Assunto pessoal

Não é quem, é como

Esqueça os currículos. Sem confiança entre os membros da equipe, os talentos não brilham
É sócio da RIA, empresa especializada em construir segurança psicológica em equipes. Criador do PlayGrounded, a Ginástica do Humor, é jornalista (Folha de S.Paulo, Veja, Superinteressante e Vida Simples), foi sócio da consultoria Origami e consultor em branding. Ator e improvisador, integra o grupo Jogo da Cena.

Compartilhar:

Imagine-se em uma reunião para decidir sobre um projeto inadiável.
A certa altura, o dono do projeto revela a estratégia e a pulga morde sua orelha: você já tentou aquele caminho em um projeto semelhante. E a ideia fracassou, por um detalhe difícil de explicar rapidamente, mas que pôs tudo a perder.
Você olha em volta. Ninguém piscou. Todos parecem interessados. As lideranças parecem aliviadas por haver um plano, quando o prazo se esgotava.
Com medo de não saber explicar o problema ou parecer pessimista, você fica quieto. A proposta é aprovada.

Na saída, você conversa com uma colega que também estava na reunião. Mal começa a falar, ela se adianta e aponta a mesma falha. “Não vai dar certo. Mas eu é que não ia levantar a questão. Estava todo mundo concordando!”
O papo esquenta, outro participante da reunião cola na conversa. “Vocês também viram o erro? Vai dar muito errado. Mas, se nem o Luiz do financeiro falou nada, eu vou falar? Não vou ser o estraga-prazeres.”

Resumo: muita gente viu um problema sério num projeto relevante e não disse nada.
Seguem três perguntas, para reflexão.

1. O que vai acontecer com o projeto? Parece óbvio: a ideia vai fracassar.
2. É do interesse da liderança que a equipe deixe de apontar problemas que impactam no resultado? Obviamente, não.
3. E, por fim: você já vivenciou uma situação assim?

Apresento essa história com frequência em palestras. Nunca encontrei quem não tivesse passado por algo parecido.
Pior: muita gente nem vê aí um problema. Reuniões são assim. Não são espaços seguros para dizer o que pensamos. Há quem estenda essa regra a todos os ambientes profissionais.

Imagine agora os talentos a que o Google tem acesso: os melhores do mundo, né? Ainda assim, a empresa notou que alguns times eram muito mais eficientes que outros e decidiu pesquisar por quê. Como eram do Google, fizeram o que sabem melhor: levantaram dados sobre 180 equipes internas.

A pesquisa, publicada em 2015, mudou o entendimento sobre equipes de alta performance. Porque a característica mais correlacionada com alta eficiência foi a segurança psicológica. Ou seja, os times mais eficientes eram aqueles cujos membros se sentiam à vontade para correr riscos uns diante dos outros, sem medo de serem julgados ou criticados.

Nas melhores equipes, as pessoas levantavam a mão nas reuniões, para dizer que não haviam entendido algo, para fazer sugestões que acharam pertinentes, para cobrar um compromisso descumprido ou, vejam só, para apontar um problema num projeto.
Não é quem faz parte da equipe, mas qual o grau de confiança entre seus membros. E esse atributo é fortemente influenciado pela liderança.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura
Liderança
O problema está na literatura comercial rasa, nos wannabe influenciadores de LinkedIn, nos só cursos de final de semana e até nos MBAs. Mas, sobretudo, o problema está em como buscamos aprender sobre a liderança e colocá-la em prática.

Marcelo Santos

8 min de leitura
ESG
Inclua uma nova métrica no seu dashboard: bem-estar. Porque nenhum KPI de entrega importa se o motorista (você) está com o tanque vazio

Lilian Cruz

4 min de leitura
ESG
Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.

Gisele Schafhauser

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O futuro da liderança em tempos de IA vai além da tecnologia. Exige preservar o que nos torna humanos em um mundo cada vez mais automatizado.

Manoel Pimentel

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura
Inovação
Enquanto você lê mais um relatório de tendências, seus concorrentes estão errando rápido, abolindo burocracias e contratando por habilidades. Não é só questão de currículos. Essa é a nova guerra pela inovação.

Alexandre Waclawovsky

8 min de leitura