Marketing e vendas

Nem toda decisão de compra é feita no PDV

Identificar quando, onde e como as marcas são definidas na jornada de compras e ativar corretamente pode ser decisivo.
Tem 27 anos de experiência nas áreas de marketing, insights e trade marketing, tanto em multinacionais, como Gillette, Colgate-Palmolive e Perdigão, quanto em startups, como Zaitt e In Loco. Administrador de empresas pela PUC-Rio, fez cursos em Harvard-EUA e ministrou palestras em eventos de varejo, universidades e pesquisa de mercado. É founder e diretor executivo da [Cübik Consulting](https://www.cubik.consulting/).

Compartilhar:

Embora seja o ponto de vendas (PDV), físico ou online, o local em que a compra acontece, não é nele, necessariamente, que fazemos a escolha da marca dos produtos adquiridos.

Como em muitas categorias a oferta de marcas pode passar de uma centena, é comum o consumidor chegar ao PDV já com suas preferências na cabeça. Bom para as marcas que já conquistaram espaço na mente do consumidor. E para aquelas que ainda não chegaram lá, trago algumas reflexões que podem ajudar. 

**Quanto mais forte e exclusiva for a decisão por uma marca em uma determinada categoria antes do consumidor entrar no ponto de venda, mais transacional será o papel do PDV naquela compra**

Há quem diga que o comprador nem olhe para os materiais promocionais. O que me parece evidente, considerando que, para muitas categorias, a decisão de compra já foi tomada antes mesmo de entrar no PDV. Como fazer então para influenciar essa decisão? A seguir, sugiro quatro questionamentos e trago respostas fictícias (ainda que plausíveis) que ilustram ações possíveis:

1. **Quais locais são comumente visitados pelo meu target e que têm fácil associação com a minha categoria?** Barras de cereal com academias de ginástica; marca de chocolates com shoppings centers no mês das crianças

2. **Em quais locais eu posso surpreender meu target de forma relevante ainda que ele não tenha relação natural com a minha categoria?** Um banco de investimentos descobre que muitas pessoas conversam ou buscam online por assuntos relacionados a investimentos pessoais em cafeterias de bairros comerciais; um varejista pet shop identifica que é em parques públicos onde muitas famílias decidem pela compra de um pet dada a presença de outras famílias com seus pets.

3. **Quais os influenciadores da decisão de compra da minha categoria?** Uma empresa descobre que um dos maiores influenciadores da decisão de quais marcas comprar nas categorias de limpeza do lar são as diaristas; uma marca de eletrodomésticos identifica que, para um determinado grupo, a decisão pela compra de fornos é influenciada pelas marcas utilizadas pelos chefes de cozinha em programas de TV.

4. **Quais momentos podem gerar gatilhos pela categoria?** Um fabricante de produtos de higiene bucal identifica que sorveterias são locais onde muitos clientes percebem ter sensibilidade nos dentes; uma startup identifica que muitos têm vontade de comer um chocolate ou pacotinho de salgadinhos quando estão no trânsito, dentro de taxis.

É inegável que este processo leva tempo e dinheiro mas, como veremos a seguir com este exemplo vindo da China, com pouco recurso e bastante criatividade, é possível fazer um bom trabalho de ativação de marca.

A marca, no caso, um app de compras coletivas, queria fazer seu target decidir por comprar óleo de cozinha (categoria commodity) em seu aplicativo e não no dos concorrentes. Para isso, identificou momentos-chave na jornada do seu potencial consumidor, apresentando sua oferta de forma surpreendente. A seguir, faço o detalhamento do case, mas recomendo fortemente que [clique aqui](https://youtu.be/LYPsdpxLhEA) e assista ao vídeo que resume a campanha.

– **Marca**: Pinduoduo, plataforma online de compras coletivas com 350 milhões de clientes únicos mensais e mais de 10 bilhões de pedidos ano.

– **Desafio**: impulsionar as compras de óleo de cozinha com zero verba de mídia.

– **Insight**: o chinês, consumidor #1 de óleo do mundo, se depara com cocção de fritura em vários momentos do seu dia, momento no qual pode ser ouvido o som do chiado.

– **Solução**: lançamento de um app com detecção de som. Toda vez que o app identifica o chiado da fritura, vindo da rua, da TV ou de casa, ele dispara um cupom de desconto para a compra da marca de óleo sugerida pelo app.  

– **Resultado**: mais de 5.000 compras nas primeiras 2 horas e mais de 6 milhões de conversas sobre o assunto.

Por mais que nos PDVs tomemos muitas decisões, a mais importante de todas – qual marca comprar ou quais poucas marcas considerar – geralmente não é feita dentro do PDV. Depender dessa decisão pela sua marca quando ela não é forte ou desconhecida pode ser caríssimo e ineficaz se a estratégia for apenas focada no ponto de venda. Uma oportunidade, portanto, é fazer que sua marca seja conhecida, considerada e escolhida antes que se vá ao PDV, o que só será possível se sua empresa olhar além do óbvio para os hábitos de consumo de seu público-alvo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura