comunicação clara e objetiva da estratégia. E a capacidade de seguir o plano e de corrigir rapidamente os possíveis desvios que ocorrerem.

__Por falar em erros e aprendizados, conte para nós como é o Paulo líder que erra e líder que aprende.__
Meu maior erro talvez tenha sido escolher alguns parceiros e negócios sem me aprofundar muito na análise. Mas não repito esse erro. E sempre digo que só quem não arrisca não erra, e quem está numa posição de liderança muitas vezes tem que correr riscos ou não será um bom líder.

Sobre o Paulo aprendiz, faço uma analogia com o esporte, porque fui atleta. Para se destacar no esporte ou no trabalho, você tem que ser melhor e diferente dos demais. E isso significa aprender para melhorar o tempo todo. Vale para a carreira. Eu gosto de ver o que os concorrentes estão fazendo de bom e estudar as tendências de cada mercado em que atuamos.

__Falamos muito na sua saúde emocional dos colaboradores, mas e a saúde emocional dos líderes?__
Temos que ter um equilíbrio em cinco pilares: saúde, família, trabalho, esporte e amigos. E manter o pensamento positivo.

__PAULO BITTAR__
É engenheiro civil e atua há 13 anos na Passarelli, vindo da área comercial.

__LÚCIA MENEZES__
Passou por Método, Blue Tree Hotels e Andrade Gutierrez.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura