Uncategorized

O empreendedor-usuário André Garcia

O site Estante Virtual, maior livraria em língua portuguesa do mundo, reúne mais de 1 milhão de títulos e 135 mil sebos de todo o Brasil em uma única plataforma online. Nesta entrevista exclusiva, seu fundador e diretor, André Garcia, fala sobre a filosofia subversiva e inovadora de sua empresa, em que ninguém trabalha mais de seis horas por dia
Colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

**O sonho de muitos empreendedores é vender o negócio e ficar rico. Você vai vender o Estante Virtual?**

Já recebemos muitas propostas nesses nove anos de funcionamento, de grupos de investidores e de livrarias concorrentes. O que nos fez não aceitá-las até agora é que, quando montei a empresa, montei para que fosse diferente e não queremos que o diferencial se perca. Em primeiro lugar, aqui só se trabalham seis horas por dia; isso é uma premissa para os três sócios e os 39 funcionários. Não imagino que o grupo investidor vá entender isso, porque impera a lógica industrial de extrair o máximo das pessoas em detrimento da qualidade de vida. O segundo empecilho é a máxima dos investidores de pensar grande, tendo só o céu como limite, como um já me disse. Eu lhe respondi: “Pensar grande tudo bem, mas sem ser megalomaníaco”. Temos a filosofia de inovar e crescer, mas nossas ambições têm o limite da qualidade de vida. E o terceiro fator é que nunca me vi como um cara com um cheque na mão; não posso dizer que tenho esse espírito. Gosto de trabalhar aqui. Quando tive a ideia do Estante Virtual, não imaginei que fosse ficar rico; pensei em resolver um problema que também era meu, de encontrar livros para minha dissertação. 

**Você é um empreendedor-usuário, que, segundo estatísticas dos Estados Unidos, tende a ter muito sucesso. Você acha que o êxito de seu negócio tem a ver também com o momento, que pede uma visão sustentável?**

Temos compromisso com a sustentabilidade econômica, com a multiplicação das forças de pequenas e médias empresas em detrimento dos gigantes do mercado. Acho que o melhor paralelo de nosso modelo de negócio é o do Airbnb, uma rede de pequenos anfitriões; somos uma rede de pequenos vendedores de livros. 

**Brasileiros leem pouco; para crescer, vocês pensam em vender outros produtos?** 

Como não queremos dominar o mundo, manteremos o foco; queremos ser os melhores em livros. Diria que livros digitais estão em nossos planos. 

**Será que o Estante Virtual aumentou a leitura no Brasil?** 

Acredito que facilitamos, e muito, o acesso dos brasileiros aos livros. Alguns deles, especialmente os universitários, encontram um preço muito alto nas livrarias. E conseguimos proporcionar uma economia de até 94%. Já temos 2 milhões de leitores cadastrados. Acredito também que o que fazemos é promover a diversidade. A maior livraria brasileira online tem no máximo 150 mil títulos em estoque, quando são lançados cerca de 60 livros por dia no Brasil. Mas nós temos 1 milhão de títulos cadastrados e estamos aperfeiçoando nossa ferramenta de indicações para sermos diferentes. 

**Diferentes como?**

As livrarias físicas têm aquela mesa dos mais vendidos; as livrarias online têm as recomendações do tipo “quem comprou isso também comprou aquilo”. Ambas trabalham com a curva de Paretto –20% dos produtos representam 80% das vendas– e insistem nessas listas. Já a gente consegue ajudar a pessoa a descobrir o próprio gosto, a escolher diante de uma oferta muito mais ampla. Ao contrário da frase que diz “ler para ser”, eu acredito que é preciso “ser para ler”. Fugimos do viés estritamente mercadológico. 

**O Estante Virtual provocou a ruptura de seu setor de atividade, em sua opinião?**

O mercado de sebos é unânime em dizer que o Estante Virtual é um divisor de águas. Também inovamos ao ter uma relação direta com nossos clientes, tanto vendedores como compradores. Se, em outros marketplaces, o cliente com problema só pode qualificar mal o vendedor, aqui ele pode contatar por telefone, porque nos posicionamos como corresponsáveis. Em casos extremos, reembolsamos o comprador e desqualificamos o vendedor. 

**É isso que explica o nível de satisfação altíssimo que vocês têm, raro no Brasil?**

Talvez seja por isso, sim, que o nível de satisfação de nossos clientes é tão alto. Nós treinamos muito os vendedores, ajudamos a profissionalizar o setor. 

**Que inovações nós podemos esperar?**

Estamos trabalhando para pessoas físicas venderem no site. Permitimos isso durante um tempo, mas era difícil de administrar, e fechamos as inscrições, limitando os cadastrados aos mil existentes; agora vamos reabri-las. Também estamos aprimorando o sistema para venda de acervos inteiros –nosso sistema é tão grande que nosso banco de dados fica na Lituânia. Como nosso objetivo é sempre melhorar a experiência do cliente final no site, estamos aperfeiçoando principalmente os métodos de pagamento e as indicações, como eu já disse. Graças a uma parceria com o Moip, do iG, desenvolvemos uma plataforma que permite que a pessoa compre de vários vendedores ao mesmo tempo, no mesmo carrinho, e que essa distribuição de valores seja feita da melhor forma. Em 2013, eu visitei vários sebos em dez cidades, pedindo sugestões de melhoria; voltei superanimado para pôr todas em prática. Estimamos que as melhorias podem aumentar as vendas em 30%. Mas precisamos financiar as melhorias, com aumento da taxa cobrada dos sebos –isso gerou algumas queixas, mas já está tudo bem.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

ESG
Para 70% das empresas brasileiras, o maior desafio na comunicação interna é engajar gestores a serem comunicadores dentro das equipes

Nayara Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
A liderança C-Level como pilar estratégico: a importância do desenvolvimento contínuo para o sucesso organizacional e a evolução da empresa.

Valéria Pimenta

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.

Valeria Oliveira

6 min de leitura
Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura