Carreira

Novas habilidades: aprender ou morrer

O lifelong learning para profissionais está sempre em pauta, mas e as empresas? O que estão fazendo para garantir sua relevância? Trago bons exemplos e três sugestões
Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: *Grandes líderes de lessoas*, *25 anos de história da gestão de pessoas* e *Negócios nas melhores empresas para trabalhar*, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

Compartilhar:

A cada ciclo de 3 a 5 anos, ficamos mais obsoletos. Se no passado (não tão longínquo) a nossa formação concluída nos primeiros anos de vida garantiria nosso sustento pelo resto dos nossos dias, hoje ela sozinha não consegue nos sustentar nem na próxima década. 

Segundo uma pesquisa da Mckinsey publicada em janeiro deste ano, até 2030 entre 30% e 40% de todos os trabalhadores em países desenvolvidos podem precisar mudar para novas ocupações ou pelo menos atualizar seus conjuntos de habilidades significativamente. Os trabalhadores qualificados se tornarão ainda mais escassos, provocando lacunas e lentidões nos negócios. 

Costumamos explorar essa realidade e levar esses números para gerar uma reflexão nos profissionais, estimulando cada um a buscar seu desenvolvimento contínuo para se adaptar a cada ciclo de mudança. 

Mas e a empresa? O que as empresas estão fazendo para garantir sua relevância no cenário corporativo a cada ciclo de cinco anos? Não se trata (apenas) de investir em tecnologia e robotizar sua produção, mas de desenvolver seus colaboradores e alimentá-los com novos repertórios.

 A pergunta que está em questão, portanto, não é como substituo os funcionários por máquinas, mas como posso desenvolver pessoas para que, em um mundo do trabalho que muda o tempo todo, nossos colaboradores possam se adaptar juntamente com a empresa. Como fazemos isso juntos? 

## Alguns bons exemplos

Começamos a ver alguns movimentos no mercado nessa direção. A Amazon irá investir 700 milhões de dólares nos próximos seis anos para retreinar 100 mil funcionários (um terço da sua força de trabalho nos Estados Unidos) para empregos mais qualificados (transformar, por exemplo, funcionários que trabalham com banco de dados em analistas de dados básicos). 

O J. P Morgan Chase anunciou no ano passado que investirá 350 milhões de dólares em cinco anos para apoiar programas de treinamentos, investir em faculdades comunitárias e conduzir pesquisas sobre formas de ajudar trabalhadores menos qualificados a encontrar melhores empregos e carreiras. O objetivo é treinar trabalhadores nos Estados Unidos e globalmente – não apenas seus próprios funcionários. 

Já o Walmart foi mais longe – investiu 2 bilhões de dólares em salários e programas de treinamentos, incluindo o Walmart Pathways, que educa os funcionários iniciantes sobre o modelo de negócios da empresa e ajuda os trabalhadores a desenvolver soft skills.

Também visando a escassez de mão de obra especializada e qualificada, o Google anunciou recentemente que vai oferecer uma série de cursos profissionalizantes. Batizado de Google Career Certificates, os cursos devem ter duração de seis meses, com valores bem inferiores aos que as universidades americanas normalmente cobram. A estratégia visa atacar uma velha deficiência da academia: a falta de preparo dos profissionais frente às necessidades do mercado. 

Investir no desenvolvimento do time sempre foi um diferencial das melhores empresas para trabalhar e das empresas mais visionárias que prezam pela sustentabilidade de seus negócios. 

O salto agora é entender que não basta separar um orçamento para a área de pessoas e bancar graduações, pós e cursos de idiomas. Isso ainda é louvável, mas não vai resolver seu problema nos próximos três anos. 

É preciso ser mais estratégico nesta ação. No lugar de apenas dar a mesada para o funcionário se desenvolver, é preciso criar as oportunidades de desenvolvimento – sozinhos ou com parceiros – olhando para as necessidades do negócio e, principalmente, avaliando o impacto das novas e constantes tecnologias no trabalho de seus times. 

## Vejo três formas que as empresas podem adotar para desenvolver pessoas (de dentro e fora da organização): 

### Conscientize seu time que o mundo mudou e vai mudar mais ainda

Há um aumento de empresas que vêm buscando dar esse chamado ‘banho de loja’ no seu time. Como falamos com diferentes públicos, de diferentes níveis de maturidade e formação, é importante passar a mensagem lá do começo do artigo para todos: a formação deles não irá garantir a sobrevivência no emprego e, portanto, se renovar e se reinventar é preciso. 

Dessa forma, você irá despertar o profissional para a necessidade de ele mesmo buscar se reciclar. Ele passa da imobilidade para a mobilidade – e você ganha um aliado. 

Uma pesquisa realizada pela ADP com mais de 32 mil funcionários em diversos países identificou que 1 em cada 3 profissionais afirma trabalhar em uma função que não existia há cinco anos e uma parcela semelhante prevê que a função desempenhada hoje não existirá daqui a cinco anos. O objetivo desse banho de loja não é alarmar o time e muito menos ameaçar, mas trazê-lo para a realidade e mostrar como – juntos (empresa e profissional) podem superar esse desafio. 

### Faça parcerias

Outro movimento interessante é o adotado pelo JP Morgan Chase quando fala das faculdades comunitárias. Ao traçar as demandas do seu mercado e do negócio futuro e identificar os gaps, você pode verificar quem na sociedade – não apenas no cenário empresarial – pode ser seu aliado nesse trabalho de desenvolvimento. 

A parceria pode acontecer com universidades, consultorias, ONGs e também outras empresas. Criar oportunidades de desenvolvimento para uma população ávida por aprendizado é um caminho inteligente e socialmente responsável.

### Crie seus próprios laboratórios de aprendizagem 

Uma prática interessante é a formação dos núcleos de aprendizagem que podem ser enquadrados no modelo de squads ou apenas em uma área específica que visa desenvolver um novo produto, serviço ou até um novo negócio. Neste ambiente, errar é preciso. No atual mundo do trabalho, errar não é apenas permitido, como é estimulado. Se você não errou em nada então algo está errado. 

Não é fácil mudarmos essa chavinha no nosso pensamento. Fomos educados a colocar ideias em prática após muitas etapas de planejamento e a certeza (certeza?) de que tudo estava redondo. 

O mundo atual, porém, é cercado de incertezas e é nesse universo que devemos desempenhar nossas ações. Ao permitir experimentos e estimular a tentativa e erro (obviamente, dentro de um certo limite pré-acordado) você está impulsionando o aprendizado da melhor forma: na prática. 

Combinar a teoria e prática, as soft e as hard skills, é o melhor caminho para renovar o reservatório de habilidades do seu time e, consequentemente, garantir a renovação da sua empresa. O outro caminho é a morte.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado

Empreendedorismo, Liderança
Entendimento e valorização das características existentes no sistema, ou affordances, podem acelerar a inovação e otimizar processos, demonstrando a importância de respeitar e utilizar os recursos e capacidades já presentes no ambiente para promover mudanças eficazes.

Manoel Pimentel

ESG, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça e entenda como transformar o etarismo em uma oportunidade de negócio com Marcelo Murilo, VP de inovação e tecnologia da Benner e conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente.

Marcelo Murilo