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Ninguém volta igual de um sabático

E HSM Management foi investigar: qual a origem do sabático, o que leva as pessoas a optar por ele e como se planejar para maximizar os resultados dessa experiência

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Mergulhar no prazer na Itália, ir a fundo na devoção na Índia, buscar equilíbrio entre o prazer mundano e a transcendência divina na Indonésia. Foi esse o roteiro do sabático de um ano da jornalista norte-americana Elizabeth Gilbert, depois de se sentir confusa e infeliz. Livrou-se de todos os bens materiais, pediu demissão e partiu para sua jornada. Na volta, escreveu o livro Comer, rezar, amar, publicado em 2006, que superou a marca de 10 milhões de cópias vendidas. Quatro anos depois, foi parar no cinema, com Julia Roberts como protagonista. 

Sabático, com o significado de tempo para refletir, é referenciado em todos os livros sagrados, no Alcorão, na Torá, na Bíblia, como a pausa que deve ser dedicada à reflexão. Sua origem está no termo Shabat, do Judaísmo.

Foi em 1880 que a Harvard University criou o conceito de ano sabático para atrair o filósofo Charles Lanman para ser seu professor. Ele teria direito a um ano distante da universidade, com remuneração, a cada seis anos de atuação. Atualmente, não se usa mais o “ano” antes do sabático, pois o período pode ser de três meses a dois anos.

Pelo mundo, há universidades abertas ao sabático de seus catedráticos, com modelos diversos. Na USP, por exemplo, foi criado em 2015 o Programa Ano Sabático do IEA (Instituto de Estudos Avançados). Alguns docentes deixam as funções didáticas e administrativas para desenvolverem pesquisas individuais por 6 a 12 meses.

No mercado corporativo, empresas nos Estados Unidos e na Europa já percebem os benefícios de conceder períodos sabáticos, principalmente para seus executivos de alto escalão. No Brasil, porém, ainda não é algo que ocorra com naturalidade.

**TRABALHO COM PRAZO DE VALIDADE**

“Um executivo de área estratégica contribui por sete anos para a companhia. Depois, sem demanda diferente, ele entra no automático”, avalia Cicero Andrade, da consultoria O Sabático. Isso acaba aflorando uma angústia e um desejo por mudança. Para Andrade, conceder um tempo para o executivo ter uma experiência diferente resgata depois alguém melhor do que antes, o que pode ser até um diferencial competitivo. Andrade acredita que isso se tornará comum no médio prazo.

Depois de 20 anos como executivo de RH em grandes empresas, Andrade fez um sabático em 2012. Planejou e viajou com a então namorada Flávia Tavernari, gestora de uma empresa de 

shopping centers. Ao final, já casados, decidiram se mudar para a Irlanda, ter uma experiência executiva naquele país e, depois, montar lá a empresa que mentora pessoas a fazerem mudanças em suas vidas e a se prepararem para o sabático. Hoje, atendem cerca de 100 clientes do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa, por ano.

**O QUE FAZER NO PERÍODO**

Sabático não é igual a férias; deve-se manter a conexão com o mundo atual. Também não deve acontecer quando se é demitido e nem feito no desespero somente para se livrar da dor que o trabalho está causando. “Sabático não é o fim, mas o meio; é válido quando há um direcionamento do antes, do durante e do depois”, alega Andrade.

O que as pessoas buscam é uma experiência de vida transformadora, encontrar a si mesmas e, então, ser melhores na vida pessoal e profissional. Um período sabático pode servir ainda para mudar o mindset, para oxigenar ideias, para se especializar ou requalificar, adquirir novas competências. “Olhar de fora da sua zona de conforto aumenta a clareza em relação à direção que a pessoa quer dar à sua vida profissional e pessoal”, afirma o fundador de O Sabático.

O planejamento deve ser feito com no mínimo seis meses de antecedência, para se ter clareza nas ideias, em relação ao que buscar, ao que se pretende depois na carreira, se vai sozinho ou com a família, o que fará com seus bens se for se ausentar por um longo período. E tem ainda o planejamento financeiro, inclusive com reserva ao final até a recolocação no mercado.

**NO CAMINHO DA RAZÃO AO CORAÇÃO**

A curiosidade por sabáticos começou há cerca de 30 anos e, em 1999, Herbert Steinberg, fundador da MESA Corporate Governance, planejou o seu, em meio a uma crise existencial. Com sua experiência como executivo de grandes empresas e, na época, sócio da consultoria de outplacement DBM, por meio da qual dava aconselhamento a presidentes de companhias, ele estava incomodado ao perceber que poucas pessoas inteligentes e competentes tinham um projeto pessoal. 

“Eu era workaholic. Fui à DBM negociar. Disse: ‘Quero emprestado o tempo que é meu’. Acharam esquisito, mas entraram na minha”, relembra. Também reuniu os filhos e a esposa em um jantar para comunicar a decisão; todos acharam estranho.

Sabático – um tempo para crescer é o título do livro que nasceu após Steinberg percorrer, durante dois meses, os 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela, partindo da França até a Espanha. O livro deixa claro que sabático não é um tempo para não fazer nada, mas um projeto, com objetivo ou propósito, para que a pessoa exerça algo que não faria trabalhando em uma empresa. “É experimentar algo que desafia você, com início, meio e fim; e sustentado por você”, resume.

Apesar dessa definição, Steinberg conseguiu angariar “patrocinadores” para a empreitada, arrecadando muito mais do que precisava. A contrapartida era a publicação do livro. Ele também enviou áudios para a rádio Eldorado e textos para os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. “Meu objetivo era desmistificar a ideia de que a falta de dinheiro é desculpa para não fazer o sabático”, conta. O montante que sobrou foi revertido para instituições que cuidam de pessoas que não podem andar.

A Editora Gente publicou o livro e pediu outro, sobre a viagem, Um executivo no caminho da razão ao coração. “Durante meu sabático, fiz reflexões, remeti ao espaço e ao tempo, até testei meus limites. Foram 15 ou 20 dias para atravessar um imenso trigal; é inevitável rever coisas, fazer planos, contar pedrinhas e passarinhos…”

Ele afirma que a viagem não tinha a mudança como objetivo, mas ninguém passa incólume por um sabático – que tira o executivo do ritmo e até da monotonia em que vivia antes. “Quando voltei, retomei a mesma atividade, criei um site, dei palestras, virei professor, escrevi livro. Também virei empresário. Tenho certeza de que não teria feito metade disso se não fosse o sabático”, atesta.

O encontro com você mesmo tem consequências, diz ele: “É preciso estar preparado também para as rupturas”. No seu caso, foi o fim do primeiro casamento. 

**O CHAMADO QUE VEM DE DENTRO**

Em 2016, Lady Morais deixou seu cargo de diretora de RH da Neoenergia. Quando entrou, eram seis empresas nessa holding; ao sair, sete anos depois, já somavam 59. Foram dois anos de planejamento para o sabático e sete meses cumprindo aviso prévio, até mesmo para concluir suas missões e deixar um sucessor.

Apesar de tudo estar ótimo na Neoenergia, ela sentia uma necessidade interna de dar uma parada para focar em planos pessoais. Com um patrimônio construído desde o início da carreira, primeiro foi para Michigan, nos Estados Unidos, onde mora seu filho. Lá aproveitou para estudar história americana. Seguiu para a Rússia, para ver a sobrinha e afilhada, a qual chama de filha, que é bailarina da Ópera de Kazan. A parada seguinte foi em Angra dos Reis, para curtir o mar e se dedicar à paixão pela culinária. E finalizou o programa em Portugal, onde foi estudar a vida e os milagres de Nossa Senhora de Fátima.

“A ideia era parar dois anos. Queria sair do RH para empreender. Até fiz um business plan”, conta Morais. Mas, em menos de um ano, após vários convites de trabalho, já estava atuando como consultora, entre São Paulo e Rio de Janeiro. 

Foi quando se apaixonou pela história da Hinode, empresa familiar de 30 anos. Aceitou o desafio de transformar a área de RH da empresa. Pretendia ficar lá por seis meses, que viraram dois anos. No fim de agosto de 2019, ela se desligou da empresa.

“Estou em outro momento de reflexão”, avisa Morais, que é professora de MBA na FIA. Empreender é um dos planos, que deve enveredar para uma consultoria. As reflexões e as análises estão sendo divididas entre várias outras atividades que lhe dão prazer: é cantora soprano de coral e percussionista, está organizando eventos – como sua festa de aniversário “50 anos again” (ela ficou uma década comemorando os “40 anos again”) –,   e tem dado orientação de carreira. “Mais do que dinheiro, o trabalho tem que ter propósito. Gosto de cuidar de gente, e o dinheiro não mais me seduz”, completa. Para Morais, o mundo executivo é estressante, e as pessoas precisam ouvir o que vem de dentro e ter coragem para agir. 

**VIVER NO VALE DO SILÍCIO**

No ano passado, Ellen Kiss decidiu fazer um sabático. Head de marketing para canais digitais e inovação do Itaú Unibanco, ao comunicar sua decisão ao banco recebeu uma contraproposta: uma licença por dois anos, com possibilidade de retorno. 

“Abri um precedente; não tinha visto algo assim acontecer em caso de liderança, exceto no caso de um MBA. Acho que foi positivo ter sido transparente”, relembra Kiss. Ela permaneceu na empresa por mais seis meses e participou da escolha do sucessor, assim como do processo de transição. “Acredito que as corporações vão precisar ter flexibilidade. Décadas atrás, isso estava fora de cogitação. Hoje, há uma busca pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, opina.

Kiss ainda passou mais seis meses no Brasil, colocando tudo em dia na vida pessoal e decidindo com a família – ela, o marido e os dois filhos, de 12 e 13 anos – para onde iriam. Em agosto de 2019, eles se mudaram para o Vale do Silício, na Califórnia, escolhido pela possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional. 

Ela acredita que foi a hora certa, considerando as janelas do seu momento no Itaú e do nível educacional das crianças, que estudavam numa escola britânica em São Paulo. “Eles já absorveram a cultura do Brasil e criaram relações com a família que ficou no Brasil, e ao mesmo tempo têm abertura para estabelecer novos vínculos em outro lugar”, avalia Kiss.

Enquanto o marido está lá trabalhando em sua empresa a distância e também estudando, ela se dedicou nesse início ao ritual de transição e de adaptação. E tem estabelecido as prioridades da lista extensa do que pretende fazer. Dentre elas, cursos pessoais e profissionais na Stanford University; viajar, passear e explorar; ter uma experiência profissional em 2020 em uma startup ou uma grande de tecnologia; e estabelecer uma vida mais saudável. “Isso já comecei; passei a ir de bicicleta para todos os lugares”, destaca Kiss.

Ela acredita que, independentemente do que fizer, vai se tornar alguém melhor. “As pessoas ficam presas à rotina e deixam de experimentar outras coisas”, avalia. Kiss conta que o sabático “é instigante e motivante, mas ao mesmo tempo é angustiante, porque partimos de um vazio”. Há uma série de desafios, como o desapego do cargo, da equipe, dos convites, das coisas. “Cada um trouxe duas malas de roupa. Chegamos em casa, onde só havia camas e colchões. Acredito que o crescimento vem do diferente. Cada dia é uma conquista, um aprendizado. E todos ganham com isso.” 

**Uma inovação de gestão para sua carreira**

Faz tempo que me dei um sabático de presente, em meados dos anos 1990. Embora ainda bem jovem, eu acumulava os quilômetros rodados que um sabático, assim como um mestrado, costumam requerer para render: já tinha ocupado função de gestão, com equipe sob minha jurisdição e respondendo diretamente à liderança sênior. Tinha feito isso em duas grandes empresas diferentes – Gazeta Mercantil e Exame. Tinha experimentado áreas diferentes na minha especialidade de jornalismo de economia e negócios – bolsas de valores, arte, gestão, marketing, macroeconomia. Tinha escrito em uma segunda língua e feito entrevistas numa terceira – ainda nos tempos de estudante da USP, fui colaboradora freelancer frequente de duas publicações internacionais, de uma revista inglesa e uma newsletter norte-americana, e viajei a países como Chile e Uruguai para fazer reportagens (em portunhol!). Olhando em retrospecto, eu me achava a “rainha da cocada preta” em termos de experiência, mas sentia um vazio. Amava o que fazia, amava as pessoas com quem trabalhava (a maioria delas, ao menos – risos), mas… não estava feliz. 

Então, meu pai morreu. Foi o empurrão de que eu precisava. Decidi revisitar meu sonho de fazer uma viagem de (auto)descobrimento, algo que havia decidido fazer desde um intercâmbio de férias em Stuttgart, na Alemanha, durante o Ensino Médio. Economizei dinheiro, pedi demissão, planejei e executei uma viagem de oito meses pela Europa pontuada de cursos. Quando, muitos anos depois, demos na HSM Management um artigo maravilhoso sobre as melhores decisões de management da história, lembro-me de ter pensado que o sabático foi uma das melhores decisões de management da minha história. 

Investi muito, o risco foi alto e não foi tudo maravilhoso do tipo fotos de Instagram. Porém, foram profundas as consequências do sabático em minha vida profissional, e destaco algumas: (A) desenvolvi um mindset de fato cosmopolita que não tem internet que nos dê, além de um repertório muito mais global, o que foi fundamental num momento em que o mundo e, especificamente, os negócios se globalizavam, (B) ganhei uma veia empreendedora e inovadora (de criar novos produtos de conteúdo) bem forte e voltei já (intra)empreendendo, (C) desenvolvi três habilidades essenciais que não possuía antes – prontidão para mudar de direção, algo que falta muito às pessoas, até hoje; resiliência nas dificuldades; e tolerância de verdade (não de fachada) ao diferente, o que me deu uma cola especial para integrar equipes.

Minha carreira pós-sabático é mais positiva que a pré, quando ponho na balança custos e benefícios. No regresso, não quis voltar para uma redação convencional. E a HSM apareceu na minha vida, primeiro como Folha Management, um encarte semanal dentro da Folha de S.Paulo, depois como a revista HSM Management, que era (como continua a ser) a minha cara. Também empreendi em parceria com o Grupo Folha, lançando guias de viagem “sexy”, como diriam os norte-americanos – a coleção Fique-Fuja, que teve vários best-sellers. Os títulos incluíam Fuja no fim de semana, Fique em São Paulo, Fuja de casa com as crianças e… Fuja por um ano – Sabáticos. Todos estão esgotados, mas até hoje pessoas me consultam a respeito. 

Minha querida Sandra Regina da Silva, repórter que trabalhou comigo lá atrás na Gazeta Mercantil, compartilhou várias orientações valiosas aqui, mas, se eu tivesse de separar sete coisas que potencializam um “sabático eficaz”, com base nas dezenas de relatos que coletei, seriam estas:

1. Se você acha que vai fazer só um sabático na vida, priorize fazê-lo depois de alcançar algum grau de maturidade profissional. Eu não era a rainha da cocada preta como pensava, mas tinha, sim, alguma maturidade. Assim, o aprendizado rende mais e, quando você volta, já há rede de relacionamentos montada para facilitar sua recolocação (ou reinvenção) no mercado.
2. Existem muitos formatos possíveis de sabático; nenhum é igual ao outro. Mas os melhores incluem viagens – ao exterior ou mesmo pelo Brasil. É fácil explicar: a zona de conforto é ficar estável num lugar que você possa chamar de casa; só as viagens você arrancam dela. A combinação ideal é de viagens com cursos, mesmo que sejam cursos rápidos. É recomendável uma duração de pelo menos seis meses para a experiência completa, mas tem quem faça em menos tempo. Quando for assim, sugiro radicalizar no desconforto: no guia Fuja por um Ano, demos gente que escolheu o tradicional caminho de Santiago de Compostela, mas também gente fazendo viagem a cavalo pelo interior do Brasil, de bike pelo litoral, de barco pelos mares afora etc.
3. Planeje cada detalhe da viagem, porque o exercício de planejar faz o sabático começar antes de começar. Claro que vai sair tudo diferente do que você imaginou (o que é uma lição em si), mas o plano é o que libera para aproveitar mais intensamente cada momento, além de melhorar a qualidade dos improvisos. E você ainda desenvolve muito a habilidade de planejamento!
4. Inclua o tripé “destinos improváveis + cursos não óbvios + gente diferente de você” em sua jornada. Um dos cursos mais bacanas que fiz, no City Lit de Londres, foi de história do mundo pós-Segunda Guerra do ponto de vista dos países periféricos. E lá só tinha pessoas de origens e países fora do radar. 
5. Faça um diário, escrito a mão de preferência (neurociência explica), e registre os aprendizados, os insights e as associações de ideias. Surgirá uma quantidade de coisas para implementar mais tarde que vai surpreender você.
6. Mesmo que tenha dinheiro sobrando, imponha-se um dinheiro contado, para que você precise desenvolver a chamada “mentalidade elástica”. Sem limites, a criatividade diminui, o aprendizado mingua e você se sente só de férias, ou só fazendo mais um curso. Lembre que a zona tem de ser de desconforto.
7. Muita gente só toma coragem para a pausa sabática em momentos de vulnerabilidade, naquela lógica da Brené Brown – comigo foi assim, por conta da morte do meu pai. Mas o melhor talvez seja pensar no sabático como um “job to be done”, aquele conceito do Clayton Christensen para conseguir inovar. Lembra-se da pesquisa dele com o milk-shake comprado no drive-thru, cujo “job to be done” era tirar a fome até a hora do almoço e poder ser consumido no carro em movimento, até chegar ao escritório? O sucesso crescente do CBN Professional nos mostra que o podcast cumpre o job de fazer reskilling e upskilling em tempos que eram subaproveitados (na academia, por exemplo). O sabático tem de ir na mesma “vibe”: ele pode fazer sua transformação digital, sua globalização, o preparo para o futuro empreendedor etc.  

