Uncategorized

O avatar “grande empresa”

Corporações e startups devem se aproximar cada vez mais para inovar; pesquisa revela as dificuldades existentes para chegar lá
Marina Miranda é diretora-geral da Mutopo Brasil e fundadora da Conferência Rethink Business; especialista em projetos digitais e crowdsourcing, trabalha ajudando organizações a implantar programas de empreendedorismo e inovação. Yuri Gitahy é investidor da Aceleradora e sócio-investidor da Confrapar; tornou-se uma referência internacional no ecossistema de startups brasileiro.

Compartilhar:

Joseph Schumpeter, o economista que identificou a inovação como a principal alavanca para mudar o mundo, acreditava que os empreendedores vindos das grandes empresas seriam os maiores responsáveis por esse movimento, tanto incremental como de ruptura. A intuição de Schumpeter faz sentido. 

São as corporações que possuem a maior parte do capital para pesquisa e desenvolvimento, afinal. No entanto, grandes empresas, e também as médias, têm imensa dificuldade de inovar. É simples de explicar: essas empresas se organizam por processos (pensados para serem facilmente repetidos, e não desafiados e renovados); a operação e os problemas do dia a dia ocupam toda a atenção dos gestores (e todo o tempo deles também); ninguém quer arriscar a reputação com produtos que possam ser fracassos de mercado (e medo do fracasso reduz a chance de inovação real). 

O que Schumpeter não previu? O poder de fogo das startups, com a internet, o capital de risco, tecnologias baratas facilitando que empresas pequenas e iniciantes buscassem a inovação. Por isso, o papel das corporações no ecossistema do empreendedorismo inovador pode ser ampliado por meio da parceria com startups. E o que as empresas estabelecidas devem fazer na segunda fase de nosso empreendedorismo inovador? O movimento de aproximação tem de ser intensificado. Pelo bem de ambas as partes e da capacidade de inovação e competitividade do País, as parcerias precisam inovar em quantidade e qualidade.

> **PESQUISA**
>
> * 57% das empresas acham associação com startups interessante.
> * 75% das empresas consideram inovação crucial e 40 % delas  planejam um programa com startups.
> * Só 25 % das startups já tiveram algum relacionamento com grandes empresas.
> * Mas 55% não tem estrutura para inovar.

**DADOS DA PESQUISA**

Como esse avanço pode acontecer? A pedido de HSM Management, coordenamos uma pesquisa online com algumas dezenas de empresas estabelecidas e startups para saber como esse relacionamento pode ser estreitado. Os achados dão o que pensar. 

**O que as grandes esperam**

Quanto as startups habitam a mente dos executivos de grandes empresas? Uma notícia relativamente boa para as startups é que 75% das empresas consideram que inovar é crucial à sobrevivência e 55% não têm estrutura para tanto. 

Para deixar a oportunidade ainda mais evidente, cerca de 57% dos executivos corporativos afirmam que startups são interessantes como caminho para a inovação e 40% deles planejam fazer um programa de relacionamento com startups, formal ou informal. “Creio na sinergia entre os estudos de futuro e os projetos de curto prazo. 

Os resultados das startups podem complementar nossos esforços e análises de projetos de inovação”, compartilha Fernando Sartori, da CNH Industrial. No entanto, chama a atenção o fato de que somente 10% dos executivos apostam em efetivamente inovar em parceria com startups. 

Por quê? “A capacidade de entrega das startups pode comprometer projetos milionários”, explica Leonardo Mattiazzi, da CI&T. “Ainda é difícil triar as oportunidades e identificar startups realmente atrativas”, complementa Rafael Navarro, da Braskem. Alexandre de Souza, da Matera Systems, dá outra explicação: “Ainda é difícil se relacionar com o empreendedor de startups, que sempre tem a percepção de que sua ideia vale muito e quer estabelecer mecanismos de confidencialidade antes da primeira conversa com grandes empresas”. 

Na opinião de Souza, o empreendedor precisaria entender que departamentos jurídicos de empresas estabelecidas têm uma velocidade própria e tradicionalmente não aceitam condições que não privilegiem os interesses da empresa. “O não entendimento disso reduz nossas chances de fazer negócios mais rápido”, explica ele. 

Diante dessas preocupações, a pesquisa questionou se não seria o caso de a grande empresa adquirir o controle de uma startup. Dois de cada três executivos têm muitas dúvidas quanto a isso, pelo potencial choque de culturas. Eles já têm plena consciência de que o potencial e a agilidade da startup podem ser asfixiados pela burocracia do novo sócio controlador.

> **Falta Consciência**
>
> Cada avatar do game ainda vê muitos problemas no outro, mas ambos precisarão conscientizar-se de que precisam de companhia para inovar. Às empresas, um aviso especial: as startups podem levar as flechadas por vocês.

> No faroeste, pioneiros levavam as flechadas; hoje, startups são um ótimo escudo para a inovação corporativa

**E o que as startups querem**

Em primeiro lugar, as startups estão inovando de fato? A resposta nos parece preocupante. Oitenta por cento das pesquisadas admitem não estar propondo uma inovação disruptiva como essência de seu negócio. O que pode ser percebido como ainda pior é que praticamente metade delas ainda não tem certeza sobre o real potencial de inovação em seus negócios. Assustou-se, leitor? Não deveria. Vamos lembrar que startups são focadas em diariamente questionar suas premissas e reavaliar o 

negócio, desafiando seus processos e tentando gerar resultados intermediários que tragam mais clareza sobre o próximo passo. Já há algum relacionamento com corporações? Sim, mas apenas 25% das startups afirmam ter participado de algum programa formal com grandes empresas. 

O que acontece é que muitos empreendedores ainda ficam de pé atrás, duvidando de que os benefícios sejam, efetivamente, mútuos. Como foi o relacionamento? Leandro Araújo, da Bimbon, conta que iniciou em 2013 uma parceria entre sua startup e uma líder global no mesmo setor de atuação. “A assimetria de tamanhos, processos e objetivos gerou uma série de barreiras para o diálogo, mas, com persistência, os frutos têm aparecido para ambas as partes”, explica ele. 

Direitos autorais e documentos de confidencialidade foram alguns pontos de conflito. Luiz Fernando Gomes, da startup Lotebox, diz que o início pode ser fácil quando a startup tem alguma quilometragem. Ele já foi procurado por grandes empresas do Brasil, do Panamá e dos Estados Unidos, por exemplo. “Mas, quando chegamos às áreas de negócios, há pouca abertura para entender uma inovação potencial. Mostramos um produto que ainda está em testes e os gestores pedem nossos cases de sucesso”, conta ele.

As startups da pesquisa interessariam a grandes empresas como parceiras? Bem, levando em conta que 80% delas têm menos de dois anos de existência e equipes de até dez pessoas, possivelmente não – ou pensando que 30% nem faturar faturam (as demais faturam entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões por ano). Isso, no entanto, seria um erro, como se vê na análise de Márcio Brito, responsável pela estratégia de startups do Sebrae Nacional: “O fato de terem foco em uma solução específica e a adaptação constante de seu modelo de negócio nos ensinam a nunca subestimar seu potencial”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)