Vale Ocidental

No berço da diversidade

Das ruas aos conselhos de administração, a diversidade é marcante na Califórnia. Será que o estado vai conseguir exportar isso para o mundo como faz com a tecnologia?
__Ellen Kiss__ é empreendedora e consultora de inovação especializada em design thinking e transformação digital, com larga experiência no setor financeiro. Em agosto de 2022. após um período sabático, assumiu o posto de diretora do centro de excelência em design do Nubank.

Compartilhar:

As discussões sobre diversidade nos conselhos de administração nunca foram tão atuais e relevantes para o sucesso dos negócios nos Estados Unidos. Independentemente de serem impulsionadas por normas culturais, legislação, requisitos para abertura de capital ou reputação ESG, as partes envolvidas estão se aproximando do tema e desenvolvendo um interesse mais pessoal sobre a composição dos boards.

Pioneira em tantos movimentos importantes nas últimas décadas e sede de um coletivo social bastante diverso, a Califórnia tem adotado uma postura exemplar para negócios responsáveis, com resultados expressivos para a inclusão das mulheres nos conselhos. São inúmeras as pesquisas sobre a influência das mulheres servindo em boards, incluindo um estudo de 2016 da McKinsey que revelou que “as empresas em que as mulheres são mais fortemente representadas nos conselhos ou na alta administração também apresentam me­lhor desempenho em lucratividade, produtividade, inovação, governança e engajamento da força de trabalho”.

Nesse sentido, a lei SB 826, aprovada em 2018, exigiu que todas as empresas de capital aberto com sede na Califórnia tivessem pelo menos uma mulher no conselho até o término de 2020. E, até o fim de 2019, dependendo do tamanho do conselho, algumas eram obrigadas a ter ainda mais conselheiras no grupo. Segundo o Silicon Valley Business Journal, a lei conseguiu eliminar quase todos os conselhos inteiramente masculinos, passando de 180 para 15 em dois anos. Em 2019, foram 176 mulheres adicionadas aos conselhos, e 346 em 2020). Apesar de a maioria das empresas ainda não atingir todos os requisitos, os números mostram o impacto da mudança.

Após o sucesso da SB 826, a Califórnia aprovou, em 2020, a AB 979. Essa nova legislação se aplica a empresas de capital aberto com escritórios no estado, e exigiu que os conselhos incluíssem, além das mulheres, pelo menos um diretor de uma comunidade sub-representada até dezembro de 2021. Além disso, até o fim do ano civil de 2022, as empresas que têm entre quatro e nove conselheiros precisarão ter pelo menos dois diretores de comunidades sub-representadas, e as empresas com nove ou mais diretores precisarão ter três.

Há contestações à legislação SB 826, claro, e espera-se que a legalidade da AB 979 também esteja sujeita a críticas. A maioria delas tem base na violação da proteção de igualdade, além da interferência nos direitos dos acionistas. Embora os desafios à legalidade de ambas as leis possam, em última análise, invalidá-las, as corporações sediadas na Califórnia que planejam fazer IPO devem começar a se adequar aos novos requisitos, já que os resultados das contestações devem demorar alguns anos para serem resolvidos. Além disso, as empresas sediadas na Califórnia que planejam abrir o capital devem enfrentar mais questionamento do investidor em relação à diversidade do conselho e antecipar-se a isso.

A tecnologia criada na Califórnia vem transformando nossas vidas. Espero que agora ela também ajude a nos transformar com a diversidade.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia e execução
Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

Norberto Tomasini

4 min de leitura
Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura