Estratégia e Execução

Mindset de entrega versus mindset de resultado: o que é mais importante?

Existem diversas camadas entre cultura de entrega e de resultado; o desenvolvedor de produtos e serviços precisa olhar para os usuários e observar outros contextos que não estão inseridos na bolha de certezas e no imediatismo da produtividade
É CEO e cofundador da startup PM3. Com passagem por empresas como Nubank, Easy Taxi, VivaReal, Seek e Intuit, tem mais de dez anos de experiência com gestão de produtos em empresas de rápido crescimento. Em 2021, foi convidado para o programa Google For Startups Accelerator. Formado em Ciência da Computação pelo Centro Universitário do Estado do Pará, participou do HBX Core, programa de negócios da Harvard Business School que engloba Business Analytics, Economics for Managers e Financial Accouting, e ainda, cursou a graduação de Ciência da Computação em Western Michigan University.

Compartilhar:

Antes de falar sobre as diferenças entre o mindset de entrega e o mindset de resultado, e o impacto deles nos negócios, vou compartilhar uma história. Eu tinha um champanhe na geladeira da empresa pronto para estourar. O motivo? Estava convicto de que a minha entrega era perfeita. Em resumo, queria incluir na experiência dos usuários de um site de imóveis uma busca por mapas.

Na minha cabeça, as pessoas iriam amar. O pessoal na área de tecnologia adorava mapas, e eu também. De última hora, decidimos testar antes. Reservamos duas salas de experimentação e apresentamos diversos sites de busca de imóveis com mapas, e o nosso no meio. Foi uma surpresa, porque praticamente 15 das 15 pessoas entrevistadas não sabiam mexer no mapa. Elas queriam sair dali e ir para a lista convencional.

A gente iria criar um negócio que ninguém queria e ainda deixaria as pessoas confusas. A maioria do nosso público-alvo era renda baixa ou média, ou pessoas de idade avançada, sem o hábito de usar o mapa. Deixei o champanhe para outro momento. Em compensação, evitamos um impacto negativo para o negócio e não mandamos o usuário para o concorrente.

Achar que precisa entregar uma funcionalidade, algo novo, sem questionar é uma situação comum para o desenvolvedor de software e o gerente de produto. Alguns chefes dizem: “não me interessa o resultado, quero que você entregue funcionalidades novas”. Nessa hora muitas equipes de produtos ficam acuadas e trabalham dessa maneira, procurando somente entregar algo. E garanto que é menos eficiente.

Porém, existe outra cultura, mais saudável, que é a do mindset de resultado, ou seja, ser mais orientado pelo resultado — olha para os números, e como eles vão impactar o negócio. É como uma cultura de produto realmente deveria ser.

## Cultivando resultados

Para você conseguir[ entregar o resultado](https://www.revistahsm.com.br/post/de-olho-nos-resultados), muitas vezes, precisa entregar funcionalidades ou pequenas coisas. Elas provavelmente vão dar errado, mas servirão para você perceber o que pode dar errado e conseguir dar um passo para trás e seguir outro caminho.

Muitas empresas não têm essa cultura de médio prazo. Elas querem que você entregue o tempo inteiro, sem nem pensar se alguém vai usar. Isso é um desperdício de desenvolvimento muito grande.

A expressão “paradoxo de Abilene” cai bem aqui. É uma situação em que alguém fala em desenvolver uma funcionalidade, sem nenhum fator racional nisso, e todo mundo concorda em fazer — mesmo estando ciente de que ninguém vai usar. Mas a cultura da empresa é tão voltada a entregar qualquer coisa, sem pensar no resultado, que a equipe diz “beleza, vamos fazer”. Esse é o grande problema.

Você precisa entregar resultados, tanto para o usuário, quanto para o negócio. Não é entregar por entregar.

Gosto muito de pensar o “output driven” versus o “outcome driven”. O output é a entrega das coisas. O outcome é qual a sensação, o que alcancei, ou seja, o resultado. Claro que muitas empresas empregam o conceito de pensar coisas para o usuário, para o cliente. Se der para fazer algo voltado ao cliente, e que seja o melhor para o negócio, é o melhor dos mundos. Mas nem sempre é possível.

Imagine que você tem um cliente muito grande e vai fazer algo apenas para atender à demanda dele. Você vai alocar recursos da sua empresa para fazer uma coisa customizada. Se você pensar em escala, não faz diferença atender um cliente aqui, outro ali. É preciso atender a maioria dos clientes. Obviamente, é importante definir os objetivos e quais metas você quer atingir.

Vamos dizer que deu super certo o que você desenvolveu. Mas você vai conseguir dar suporte para isso? Ou vai virar um caos e os usuários vão ficar chateados, uma vez que o negócio não foi para frente?

## Usuários e novas funcionalidades

Em empresas maiores, você às vezes acaba sendo muito influenciado pelo seu contexto, como no meu exemplo do mapa. Estava tão imerso numa bolha que me esqueci de olhar para o lado, para o meu usuário e ver que ele não era eu; e sim, outra pessoa.

Você precisa se colocar no lugar do seu usuário, fazer um teste que seja rápido, bom e barato, e ver como ele usa para você aprender de fato.

A regrinha de bolso que uso, e sei que ajudaria muito as pessoas na hora de pensar e desenvolver uma nova funcionalidade: __(1)__ se isso está dentro da visão do produto e da empresa; __(2)__ se faz sentido hoje, e se fará sentido daqui cinco anos, ou é só para o curto prazo — e tudo bem se for o caso, desde que isso seja consciente; __(3)__ também pensar se isso beneficia a todos usuários, ou quase todos, pelos menos.

Por fim, para que tudo isso se encaixe na sua realidade, vai a minha dica. Se você tem 200 mil clientes, não faz sentido fazer uma coisa que apenas um cliente quer. É melhor priorizar algo que traga impacto para a maior quantidade de clientes, para trazer mais resultado para seu negócio.

Entretanto, existem contextos diferentes. Você trabalha num modelo de enterprise? Então, provavelmente ponderar o pedido do cliente pode fazer sentido já que perdê-lo pode custar milhões na sua empresa. Melhor ainda se conseguir criar algo que poderá ser reutilizado por outros clientes.

Conheço uma empresa no modelo enterprise que foi inteligente nesse sentido. Os clientes pediam muitas coisas e a empresa começou a cobrar R$ 100 mil para cada customização. Alguns pediam algo que já estava feito e eles cobravam o valor adicionalmente como se fossem fazer do zero enquanto, na verdade, iriam apenas habilitar a funcionalidade para o cliente. Eles conseguiram escalar produtos dessa maneira e, ainda por cima, aumentar a receita total da empresa.

O fio da meada é ter claro que tipo de produto e cliente a empresa tem. E a partir daí, desenvolver sua estratégia. Isso é ter mindset de entrega e mindset de resultado.

*Gosto do artigo do Marcell Almeida? Saiba mais sobre mindset de resultado assinando gratuitamente as [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) na sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Inovação
De 'fofoca positiva' à batom inteligente: SXSW 2025 revela tendências globais que esbarram na realidade brasileira - enquanto 59% rejeitam fofocas no trabalho, 70% seguem creators e 37% exigem flexibilidade para permanecer em empregos. Inovar será traduzir, não copiar

Ligia Mello

6 min de leitura
Inovação
O impacto de seu trabalho vai além da pesquisa fundamental. Oliveira já fundou duas startups de biotecnologia que utilizam a tecnologia de organoides para desenvolvimento de medicamentos, colocando o Brasil no mapa da inovação neurotecnológica global.

Marcel Nobre

5 min de leitura
Empreendedorismo
SXSW 2025 começou sem IA, mas com uma mensagem poderosa: no futuro, a conexão humana será tão essencial quanto a tecnologia

Marcone Siqueira

4 min de leitura
ESG
Precisamos, quando se celebra o Dia Internacional das Mulheres, falar sobre organizações e lideranças feministas

Marcelo Santos

4 min de leitura
Inovação
O evento de inovação mais esperado do ano já empolga os arredores com tendências que moldarão o futuro dos negócios e da sociedade. Confira as apostas de Camilo Barros, CRO da B.Partners, para as principais movimentações do evento.

Camilo Barros

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial não está substituindo líderes – está redefinindo o que os torna indispensáveis. Habilidades técnicas já não bastam; o futuro pertence a quem sabe integrar estratégia, inovação e humanização. Você está preparado para essa revolução?

Marcelo Murilo

8 min de leitura
ESG
Eficiência, inovação e equilíbrio regulatório serão determinantes para a sustentabilidade e expansão da saúde suplementar no Brasil em 2025.

Paulo Bittencourt

5 min de leitura
Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura