Vale Ocidental

Nas sombras de Elizabeth Holmes

O empreendedorismo feminino é quem mais sofre com a fraude da Theranos
__Ellen Kiss__ é empreendedora e consultora de inovação especializada em design thinking e transformação digital, com larga experiência no setor financeiro. Em agosto de 2022. após um período sabático, assumiu o posto de diretora do centro de excelência em design do Nubank.

Compartilhar:

Um dos assuntos mais comentados nos últimos meses, no Vale do Silício, foi o julgamento de Elizabeth Holmes, fundadora da startup Theranos. Para quem não conhece, é o exemplo perfeito de um mantra comum por aqui: “Fake it until you make it” – finja até que você realize. A Theranos foi fundada em 2003, em Palo Alto, com a promessa de revolucionar a indústria de saúde. Com poucas gotas de sangue extraídas do dedo de uma pessoa, seria possível fazer o diagnóstico de diversas doenças, tornando o processo mais barato, democrático e acessível. Holmes fundou a Theranos aos 19 anos e rapidamente passou a ser chamada de “a nova Steve Jobs”, ilustrando as capas de diversas revistas de negócio e tornando-se a bilionária mais jovem da história. A empresa levantou US$ 700 milhões de fundos de venture capital e investidores privados e chegou a ser avaliada em US$ 10 bilhões, em seu apogeu, em 2014.

No entanto, uma investigação conduzida pelo *The Wall Street Journal* em 2018 levantou questões sobre a veracidade da tecnologia criada pela Theranos e descortinou uma série de mentiras, desde as condições de realização do diagnóstico até os próprios resultados, muitos deles com informações incorretas. Elizabeth Holmes passou de empreendedora visionária, disposta a mudar o mundo, a uma fraude retumbante. Sua história foi contada em livro, documentário, podcast e até minissérie. Ela está sendo julgada criminalmente e pode pegar 20 anos de prisão.

A consequência mais óbvia do caso é o impacto financeiro para investidores e empresas de venture capital. No entanto, existe um segundo dano talvez maior e de mais longa superação, em especial para as “female founders”, as mulheres fundadoras: o legado negativo que Holmes deixa para o empreendedorismo feminino. O ecossistema de startups em tecnologia, dominado por homens, já apresentava grandes desafios para as mulheres, mas agora elas enfrentam um elemento adicional: o aprofundamento do preconceito, com as comparações e associações com Elizabeth Holmes. A geração atual de empreendedoras mulheres, principalmente nas áreas de saúde, ciência e biotecnologia, está operando nas sombras dessa fraude.

Em reuniões com investidores, muitas delas têm sido questionadas sobre a diferença entre suas empresas e a Theranos, mesmo nos casos em que a única semelhança real seja o fato de serem mulheres operando em ciência e tecnologia. Uma fundadora chegou até a ser orientada por seu conselheiro a mudar a cor de seus cabelos para evitar a associação.

Pesquisadores de escolas de negócios como London e Harvard Business School descobriram, em conversas com investidores, que as fundadoras costumam responder ao que os pesquisadores chamam de questões de “prevenção”, que são enquadradas negativamente e destinadas a evitar perdas. Mas os fundadores homens recebem mais perguntas de “promoção” sobre as possibilidades de uma startup, o que permite que eles se concentrem em suas esperanças e ideais. As perguntas relacionadas a Elizabeth Holmes se enquadram perfeitamente no modelo da prevenção.

É triste perceber como esse caso e sua grande repercussão trouxeram novamente a sombra para uma luta que estava começando a enxergar a luz. Temos um longo caminho pela frente, mulherada.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Os sete desafios das equipes inclusivas

Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo – mesmo acreditando que estão incluindo.

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
26 de dezembro de 2025
Reuniões não são sobre presença, mas sobre valor: preparo, escuta ativa e colaboração inteligente transformam encontros em espaços de decisão e reconhecimento profissional.

Jacque Resch - Sócia-diretora da RESCH RH

3 minutos min de leitura
Carreira
HSM Management faz cinco pedidos natalinos em nome dos gestores das empresas brasileiras, considerando o que é essencial e o que é tendência

Adriana Salles Gomes é cofundadora de HSM Management.

3 min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde
24 de dezembro de 2025
Se sua agenda lotada é motivo de orgulho, cuidado: ela pode ser sinal de falta de estratégia. Em 2026, os CEOs que ousarem desacelerar serão os únicos capazes de enxergar além do ruído.

Bruno Padredi - CEO da B2B Match

2 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
23 de dezembro de 2025
Marcela Zaidem, especialista em cultura nas empresas, aponta cinco dicas para empreendedores que querem reduzir turnover e garantir equipes mais qualificadas

Marcela Zaidem, Fundadora da Cultura na Prática

5 minutos min de leitura
Uncategorized, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
22 de dezembro de 2025
Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo - mesmo acreditando que estão incluindo.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

4 minutos min de leitura
Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança