Cultura organizacional

Mais empatia, mais sentimento, mais emoção!

Estudos mostram que se expressar mais abertamente faz bem para a saúde mental de funcionários e, consequentemente, de empresas
Allessandra Canuto é especialista em temas comportamentais e gestão da cultura. Valéria Oliveira é especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura.

Compartilhar:

Nós somos pura emoção. A alegria, a tristeza, o desejo, a raiva, o medo e tantos outros sentimentos são os grandes responsáveis para que aconteçam diversas manifestações físicas em nosso corpo diante de algo. É impossível vivermos sem nos expressar.

Os filósofos Albert Newen e Luca Barlassina defendem que as emoções devem ser interpretadas como um estado mental sofisticado, que resulta da interação entre processos fisiológicos e cognitivos. Entretanto, há autores que dizem que são reações biológicas de natureza animal, sendo consideradas mecanismos de sobrevivência, mesmo com as funções sociais existentes.

Independentemente de como são classificadas, as emoções influenciam o modo como nos envolvemos com outras pessoas em nosso dia a dia e afetam as decisões que tomamos. Por isso, é importante compreender os diferentes tipos, entender as melhores maneiras para se expressar e saber lidar com cada um dos sentimentos.

Na vida profissional, muitas pessoas são cobradas pela maneira com que expressam suas emoções. Ficar triste, chorar e até sentir receio em entregar algum projeto pode ser visto com maus olhos por alguns gestores. Sem contar que é uma questão decisiva na hora de dar uma promoção a um colaborador.

Sabemos que suprimir sentimentos também não é nada positivo. Ter um colaborador que simule que está tudo bem pode ser prejudicial não só para os negócios, mas também para a pessoa que está a ponto de explodir.

Essa constatação veio de uma pesquisa da University of Arizona. Ela mostra que as pessoas que aparentam estar felizes em suas profissões, mas que na verdade estão insatisfeitas, podem arriscar o seu bem-estar e sua performance profissional.

Sabemos que muitos colaboradores ainda fingem essa felicidade em seus empregos. De acordo com o estudo, oito em cada dez profissionais que não estão contentes no trabalho simulam satisfação diante de seus colegas. As mulheres (86%) escondem mais o descontentamento que os homens (77%) por serem mais cobradas a não exporem o que sentem no ambiente corporativo.

O impacto de fingir nossa felicidade no trabalho é muito maior do que o dano que pode causar ao nosso bem-estar e desempenho na carreira. Dos funcionários que admitiram fingir felicidade, 66% disseram que não estavam dormindo tanto quanto deveriam, e 18% confirmaram que isso os fez serem ríspidos com alguém pessoalmente.

É uma triste realidade, e é por esse motivo que temos esbarrado tanto em pessoas com a saúde mental afetada por conta do ambiente corporativo. De acordo com a Previdência Social, em 2021 mais de 75 mil brasileiros sofreram afastamento do trabalho por causa de quadros de depressão.

Acontece que estamos vivendo momentos difíceis, com pandemia, crise econômica e política, o que interfere diretamente em nosso estado emocional. Sem dúvida, tudo isso soma tanto no âmbito pessoal, como também no ambiente corporativo.

Não é por acaso que falar das emoções se tornou tão comum. Há diversos estudos ensinando como lidar com elas e quando é preciso acender o sinal de alerta.

## Emoções x trabalho
É evidente que se expressar é algo importante para o sucesso de qualquer projeto. No entanto, nem sempre vamos colocar apenas sentimentos de alegria e de empolgação diante de algo que nos foi apresentado. Pelo contrário, é bem provável sentirmos medo, receio e ficarmos angustiados com algo novo. Porém, qualquer colaborador fica ainda mais preocupado quando se sente assim.

Isso implica na produtividade. Passar por esse tipo de situação sem falar com o líder a respeito pode comprometer todo o trabalho. No estudo “Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho”, realizado pela The School of Life em parceria com a Robert Half, 62,1% dos entrevistados sentem que não têm liberdade para falar dos seus sentimentos e das suas emoções no ambiente de trabalho.

Um abalo emocional tende a impactar diretamente no engajamento e na produtividade de uma pessoa, como aconteceu com mais de 50% dos líderes e liderados entrevistados na pesquisa. Por isso, é tão importante que as empresas comecem a pensar em seus colaboradores como seu ativo mais importante, inclusive a se importar com as suas emoções.

É necessário que os gestores deem espaço de diálogo e que cada profissional consiga se sentir psicologicamente seguro para expor seus medos, anseios e ideias. Além disso, a empatia deve ser exercida diariamente. É preciso entender que um profissional pode não estar bem em uma semana ou até mesmo que esteja passando por uma fase ruim. Quem nunca? Com isso, aquela oportunidade de desenvolver um projeto pode ser o gatilho que faltava para que desperte nele as mais variadas emoções.

É preciso entender as emoções no ambiente corporativo. Nesse cenário, há líderes que dirão que se trata de uma pessoa fraca, mas terão aqueles que se importarão em ajudar, entenderão o colaborador e terão habilidades para lidar com os problemas e sentimentos, oferecendo soluções muito mais inteligentes e eficazes para driblar qualquer inconveniente no trabalho.

Saem na frente as empresas que entendem que é preciso gerir emoções dentro do ambiente corporativo. Isso traz diversos benefícios, além de diminuir os sentimentos de frustração e desmotivação entre os colaboradores.

No estudo da The School of Life, percebemos que algumas empresas já estão fazendo algo nesse sentido e oferecendo horários flexíveis (resposta de 37,6% dos entrevistados), conversas individuais com o gestor da área (32,4%) ou com profissionais de RH (27,9%), contato emergencial com um psicólogo por telefone (27,7%) e ajuda de custo para terapias (12,2%) ou cursos de bem-estar (5,2%).

Isso aumenta as chances de levar os negócios a outro patamar. A chave para garantir um ambiente saudável é pensar que as emoções são inseparáveis de qualquer profissional. Por isso, se tivermos inteligência para saber lidar com elas, conseguiremos construir um ambiente diferenciado, saudável e harmonioso.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura
Diversidade, ESG
Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes

Darcio Zarpellon

8 min de leitura
Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura