Estratégia e Execução

Neuroliderança e os indicadores neurofisiológicos

O que as atividades elétricas do cérebro podem dizer sobre o seu estilo de liderança? Eu fui investigar

Compartilhar:

Preocupada com seu futuro profissional, Cecília convocou uma reu­nião com seu diretor e com sua gerente, recém-promovida. Antes Cecília e a nova líder eram colegas de área e atendiam os clientes da agência, cada qual em seu segmento. Assustada com aquele convite formal e repentino, a nova líder precisou se preparar para uma reunião que não seria fácil: Cecília estava visivelmente frustrada com a promoção da colega, especialmente por ter mais tempo de casa e por não se sentir reconhecida.

Apesar de parecer uma situação comum em empresas, essa história não é real. A líder em questão era um papel representado por mim que, a convite da Nortus, fui experimentar o Neurotraining Lab, treinamento de liderança que utiliza como base conhecimentos neurocientíficos. 

Uma semana antes do treinamento, recebi um case sobre o cenário da agência, detalhes sobre como se deu a promoção da minha personagem e o histórico de Cecília na empresa. A proposta era que eu me preparasse para uma reunião na qual seriam avaliadas cinco competências: gestão de emoções, gestão de informação, gestão de pessoas, gestão do tempo e gestão de mudanças.

No dia do treinamento a simulação durou 30 minutos e, durante todo o período, eu usava um equipamento de eletroencefalografia (EEG) que registrava as atividades elétricas do meu cérebro. Enquanto eu interagia com os atores na sala, especialistas gravavam e me observavam através de um espelho (eu não os via, apesar de saber que eles estavam ali).

**NEUROLIDERANÇA SEGUNDO O NEUROLEADERSHIP INSTITUTE (NLI)**

“Uma abordagem mais concreta e baseada na ciência para o desenvolvimento de habilidades pessoais que, além de impactar os líderes empresariais, torna também qualquer iniciativa de mudança mais eficaz.” Essa é a definição de neuroliderança utilizada pelo Neuroleadership Institute. Fundado por David e Lisa Rock em 2007, o instituto realiza projetos, treinamentos e eventos em neuroliderança. O maior deles, o NLI Summit, chega a reunir dezenas de milhares de pessoas em Nova York, onde fica a sede do instituto. Além disso, o NLI edita o Neuroleadership Journal, publicação cujo propósito é colaborar com os principais neurocientistas, especialistas em liderança e grandes organizações em todo o mundo para produzir pesquisas inovadoras. Para ter acesso é preciso se tornar membro, opção não disponível para membros individuais. Mas, para quem quiser saber mais, há bastante conteúdo disponível no blog da organização: [https://neuroleadership.com/your-brain-at-work/](http://%E2%80%9CUma%20abordagem%20mais%20concreta%20e%20baseada%20na%20ci%C3%AAncia%20para%20o%20desenvolvimento%20de%20habilidades%20pessoais%20que,%20al%C3%A9m%20de%20impactar%20os%20l%C3%ADderes%20empresariais,%20torna%20tamb%C3%A9m%20qualquer%20iniciativa%20de%20mudan%C3%A7a%20mais%20eficaz.%E2%80%9D%20Essa%20%C3%A9%20a%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20neurolideran%C3%A7a%20utilizada%20pelo%20Neuroleadership%20Institute.%20Fundado%20por%20David%20e%20Lisa%20Rock%20em%202007,%20o%20instituto%20realiza%20projetos,%20treinamentos%20e%20eventos%20em%20neurolideran%C3%A7a.%20O%20maior%20deles,%20o%20NLI%20Summit,%20chega%20a%20reunir%20dezenas%20de%20milhares%20de%20pessoas%20em%20Nova%20York,%20onde%20fica%20a%20sede%20do%20instituto.%20Al%C3%A9m%20disso,%20o%20NLI%20edita%20o%20Neuroleadership%20Journal,%20publica%C3%A7%C3%A3o%20cujo%20prop%C3%B3sito%20%C3%A9%20colaborar%20com%20os%20principais%20neurocientistas,%20especialistas%20em%20lideran%C3%A7a%20e%20grandes%20organiza%C3%A7%C3%B5es%20em%20todo%20o%20mundo%20para%20produzir%20pesquisas%20inovadoras.%20Para%20ter%20acesso%20%C3%A9%20preciso%20se%20tornar%20membro,%20op%C3%A7%C3%A3o%20n%C3%A3o%20dispon%C3%ADvel%20para%20membros%20individuais.%20Mas,%20para%20quem%20quiser%20saber%20mais,%20h%C3%A1%20bastante%20conte%C3%BAdo%20dispon%C3%ADvel%20no%20blog%20da%20organiza%C3%A7%C3%A3o%3A%20https%3A//neuroleadership.com/your-brain-at-work/)

Ao término da simulação, recebi um feedback sobre meu desempenho, mas ainda sem o apoio dos materiais mais aguardados: um relatório que analisa as cinco competências usando como base meus indicadores neurofisiológicos e o vídeo da minha participação, em que é possível acompanhar minuto a minuto a oscilação das atividades elétricas do meu cérebro.

O primeiro indicador monitorado pelo treinamento é a ativação neurológica cognitiva, também chamada de carga de trabalho cognitiva ou excitação, que é a quantidade de informação que temos na memória de trabalho. Esse indicador mostra como armazenamos e processamos as informações de maneira temporária para interagir com o mundo, refletindo a nossa capacidade de processar informações que recebemos no momento. 

Já o segundo indicador avaliado é o da atenção, que mede a nossa capacidade de concentração em um objetivo externo. Isso requer um esforço mental para direcionar o foco a algo ou outra pessoa, e é uma condição importante para a nossa capacidade de capturar informações do ambiente. Esse indicador mede o nível de envolvimento em uma situação: quanto mais envolvido e focado, mais você procura e obtém informações sobre o contexto, e vice-versa. 

A concentração interna é o terceiro e último indicador monitorado pelo treinamento. Trata-se de uma atividade direcionada a estados internos, como pensamentos e estados corporais. Mede o nível de concentração, capacidade de conectar ideias e encontrar coerência interna na situação. 

O relatório também reforça que todos os indicadores são avaliados conjuntamente e que a observação dos especialistas, que ficam atentos a gestos, falas e comportamentos, também refletem na nota final de cada item. Portanto, é na intersecção da objetividade dos indicadores neurofisiológicos com a subjetividade humana observada pelos especialistas que surgem os resultados.

Confesso que já participei de muitos treinamentos de liderança, mas este foi o primeiro em que eu pude efetivamente ver a ciência por trás do meu comportamento. Observar o que acontecia com  minhas atividades elétricas em momentos específicos da reunião me trouxeram uma série de novos insights e me deixaram pensativa sobre alguns aspectos do meu estilo de liderar.

No final das contas, meu desempenho foi satisfatório e o principal ponto de atenção foi na competência gestão do tempo. Meus resultados indicaram que eu não fui precisa em determinar um plano estruturado, que deixaria Cecília mais segura em relação a minha liderança. E é verdade: revendo o vídeo, ela me dá várias pistas e eu deixo passar essas informações. 

Seria possível chegar a essas mesmas conclusões sem que eu estivesse sendo monitorada por um equipamento de eletroencefalografia? Acredito que sim. No entanto, tenho a impressão de que, assim como eu, todo mundo tem um pouquinho de São Tomé dentro de si: é preciso ver pra crer. Eu vi. E acreditei.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
14 de outubro de 2025
Se 90% da decisão de compra acontece antes do primeiro contato, por que seu time ainda espera o cliente bater na porta?

Mari Genovez - CEO da Matchez

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)