> Ontem nosso CEO chamou o time de recursos humanos para uma teleconferência sem detalhar a pauta. Ficamos pensando que o assunto, provavelmente, seria o planejamento de 2022, e nos sentimos orgulhosos de tê-lo terminado na semana passada, de uma maneira criteriosa e colaborativa. Estávamos seguros do resultado e felizes com a chance de já expor o trabalho bem feito. Mas, hoje de manhã, qual não foi a surpresa quando entramos no Zoom e encontramos um comitê à nossa espera – o CEO e parte da diretoria executiva –, dizendo assim: “Bom dia. Queremos informar que agora a empresa é ESG”.
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> As palavras que se seguiram foram mais inesperadas ainda: “Agora somos todos ESG. Vocês precisam mudar todo o planejamento do RH em 2022 para incluir isso, com ações palpáveis”. Quando, boquiabertos, tiramos o microfone do mudo e perguntamos como deveríamos fazer isso e com que recursos, as respostas foram vagas: “Vejam o que outras empresas estão fazendo”, “Sejam criativos” ou “Confiamos em vocês; não queremos microgerenciar”. A frase do CEO particularmente foi a seguinte: “Considerem-se os [protagonistas do nosso propósito](https://www.revistahsm.com.br/post/a-jornada-de-desenvolvimento-do-jovem-no-mercado-de-trabalho)”.
Veja esse depoimento de uma head de recursos humanos. Ele é fictício, mas baseado em fatos reais. A decisão dos líderes de fazer de sua organização “uma empresa ESG” deve ser celebrada. Os líderes, mas não o jeito pouco pragmático com que foi tomada, atropelando as pessoas, que faz parecer menos uma decisão genuína e comprometida, e mais uma resposta a pressões do mercado. Eu poderia dizer que o jeito não é ESG.
O que é uma empresa ESG? [Um executivo ESG](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-a-decada-decisiva-para-o-planeta-e-o-futuro-do-capitalismo)? Um jeito ESG de fazer as coisas? Vamos voltar ao começo. ESG é uma sigla, em inglês, que remete a compromissos ambientais, sociais e de governança corporativa. (Há a versão ASG, em português, mas ela é menos adotada.) Ela também contempla a sustentabilidade, mas remete muito mais a regeneração do modelo de negócios e como ele opera, a implementar as mudanças necessárias para que o crescimento com sustentabilidade aconteça.
## Impacto, propósito, resultado
Muitas empresas têm associado os [fatores ESG aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-e-os-jovens-qual-a-relacao-entre-eles) da ONU para 2030, a fim de materializá-lo mais. O documento dos ODS é composto por 17 objetivos, com 169 metas, propõe planos de ação e foi assinado por 193 países, incluindo o Brasil. “ODS é uma linguagem global de impacto. É como todos estarem juntos para que o mundo sobreviva. ESG, por sua vez, acaba direcionando ações pelos ODS”, afirma Gabriela Reis, professora da Fundação Dom Cabral nessa área e nossa colega no grupo Anga&Din4mo, do qual a Eureca faz parte.
Outra diferença do ESG em relação à sustentabilidade old school é o fato de ela não pensar na famosa “tirania do OU” (termo cunhado por Jim Collins), em acreditar que só existe uma escolha, que algo exclui algo. A nova sustentabilidade é tudo junto, é econômico, ambiental e social. E também de negócios, é a “genialidade do E”, que tanto Collins prega. As ações ESG têm que ser sustentáveis e atrativas do ponto de vista financeiro e gerar impactos sociais, ambientais e de governança como filosofia de negócios.
E vale relembrarmos da célebre carta do Larry Fink aos CEOs, de 2019, com o título Profit and purpose (em português, Lucro e propósito), que foi um dos estopins desse movimento. Assim como, o Fórum de Davos 2019, do Business Roundtable, de as bolsas de valores do mundo, incluindo a nossa B3, estarem se movimentando muito em torno disso. O crescimento de 400% da carteira ESG da Nasdaq nos últimos três anos fala por si.
O grande ponto aqui é elucidar que esse não é um movimento passageiro; ele se conecta com o perfil comportamental das novas gerações, e influi nos desempenho das empresas à medida que influi em sua capacidade de atrair colaboradores e consumidores. Isso porque as pessoas estão cada vez mais avaliando os compromissos ESG das empresas na hora de tomar decisões de carreira e de consumo. Um [ESG insuficiente é motivo para pedir demissão](https://www.revistahsm.com.br/post/como-o-esg-esta-relacionado-com-a-gestao-de-pessoas) e para boicotar um produto ou serviço, com certeza, você consegue citar uma dúzia de eventos que já vivemos nos últimos anos.
É tudo muito recente, aconteceu muito rápido – já ouviu falar da aceleração provocada pela pandemia de covid-19? Mas tudo veio para ficar. E isso faz com que a abordagem ESG, fictícia mas baseada em fatos reais, do início deste artigo não seja o caminho mais próspero da agenda de Recursos Humanos. Isso porque ESG não é só fazer ações sociais pontuais, campanhas do RH ou do marketing com começo, meio e fim (isso é importante, mas talvez não “mexa no ponteiro” do negócio e da sociedade).
ESG é uma nova forma de operar da empresa. Obrigatoriamente inclui uma revisão do modelo de negócio inteiro, de como produtos ou serviços são feitos, de como é a estrutura de governança, da cadeia de fornecimento com que a empresa trabalha, etc.
## Líderes desse momento
Isso nos leva a falar da [próxima geração de liderança](https://www.revistahsm.com.br/post/a-busca-por-uma-gestao-humanizada-no-rh) que vai realmente conseguir materializar e levar as companhias para um outro patamar de ESG. O perfil de liderança atual não é o mesmo que precisaremos ter para pensar e fazer essas mudanças, não é mesmo?
Como encontrar, e formar, os novos arquétipos de líderes que provavelmente vão conduzir toda essa conversa e vão abrir caminhos? Conhecemos essas pessoas? Elas já estão dentro das nossas empresas ou, até mesmo, dos nossos círculos sociais?
De novo, a resposta está no ESG – especificamente no S, até. Quando falamos de organizações serem mais diversas e inclusivas, isso remete a líderes que representem essa diversidade também, e que precisarão ter sido incluídos em algum momento. Estamos incluindo? Sua empresa, especificamente, está incluindo gente que não se parece com a liderança? Ou tem premissas que dificultam [a entrada dessas pessoas](https://www.revistahsm.com.br/post/repense-seu-evp-para-jovens-talentos)?
Assim, como os movimentos de sustentabilidade das últimas décadas, as ações de fachada foram cunhadas como o termo “greenwashing” e as mídias sociais ainda engatinhavam. E não podemos viver um “diversity washing”, termo cunhado pela especialista em D&I, Liliane Rocha da Gestão Kairós.
Hoje, as empresas são uma caixa de vidro e as novas gerações têm acesso abundante de informações. O que você é como empresa (as suas pessoas, a sua cultura, a sua liderança…) faz parte da decisão de compra do seu consumidor. E te aviso, não há mais como enganar as novas gerações.
Não dá, diante do ESG, para apenas pedir que o [RH mude o planejamento para o próximo ano](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-questao-de-sobrevivencia-para-as-empresas-familiares), incluindo algumas campanhas e ações pontuais. As formas com que a gente sempre fez as coisas não pode ser a forma como faremos daqui para frente. Precisamos de outras métricas e modelos para expandir o que já é conhecido sobre os parâmetros ESG e começar a criar o que ainda é desconhecido e que nos possa levar a centenas de anos prósperos.
E nada melhor do que a nova geração, que já vem com o “chip do ESG” implantado, para fazer parte disso. Fica o convite: se você quer ser um executivo ESG de uma empresa ESG, que tal começar realmente acolher essas lideranças do futuro e lhes dar o espaço para co-empreender esta agenda?