No princípio de minha carreira, eu imaginava que desenvolver inovações era um caminho para poucos e algo semelhante ao jogo de xadrez: uma jornada individual, com muito raciocínio e repleta de estratégias para ganhar o jogo. Depois de alguns anos trabalhando com o tema, minha percepção se alterou substancialmente. Hoje vejo a inovação realmente como um jogo de estratégia, com características bem específicas: trata-se de um jogo cooperativo entre vários indivíduos, com muita energia e suor envolvidos. Ou seja, inovação é um esporte muito mais próximo do futebol que do xadrez.
Como todo esporte de contato físico, ocorrem partidas truncadas, com jogadas ríspidas e conflitos reais que emergem. Nessas ocasiões, não há tecnologia ou abordagem inovadora que resolva. A empatia no entendimento das partes, suas posições e as adequadas abordagens de negociação podem ser os elementos definidores do sucesso ou fracasso de uma iniciativa ou de um projeto.
Pouco tempo atrás tive o privilégio de passar uma manhã caminhando pelas ruas de São Paulo na companhia de um dos mais respeitados pesquisadores e especialistas em negociação, o professor William Ury, de Harvard. Bill ganhou mais holofotes no Brasil recentemente por sua bem-sucedida mediação na disputa entre o empresário Abilio Diniz e seus antigos sócios franceses pelo controle do Grupo Pão de Açúcar, mas tem sido parte fundamental em conflitos e guerras ao redor do mundo há bastante tempo.
Entre vários pontos interessantes levantados por ele, chamou-me a atenção o destaque que dá à escuta empática; é o ponto de partida das negociações em qualquer tema, segundo ele. (Bill diz: “Ouvir é sentir por dentro”.) Além disso, ele enfatizou a importância de “ir para a varanda”, ou distanciar-se do problema, para conseguir enxergar o “terceiro lado” de toda situação, apreciando os diferentes pontos de vista de conflito, encorajando a cooperação e soluções que atendam às necessidades e minimizem as perdas, pois não há dúvida de que elas ocorrerão.
Quem trabalha com inovação frequentemente depara com gente jogando duro contra a inovação, o que pode ser atribuído ao temor das perdas potenciais de indivíduos e grupos; todos querem manter o status quo, afinal.
O que entendi é que os mais talentosos inovadores sabem lidar bem com isso; eles são capazes de entender, negociar e cuidar dos interesses e necessidades de todas as partes, ao mesmo tempo que conseguem atender às próprias necessidades e anseios de transformação.
É assim que se cria valor compartilhado; é assim que se garantem acordos e relacionamentos eficazes e sustentáveis.
Não há retranca que resista à abordagem humana da inovação.