Marketing Business Driven

Mais coragem para tirar a roupa

Em tempos nos quais se requer bravura dos líderes, talvez uma das mais necessárias seja dar visibilidade à própria vulnerabilidade. Faça um experimento de uma semana
Neil Patel é considerado um dos principais influenciadores da web pelo The Wall Street Journal e integrou a lista dos 100 melhores empreendedores do ex-presidente Barack Obama antes de completar 30 anos. Rafael Mayrink é CEO da NP Digital no Brasil, atua há 20 anos na área de marketing e comunicação.

Compartilhar:

Dia desses, conversando com uma pessoa, ouvimos dela o seguinte relato sobre a postura de um grande fazendeiro seu amigo: “Em todos esses anos, nas minhas fazendas, meus funcionários nunca me viram vestir alguma coisa diferente que não seja camisa, calça, sapato e cinto. Nunca estive com nenhum deles de chinelo e bermuda”. A intenção embutida na conversa pareceu ser a de que toda a comunicação (verbal e corporal) desse fazendeiro precisa transmitir autoridade, mostrar que é ele quem está no comando. Sentar-se com um peão usando chinelo, tomando uma cerveja e jogando conversa fora, faz desse homem alguém muito comum, e isso pode arruinar sua reputação e autoridade.

Fiquei pensando sobre a validade disso nos tempos atuais. Por um lado, a pessoa tem mesmo razão: não é em todos os momentos que podemos nos portar de um jeito informal. Sua fala e o modo como você se veste contam, sim. Em 2012 foi feito um estudo, bastante citado, chamado Enclothed Cognition, em que os autores (Hajo Adam e Adam Galinsky) demonstraram que as roupas que usamos podem influenciar nosso próprio comportamento.

No experimento feito, os participantes que vestiam jalecos de médico conseguiam prestar maior atenção do que quando vestiam jalecos de pintor, ainda que ambos fossem jalecos, o mesmo item de vestuário. E isso é impossível de ignorar.

Imagine você entrando em um consultório médico e, na sua frente, está uma pessoa mal arrumada, cabelo despenteado, com o consultório todo desorganizado? Então, sim, a imagem conta! Mas até que ponto um(a) líder não pode mostrar suas fraquezas? Por que necessariamente a pessoa liderada precisa enxergar só os acertos da liderança? Talvez porque haverá uma perda de credibilidade. Nós ainda temos uma mania, um tanto quanto besta, de achar que, quem está no “topo” (topo entre muitas aspas), não tem defeitos – ou, pelo menos, tem menos defeitos do que nós. E isso NÃO EXISTE! Caso você ainda não tenha descoberto, todo ser humano tem suas fragilidades, inseguranças e medos.

Quero lhe propor um teste a fazer, se você for um líder de marketing: durante uma semana, procure trazer seu time para mais perto, sendo mais honesto, mais aberto, mostre ostensivamente que você precisa daquelas pessoas porque sozinho não dá conta.

Exemplo: se você tem dificuldade em priorizar projetos, para que ficar quebrando cabeça? Chame seu time. Diga que não sabe quais projetos podem trazer os melhores resultados para o marketing digital da empresa. E deixe as pessoas priorizarem. Você deve se surpreender com o engajamento do seu time quando se mostrar uma pessoa normal, e com o fato de que não será menos respeitado por isso. Nesse mundo de filtros e imagens perfeitas de internet, a tal sandália da humildade nunca foi tão respeitada.

Artigo publicado na HSM Management nº 160.

Compartilhar:

Neil Patel é considerado um dos principais influenciadores da web pelo The Wall Street Journal e integrou a lista dos 100 melhores empreendedores do ex-presidente Barack Obama antes de completar 30 anos. Rafael Mayrink é CEO da NP Digital no Brasil, atua há 20 anos na área de marketing e comunicação.

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Empreendedorismo
Embora talvez estejamos longe de ver essa habilidade presente nos currículos formais, é ela que faz líderes conscientes e empreendedores inquietos
3 min de leitura
Marketing Business Driven
Leia esta crônica e se conscientize do espaço cada vez maior que as big techs ocupam em nossas vidas
3 min de leitura
Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Já notou que estamos tendo estas sensações, mesmo no aumento da produção?

Leandro Mattos

7 min de leitura
Empreendedorismo
Fragilidades de gestão às vezes ficam silenciosas durante crescimentos, mas acabam impedindo um potencial escondido.

Bruno Padredi

5 min de leitura
Empreendedorismo
51,5% da população, só 18% dos negócios. Como as mulheres periféricas estão virando esse jogo?

Ana Fontes

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura