Assunto pessoal

Nunca é tarde para a pessoa se pivotar

Conheça Beatriz Cesar, que está montando uma startup aos 61 anos
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

Tem algo faltando na sua vida? Não sabe o que é? A curitibana Beatriz Cesar também sentiu isso e também não soube o que era, em nenhum dos momentos que precederam suas quatro pivotagens de carreira. Há muito o que aprender com a história dela.

Bióloga de formação, com mestrado e doutorado em biologia celular e molecular, Beatriz Cesar passou parte significativa de sua vida profissional dando aulas nos três níveis de licenciatura (ensino fundamental, médio e superior), incluindo seis anos na PUC do Paraná. E também passou fazendo pesquisa acadêmica e publicando artigos em revistas científicas – seu artigo de doutorado, inclusive, é um dos mais lidos do ResearchGate. Até que, um dia, ela sentiu que faltava algo e foi procurar.

__1ª pivotagem.__ A busca do que faltava levou Beatriz Cesar a atuar no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Lá ela se encontrou. “Passei a colocar em prática meu conhecimento para o setor industrial, coordenando vários projetos na área de biotecnologia.” Mas, em 2015, sua mãe adoeceu, e “Bia”, como filha única, precisava cuidar dela em tempo integral e assumir o trabalho da mãe como tutora do legado de seu pai, o artista plástico Jefferson Cesar, falecido aos 49 anos em 1981. Ela não sabia como seria essa vida, mas procurou aprender.

__2ª pivotagem.__ Embora fossem trabalhos não remunerados, os cuidados com a mãe e com a manutenção de um acervo de 73 obras de arte – dor comum dos herdeiros de artistas – não deixaram de ser atividades profissionais. Ela teve de lidar com obstáculos como os que encontramos num emprego – “eu detestava acumular coisas e não sabia o que fazer com aquelas obras”. Era 2015, e ela foi procurar soluções na academia. “Sempre é meu ponto de prumo quando quero buscar referencial e tecnologia sobre algo.”

O professor Marcos Wachowicz, coordenador do Grupo de Estudos em Direito Autoral e Industrial da Universidade Federal do Paraná, sugeriu que as obras fossem digitalizadas. “Ele foi um visionário quando quase não se falava disso na época.” O professor lhe recomendou ainda entrar com pedido na Biblioteca Nacional para ter direito de uso de imagem. “Em 2017, obtive enfim o direito. Minha mãe faleceu, e recomecei.”

Primeiro, Beatriz Cesar contratou um fotógrafo para digitalizar as imagens – fotógrafo esse que, com primor, removeu todas as manchas dos desenhos. Então, elaborou projetos para conseguir um financiamento por meio de editais de mecenato municipais e federais. Só que veio a pandemia e tudo parou. (Quase tudo: ela começou a escrever livros.) De novo, ela foi procurar algo.

__3ª pivotagem.__ Beatriz Cesar se dedicou a estudar a tecnologia blockchain e os NFTs (tokens não fungíveis). “Três meses depois, coloquei os desenhos do Jefferson na OpenSea (plataforma aberta, sem curadoria), disponibilizando-os em NFT”, detalha ela. E, nesse ínterim, ela conheceu a plataforma de NFTs InspireIP. “Em comparação a mim, que sou uma idosa, a CEO da plataforma, a Caroline Nunes, é uma menina. Ela me incentivou e me inspirou, porque conseguiu juntar duas coisas que eu amei estudar: a propriedade intelectual e a disrupção do blockchain e dos NFTs.”

A bióloga subiu na InspireIP as obras de arte paternas e dois dos quatro livros que havia escrito. O primeiro foi *A Arte de Reunir os Amigos* (não ficção disponível como e-book na Amazon e com possibilidade de versão impressa), uma produção independente que resultou dos encontros online que tinha com um grupo de amigos no período de distanciamento social. Ainda faltava algo? Sim, mas ela não sabia.

__4ª pivotagem.__ Por meio de um amigo de longa data, que sabia de sua experiência com NFTs, Cesar conheceu Gustavo Henrique dos Santos, CEO da Devel Blockchain, que lhe propôs parceria em uma startup. O projeto foi inscrito em um edital com o nome provisório de NFT Blockchain Art e com foco no letramento tecnológico do público.

Aos 61 anos, Beatriz Cesar ensina: sempre é tempo de aprender, sempre é tempo de pivotar.

__Leia também: [Incentivando as e-bikes](https://www.revistahsm.com.br/post/incentivando-as-e-bikes)__

Artigo publicado na HSM Management nº 154

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Inovação
O SXSW 2025 transformou Austin em um laboratório de mobilidade, unindo debates, testes e experiências práticas com veículos autônomos, eVTOLs e micromobilidade, mostrando que o futuro do transporte é imersivo, elétrico e cada vez mais integrado à tecnologia.

Renate Fuchs

4 min de leitura
ESG
Em um mundo de conhecimento volátil, os extreme learners surgem como protagonistas: autodidatas que transformam aprendizado contínuo em vantagem competitiva, combinando autonomia, mentalidade de crescimento e adaptação ágil às mudanças do mercado

Cris Sabbag

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent

Rafael Bertoni

0 min de leitura
Empreendedorismo
88% dos profissionais confiam mais em líderes que interagem (Edelman), mas 53% abandonam perfis que não respondem. No LinkedIn, conteúdo sem engajamento é prato frio - mesmo com 1 bilhão de usuários à mesa

Bruna Lopes de Barros

0 min de leitura
ESG
Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O SXSW revelou o maior erro na discussão sobre IA: focar nos grãos de poeira (medos e detalhes técnicos) em vez do horizonte (humanização e estratégia integrada). O futuro exige telescópios, não lupas – empresas que enxergarem a IA como amplificadora (não substituta) da experiência humana liderarão a disrupção

Fernanda Nascimento

5 min de leitura
Liderança
Liderar é mais do que inspirar pelo exemplo: é sobre comunicação clara, decisões assertivas e desenvolvimento de talentos para construir equipes produtivas e alinhada

Rubens Pimentel

4 min de leitura
ESG
A saúde mental no ambiente corporativo é essencial para a produtividade e o bem-estar dos colaboradores, exigindo ações como conscientização, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.

Nayara Teixeira

7 min de leitura
Empreendedorismo
Selecionar startups vai além do pitch: maturidade, fit com o hub e impacto ESG são critérios-chave para construir ecossistemas de inovação que gerem valor real

Guilherme Lopes e Sofia Szenczi

9 min de leitura
Empreendedorismo
Processos Inteligentes impulsionam eficiência, inovação e crescimento sustentável; descubra como empresas podem liderar na era da hiperautomação.

Tiago Amor

6 min de leitura