Um sabático é uma inovação em gestão; apenas é para você, em vez de ser para a empresa. Como toda inovação, requer ações como investir, correr riscos e explicitar os retornos – que não são automaticamente percebidos pelos stakeholders. 

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/b9318f19-33de-42c9-9bbe-301de5aa4c7d.png)

**O GOSTO DE TER A AGENDA TODA SUA**

Dia 30 de setembro de 2019, Marcelo Nobrega deixou o cargo de diretor de RH da Arcos Dorados (McDonald’s). “Foram cinco anos de muitos resultados e reconhecimentos”, diz ele, cheio de planos para esta nova fase, na qual a agenda passa a ser toda sua. “Planejo este momento há 30 anos!”

Além do planejamento financeiro, houve o de dentro de casa, afinal, o projeto é conjunto com sua esposa, que não vai parar, mas, por ser empresária, tem mais liberdade para estar presente na jornada, que prevê viagens e cursos. 

Há três anos, Nóbrega começou a dar uma guinada em sua vida profissional. Ainda no Mc­Donald’s, decidiu fazer testes para entender com o que se identificava. Assim, entrou em dois conselhos; tornou-se sócio-anjo de quatro startups de RH; investiu na implantação de dois empreendimentos de educação executiva; voltou a dar aulas nas fundações Getúlio Vargas e Dom Cabral. “Fiz tudo ao mesmo tempo, mas há sinergia. O fundo comum é a curiosidade intelectual, ou seja, inovação, novas tecnologias e modelos de negócio”, pontua.

Agora, os planos vão desde mergulhar em Parati e fazer rally de escalada a estudar na Columbia University, em Nova York, e no Insead na França e em Singapura; de assistir o US Open, o GP de Mônaco e as Olimpíadas de Tóquio a conhecer mais profundamente os ecossistemas de inovação de Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte e Recife. “Fiquei surpreso com o Hackathon de Santa Rita do Sapucaí (MG). Como eu não sabia que tinha isso? E o Inatel, então…”, dispara Nobrega.

O sabático de Nobrega não tem data para terminar, assim como ele não descarta a possibilidade de voltar um dia para o mercado corporativo, talvez em outra área, outra disciplina. “Vou dar um tempo para pensar”, conclui.

**PERÍODO DE “DETOX” PARA UM MILLENNIAL**

Em 2017, William Bernal, então com 27 anos, decidiu fazer um sabático, e saiu do Banco Votorantim, no qual atuava como analista desenvolvedor de SharePoint. “Eu tinha muito dinheiro e nenhuma cabeça. Resolvi ficar em casa, cuidar da saúde, passar mais tempo com minhas duas filhas, reformar o apartamento…”, conta.

Foram quase oito meses até decidir: “Não vou mais trabalhar em mercado financeiro. Alguns ambientes de trabalho exigem períodos de ‘detox’. Quando o ambiente é muito ruim, você se esquece até do que gosta no seu trabalho”, diz Bernal. 

Por ser especialista na plataforma de aplicações web da Microsoft, até se acostumou a receber várias propostas todos os meses, inclusive da Polônia, do Canadá e de Portugal. “Já conversei com muitos profissionais de outros países, e a dificuldade de se encontrar especialista em SharePoint é global”, revela. 

Agora presta serviços para uma grande companhia, com uma relação de trabalho diferente: “Não tenho mais dress code, nem ponto, nem avaliações sistemáticas. Faço minhas regras. O único compromisso é com o resultado”, afirma Bernal.

Para o fundador de O Sabático, um período para reflexão é ainda mais necessário para os brasileiros, por uma questão social. Ao final do Ensino Médio, o jovem carrega o estigma de que sua escolha profissional tem de lhe trazer sucesso financeiro e na carreira. Daí a alta proporção de candidatos para vagas em cursos como engenharia, direito e medicina. 

E a trajetória corre: ter independência financeira, comprar um carro e um imóvel, fazer viagem internacional, casar e constituir família. “Entre os 30 e 50 anos de idade, vêm os questionamentos: ‘Era isso o que eu deveria ter escolhido?’”, diz Andrade. 

A resposta pode estar em um mergulho na inovação do Vale do Silício ou em uma caminhada  de dias no meio de um trigal no Caminho de Santiago. Cada um escolhe o seu roteiro!

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