Tecnologia e inovação

Não caia nos mitos sobre o fim dos cookies

Cinco mentiras que a indústria conta sobre o término do cookies para sempre. De acordo com o Google, após a medida haverá uma queda de até 66% da receita de editores de mídia
Santi Darmandrail é COO da Retargetly, empresa de dados e tecnologia na América Latina e parte da Epsilon, uma empresa global de tecnologia de publicidade e marketing.

Compartilhar:

O fim dos cookies ainda é uma questão nebulosa para muitas pessoas. Talvez, o “tecniquês” que a medida carrega, distancie os gestores de marketing e publishers de procurarem o entendimento sobre seu verdadeiro impacto. Ou ainda, pode ser que a prorrogação de encerrar o suporte aos dispositivos, que já aconteceu duas vezes, tenha feito com que o assunto perdesse a relevância. Independentemente disso, o fato é: a ferramenta vai acabar, e isso precisa ser levado a sério.

Os cookies são utilizados para armazenar dados de navegação dos usuários online. Eles podem ser primários, quando usados por um domínio dentro do seu próprio site ou de terceiros, que são criados para captar informações de outras páginas. Por meio dessas ferramentas, é possível personalizar a jornada de cada indivíduo, oferecendo produtos e conteúdos que possam lhe interessar no momento da compra.

Desde o surgimento desses dispositivos, na década de 90, parte da população é receosa sobre até que ponto eles podem infringir a privacidade dos usuários. Esse foi um dos motivos que levou outros navegadores, como Safari e Firefox, a cancelarem suas operações com os cookies de terceiros, deixando apenas o Google, que [detém a maioria dos usuários](https://infogram.com/browser-market-share-2023-1hdw2jpwjpdyj2l), segundo dados da Atlas VPN, com a utilização da ferramenta.

Porém, acabar com os cookies não é tarefa simples. Se fosse, o Google não teria adiado duas vezes o seu término. Esses dispositivos são uma peça fundamental para o funcionamento da internet, e o seu fim representa uma mudança brusca em diversas áreas que conhecemos. Por isso, é preciso ficar atento aos discursos despreocupados sobre a medida, para que sua empresa não caia nos mitos do fim dos cookies.

Abaixo, compartilho cinco mitos sobre o fim dos cookies, junto com os motivos pelos quais esses discursos não podem ser levados ao pé da letra e, muito menos, utilizados como desculpa para continuar imóvel perante às mudanças que ocorrerão.

__1º mito: “Está tudo bem” com o fim das operações com os cookies.__ Como mencionei acima, a ferramenta é de suma importância para o funcionamento da internet. Até o momento, não existe uma alternativa que desempenhe a mesma função e com a mesma eficiência. Por isso, é fato que haverá um choque no mercado quando a medida ocorrer. Lucros serão menores, estratégias precisarão ser revistas e empresas podem acabar falindo. Portanto, não será algo simples.

__2º mito: Construir uma base de dados próprios (first-party data) é a solução.__ Claro que é importante para uma marca coletar essas informações, mas a grande questão é: como utilizar esses dados? Essa base pode ser muito útil em alguns casos, como, por exemplo, no disparo de e-mails. Porém, no momento de tentar uma ação mais complexa, como direcionar um anúncio em um site específico, existe uma barreira, pois pode ser que os materiais disponíveis não sejam suficientes. Não há como afirmar que todos os dados são iguais, porque não são.

__3º mito: O melhor a se fazer é apostar em contextual targeting (segmentação contextualizada).__ Nada mais é do que inserir anúncios dentro de um determinado contexto. Por exemplo, se um vendedor está oferecendo uma chuteira, o melhor a ser feito é colocar uma propaganda do produto dentro de um site ou matéria que fale sobre futebol.

Porém, o problema dessa estratégia é não levar em conta que um indivíduo pode estar lendo um artigo esportivo, mas sem qualquer intenção de fazer compras, dependendo do horário ou local em que ele esteja. Além disso, com o fim dos cookies, a frequência com que os anúncios são exibidos será reduzida, pois o registro de visualizações deixará de existir.

Ou seja, não será possível medir com precisão o quanto aquela publicidade se converteu em vendas. Por isso, a meu ver, o contextual targeting é a melhor solução somente se não houver outra alternativa. É uma opção também em que se paga menos pelo espaço publicitário, em comparação à segmentação por público-alvo, justamente por não possuir um modo certeiro de avaliar a sua efetividade.

__4º mito: “Soluções 100% sem cookies”.__ Vamos supor que uma pessoa opte pela compra de um carro elétrico, por não utilizar combustíveis poluentes gerados da queima de óleo. Embora seja uma escolha ambientalmente positiva, ela não está isenta dos combustíveis fósseis, afinal, o próprio pneu do veículo é feito de petróleo. O mesmo ocorre no caso dos cookies. Pode ser que determinada tecnologia não utilize a ferramenta, mas os fornecedores dela sim. Portanto, os produtos não estarão totalmente livres dos dispositivos de retenção de dados.

__5º mito: Lucro.__ De acordo com o próprio Google, haverá uma queda de até 66% da receita de editores de mídia que direcionam seus conteúdos para usuários de navegadores que não permitem cookies de terceiros. Ou seja, o discurso de que não haverá uma diferença significativa no faturamento das empresas está muito equivocado.

Portanto, quem diz que o fim dos cookies será irrelevante, que é possível fazer a mesma coisa de hoje sem qualquer perda de desempenho ou alcance, ou está sendo muito otimista, ou talvez inocente, ou até mal intencionado. A verdade é que, independentemente do quão sério as empresas estão lidando com a medida, ela está cada vez mais próxima, e só quem realmente buscar entender os principais efeitos e se preparar para contornar as situações adversas conseguirá se manter competitivo nesse novo cenário.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura