ESG
5 min de leitura

O burnout do gestor: quem cuida de quem lidera?

Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
João Roncati é CEO da People+Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.

Compartilhar:

Nos últimos anos, o tema burnout tem ganhado uma visibilidade crescente, especialmente no Brasil, que ocupa o segundo lugar no ranking mundial de casos dessa síndrome, perdendo apenas para o Japão. De acordo com dados da ISMA-BR (International Stress Management Association) e do Ministério da Previdência Social, em 2024, foram concedidas mais de 472 mil licenças relacionadas a depressão, ansiedade e burnout. A estatística é alarmante e revela um crescimento exponencial de mais de 400% desde a pandemia.

Mas o que poucos discutem é que o burnout não afeta apenas os colaboradores da base, mas também os gestores. E aí surge a pergunta: quem cuida de quem lidera?

A figura do gestor, muitas vezes percebida como aquela que deve ser inabalável, forte, sempre pronta para tomar decisões, tem sido desafiada nos últimos tempos. Aliás é uma visão de senso comum e bastante arraigada em nossa sociedade a ideia de que o gestor é ou precisa ser mais forte que a maioria. A pressão por resultados, a sobrecarga de responsabilidades, a constante cobrança e a sustentação da imagem de “pessoa mais forte ou até inabalável”, podem levar os líderes a uma situação de esgotamento profundo

O burnout no líder, muitas vezes, é mais difícil de ser identificado. Ao contrário dos colaboradores que podem ter uma rotina de trabalho mais previsível, os gestores geralmente enfrentam um ritmo frenético, com decisões estratégicas, gestão de crises e cobranças constantes. Os sinais do esgotamento podem ser mais sutis e, frequentemente, ignorados. Irritação excessiva, sensação de exaustão, dificuldade para se concentrar e até problemas de sono são sintomas comuns, mas que podem ser mascarados por uma atitude de “tudo sob controle”.

Entretanto, quando um gestor está no limite, ele perde a capacidade de influenciar e motivar sua equipe de maneira eficaz. Em vez de ser a referência, ele se torna uma figura desgastada, comprometendo o desempenho de todos ao seu redor. Isso reflete diretamente na saúde organizacional e nos resultados, criando um ciclo vicioso que leva à queda de produtividade e, eventualmente, à perda de talento e desengajamento.

O que é preciso entender é que o burnout do gestor não é apenas um problema pessoal, mas institucional. Não basta cuidar da saúde mental dos colaboradores sem olhar para os que ocupam a liderança: o cuidado deve ser parte da cultura organizacional desde a sua formação.

As empresas devem implementar programas para líderes, assim como fazem com suas equipes. É preciso criar espaços seguros para que todos se expressem sem medo de serem vistos como fracos ou incapazes, além de ter uma rede de apoio que envolva o RH, os pares e até superiores hierárquicos é essencial.

Infelizmente, em muitas organizações, a percepção de que “gestores não podem demonstrar fraqueza” ainda é forte. Essa mentalidade precisa ser quebrada, pois um líder saudável é essencial para o sucesso de qualquer organização.

E o cuidado com os gestores não deve ser uma tarefa solitária. Todos os membros da organização têm um papel a desempenhar. O RH precisa ser proativo na identificação dos sinais de esgotamento, oferecendo recursos como coaching, terapia ou programas de mindfulness. Pares e colegas de liderança podem ser a linha de apoio mais próxima, já que entendem as pressões do cargo e podem agir com empatia para ajudar o líder a lidar com o estresse.

Cuidar da saúde mental dos líderes não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas de estratégia organizacional. As empresas precisam compreender que investir no cuidado de seus gestores é investir no futuro da própria organização. A pergunta que deve ser feita é: quem cuida de quem lidera? A resposta é simples: todos nós.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura