Ninguém tem dúvidas: a digitalização foi acelerada em empresas brasileiras de muitos setores. Até as que não tinham nenhum plano digital avançaram significativamente. Mas o processo ainda está incompleto – ele é mais limitado às operações das empresas. Ainda há um gap tecnológico em relação aos países desenvolvidos, mas falta principalmente o digital estar presente na estratégia, no modelo de gestão, na relação com os clientes, nos padrões de competição setorial. E, é claro, nos talentos.
O primeiro ponto é a estratégia. “O digital entrará bem forte na estratégia das empresas daqui por diante”, prevê Aldemir Drummond, vice-presidente da Fundação Dom Cabral (FDC). David Kallás, coordenador executivo do programa de pós-graduação lato sensu do Insper, acredita que as empresas vão passar a desenhar estratégias mais baseadas em técnicas, como a de cenários, por exemplo. “Não é ferramenta nova, mas agora se entende quão útil é”, diz o especialista do Insper. Isso significa que, em vez de se traçar uma estratégia, a empresa vai preparar três ou quatro. E, atrelado a isso, passará a monitorar os sinais de futuros, para conseguir ter uma reação mais rápida.
Para Fábio Mariano Borges, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e coordenador do novo curso Master em Tendências e Estudos do Futuro, esse novo planejamento pressupõe o modelo de gestão e liderança agile. Por esse modelo, ainda pouco abraçado ou adotado parcialmente, o líder tem que ser mais ágil e rápido, promover mais o “fazer” que o “planejar”, derrubar silos funcionais e garantir que todos se norteiem por um propósito.
Moacir de Miranda Oliveira Jr. também destaca, no modelo de gestão, a importância de as empresas terem um empreendedorismo embarcado, o que abrange desde funcionários intraempreendedores até mais parcerias com startups e centros de pesquisa de universidades. “A energia do ecossistema tem de ser usada em prol da inovação da empresa”, diz head do departamento de business administration da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
## Hipersegmentação: Questão de tempo
O atendimento aos clientes hipersegmentado, ou personalizado, é um aspecto central da transformação digital das empresas norte-americanas, mas quase não aconteceu no Brasil. É questão de tempo para que isso ocorra, segundo Oliveira Jr.
Elaine Tavares, diretora do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai além: “A transformação digital ainda não reconfigurou os setores, mas fará isso”. Por fim, as empresas deverão correr atrás do prejuízo em relação aos talentos, porque o gap em competências digitais é evidente, segundo Tavares.
Horizonte de tempo para isso? Médio prazo.