Gestão de Pessoas

Metodologia ágil só funciona quando as pessoas estão motivadas

De nada adianta ter à disposição as melhores ferramentas de gestão e de mensuração de resultados se não houver traquejo e jogo de cintura para motivar as equipes
Marcelle Xanthopoylos é gerente de Pessoas, Comunicação e Agilidade na Recovery, empresa do Grupo Itaú. Graduada em Psicologia pela Mackenzie e Processos Gerenciais pela FGV, possui MBA em Recursos Humanos também pela FGV e está cursando Especialização em Gestalt Terapia pelo Sedes Sapientiae. Possui sólida experiência na área de Gestão de Pessoas, com passagem por empresas como Page Personnel e Hays.

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Quando comecei a trabalhar com recrutamento e seleção, percebi que não existe candidato bom ou ruim. Ele pode ser ótimo para uma empresa e péssimo para outra. Foi uma quebra de paradigma importante que também me fez entender que nem todas as pessoas se adequam à metodologia ágil, o conjunto de técnicas que, como o nome diz, dão mais agilidade e flexibilidade à gestão de projetos.

Você pode até achar que isso não faz sentido, já que cada vez mais as empresas funcionam dessa forma. Mas,e nquanto parte dos funcionários se encaixa perfeitamente ao novo modelo de trabalho, outros carregam suas dificuldades, principalmente os que vêm de empresas conservadoras.

Não há problema nisso. Como líderes de pessoas, precisamos entender esse cenário.

Numa empresa que pretende mudar seu modelo de trabalho, o primeiro passo é olhar para as necessidades dos clientes e para o capital humano interno de forma singular. Ou seja, mapear onde cada pessoa se encaixaria melhor, respeitando seus conhecimentos e suas características. Basicamente, o começo está nas pessoas, clientes e colaboradores. Claro que deve existir o olhar para o que vai aumentar o resultado do negócio, mas só o eterno equilíbrio entre pessoas e resultados vai tornar possível uma verdadeira mudança.

Tenho certificação em metodologia ágil e lembro que, durante o processo de preparação para a prova, fiz um treinamento que discutiu profundamente o ferramental necessário para trabalhar com pessoas, mais do que as ferramentas ágeis de gestão dos ciclos de trabalho e de mensuração de resultados propriamente ditas. Faz todo sentido. Você pode ter toda a tecnologia à disposição, softwares de ponta, ferramentas ótimas, mas, se não tiver traquejo com pessoas para motivá-las, atenção para a integração e olhar em prol do negócio, nada vai acontecer.

Em mudanças significativas, primeiro temos que lidar com pessoas e, depois, mensurar para entender se estamos no caminho certo. Não o contrário. É importante lembrar que o ser humano é condicionado, então as métricas definidas ajudam a moldar os comportamentos futuros esperados.

A partir desse entendimento, cabe ao líder oferecer o apoio necessário para o desenvolvimento e a integração do time, reforçando os comportamentos esperados com treinamento, capacitação, reuniões de alinhamento e comunicação transparente. Os colaboradores precisam entender o que está sendo feito e por quê, o que isso vai trazer de benefícios e qual é o papel de cada um na busca pelo sucesso. E, não menos importante, o que a mudança vai impactar nas suas vidas.

Em outras palavras, é importante entender e sentir que está gerando valor para o cliente, para si e para o negócio. Isso vai refletir em cooperação, integração e engajamento. Se fizer sentido, tudo fica mais fácil e a resistência à mudança é menor.

Quando iniciamos a implementação da metodologia ágil na nossa organização, não foi fácil. Era uma cultura estabelecida, com uma hierarquia tradicional havia mais de 20 anos. Nós nos dedicamos a preparar as pessoas e ajudá-las a superar ansiedade, medo e resistência.

Meio caminho andado, se há disposição e abertura. O desafio do líder em reforçar positivamente os comportamentos esperados fica mais fácil.

Nesse processo, o feedback vem sendo fundamental – não para ficar falando do erro ou do que não está bom. Isso faz com que as pessoas se frustrem e tenham (mais) medo de errar. Acredito no feedback que olha para frente, vê o erro como lição aprendida e mira o futuro.

“O que você poderia ter feito de diferente? O que acha possível fazer agora?”. Isso, sim, faz a pessoa pensar a respeito do erro, e não a ter medo dele.
Existem três pilares essenciais na metodologia ágil: entrega de valor, melhoria contínua, ciclos curtos. Passado um ano e meio de um desafio de transformação do modelo de trabalho, chegamos a uma maturidade interessante, em que as pessoas que permaneceram no time estão genuinamente motivadas.

Conheço gente que simplesmente não conseguiu mudar a mentalidade e não se adaptou. Acontece e, para elas, o caminho das empresas mais tradicionais pode ser melhor.

Não quer dizer que essa realidade seja para sempre. As coisas mudam. Valores que fazem sentido para a pessoa hoje podem não fazer amanhã. À medida que nossos valores vão mudando, nos motivamos a buscar novos ares, seja dentro da empresa em que estamos ou fora dela, a depender da disponibilidade.

Agora, pensando na pessoa que não tem oportunidade, hoje, para fazer uma migração oficial, ela pode buscar conhecimento em podcast, canais de YouTube, leitura de livros, artigos etc. É um jeito de mudar a mentalidade, de se preparar. Quando conseguir entrar oficialmente nesse mundo, vai ser mais fácil.

Cada um é protagonista da sua carreira e da sua vida, mas penso que, independentemente de permanecer numa empresa ou não, todos podem aprender e aplicar de maneira simples a metodologia ágil e a melhoria contínua – no seu trabalho, com os filhos, com um pequeno time, em suas atividades diárias, em suas vidas de forma geral. Com certeza, essas pessoas estarão preparadas para o que estamos vivendo e para o que vem por aí.

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