Empreendedorismo

Não deixe seu concorrente trazer o longo para o curto prazo

Cada vez mais, empresas se intitulam customer centric, mas trago uma surpresa: quase nenhuma, de fato, é
Tem 27 anos de experiência nas áreas de marketing, insights e trade marketing, tanto em multinacionais, como Gillette, Colgate-Palmolive e Perdigão, quanto em startups, como Zaitt e In Loco. Administrador de empresas pela PUC-Rio, fez cursos em Harvard-EUA e ministrou palestras em eventos de varejo, universidades e pesquisa de mercado. É founder e diretor executivo da [Cübik Consulting](https://www.cubik.consulting/).

Compartilhar:

Vou iniciar essa coluna com uma situação hipotética, mas imagino que muitos devem reconhecer. Quem nunca esteve em uma apresentação de resultados ou revisão de estratégia quando alguém, depois de fazer várias sinapses e ter uma visão, traz uma ideia que parece ser incrível e… um silêncio domina a sala?

“Será que amaram?”, você se pergunta. “Será que entenderam?”

Então, outro alguém – mas de um cargo muito mais alto – quebra o silêncio com um leve sorriso, eleva o ombro e a mão direita, a palma para cima, e diz: “olha, isso é coisa mais para longo prazo, precisamos de algo para já”. Apresento-lhes, então, o longo prazo: seu concorrente. Não entendeu? Vou explicar.

Urgência: o longo virou curto prazo

Muitas empresas trabalham de cabeça baixa, concentradas em suas metas trimestrais e anuais, em seus KPIs, em suas verdades. São essas mesmas companhias que dizem ser customer centered, visando a satisfação geral dos clientes. Porém, são também, muitas vezes, “umbigo centered”, de olho no curto prazo, na transação, na métrica pós-ação, no que o concorrente faz, derrubando a inovação e descartando ou postergando projetos de grande impacto por serem “[coisa de longo prazo](https://www.revistahsm.com.br/post/as-metas-de-longo-prazo-e-os-indicadores)”.

Quando levantam a cabeça, ao invés de olhar para o cliente, olham para o concorrente e colocam nele sua baliza de quão longe devem (ou precisam) ir. Eis que, “do nada”, a concorrência faz um movimento (inesperado) surpreendente – exatamente por estar olhando para frente, para fora, para o mercado – e tudo o que sua empresa entendeu como “coisa de longo prazo” se torna, repentinamente, urgência. 

Vamos voltar ao exemplo inicial?

Depois que a ideia de seu colega é descartada, uma foto chega no aplicativo de mensagens instantâneas do diretor de marketing, tirada por um repositor de estoque de uma determinada loja, que foi inicialmente enviada ao seu supervisor, que enviou ao gerente de merchandising, que enviou ao diretor de vendas, que enviou aos líderes da companhia, com a imagem de um novo e incrível produto do seu principal concorrente.

Pânico! Medo! “Ferrou”, você pensa. A reunião é cancelada, outras são marcadas para o mesmo dia, comitês são montados, horas são agendadas com a presidência avaliando cenários de Excel e soluções de PowerPoint. Enquanto isso, no mundo real, o concorrente já conquistou seu espaço. E você ou aquele colega seu, o da ideia “de longo prazo”, pensam no impacto que esse movimento dará na próxima leitura Nielsen (ou a métrica que for).

Ou seja, [sua empresa acelera os planos](https://www.revistahsm.com.br/post/um-modelo-para-avaliar-a-agilidade-organizacional-da-sua-empresa) e corre com o lançamento que estava previsto para três ou cinco anos adiante no pipeline de inovação. Portanto, um movimento ágil, inteligente e inovador feito hoje pelo seu concorrente fez que o *seu longo prazo chegasse ao curto prazo*, pegando sua companhia despreparada e tendo de correr não pelo mercado ou cliente, mas por conta do concorrente.

## A mudança de foco

Curiosamente, muitas dessas empresas que se intitulam customer centric não sabem o que essa palavra significa, mais uma que se soma a uma lista recheada de termos como exponencial, disruptivo, out of pocket, low hanging fruit, fail fast. Aproveitando, vamos ser claros aqui:

**1. Customer focused (foco no cliente) ou customer centered**

O marketing ou empresas customer focused são aquelas que olham os clientes e tentam atender suas expectativas, coletando opiniões e feedbacks para oferecer uma experiência positiva, prontas para resolver problemas quando surgem. Sua ótica é de doação e serviço (“faremos tudo pensando no cliente”), e uma pergunta constante é: “o que podemos oferecer ao nosso cliente para melhor satisfazê-lo?”.

**2. Customer centric**

Baseado no conceito criado pelo Dr. Peter Fader, professor de marketing de Wharton-EUA, o marketing ou empresas customer centric são aquelas que colocam seus esforços nos melhores clientes, que usam o conceito LTV (lifetime value), que antecipam futuras necessidades ao mapear tendências, jornadas e processos, que respiram analytics e métricas de satisfação, que oferecem experiências não apenas positivas, mas memoráveis.

Também costumam dar maior liberdade de ação aos seus colaboradores para que surpreendam cada cliente de forma inesperada, ainda que dentro dos valores da companhia. Sua ótica é de surpresa e troca (“surpreenderemos e faremos esses clientes se sentirem únicos e, em troca, [teremos sua fidelidade por muito tempo](https://www.revistahsm.com.br/post/assumindo-o-compromisso-com-os-stakeholders)”), e uma pergunta constante é: “o que ganharemos desses clientes ao fazermos algo único para eles?”. 

Podemos ver, portanto, que poucas empresas são customer centric. Contudo, sabemos que, no fundo, muitas também são *belly button centered* (foco no umbigo) ou *competitor focused* (foco no concorrente), infelizmente.

Ficam, portanto, alguns pontos de reflexão:

– Esqueça buzzwords, frases ou nomes de efeito. Foque no negócio.

– Faça o que é importante hoje, antes que a importância vire uma urgência.

– Não mire no seu concorrente. Talvez ele esteja mirando seu cliente (para seu azar).

– Seja o dono do seu tempo. Não seja pressionado pelo concorrente, seja pressionado pelo seu cliente.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura
Empreendedorismo
A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.

Isabela Corrêa

6 min de leitura
Liderança
Construir e consolidar um posicionamento executivo é essencial para liderar com clareza, alinhar valores e princípios à gestão e impulsionar o desenvolvimento de carreira. Um posicionamento bem definido orienta decisões, fortalece relações profissionais e contribui para um ambiente de trabalho mais ético, produtivo e sustentável.

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Empreendedorismo
Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.

Anna Luísa Beserra

5 min de leitura
ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura
ESG
Atualmente, 2,5% dos colaboradores da Pernambucanas se autodeclaram pessoas trans e 100% dos colaboradores trans da varejista disseram que se sentem seguros para ser quem são dentro da empresa.

Nivaldo Tomasio

5 min de leitura
Marketing
A integração entre indicadores de trade marketing e inteligência competitiva está redefinindo o jogo corporativo. Monitorar a execução no PDV, antecipar tendências e reagir com agilidade às mudanças do mercado não são mais diferenciais, mas exigências para a competitividade. Utilizar dados como fonte de insights estratégicos é o caminho para decisões mais rápidas, investimentos otimizados e resultados superiores.

Arthur Fabris

4 min de leitura
Liderança
O novo capítulo do mundo corporativo já começou a ser escrito. Sustentabilidade, transformação digital humanizada e agilidade diante das incertezas globais são os pilares que moldarão líderes visionários e organizações resilientes. Não basta acompanhar as mudanças; é preciso liderá-las com ousadia, responsabilidade e impacto positivo.

Luiz Soria

3 min de leitura