ESG

O ESG e a mudança do papel do board

O conselho de administração deve ser responsável pelo avanço da agenda socioambiental e climática nas organizações, exercendo influência no envolvimento de todos os elos e partes interessadas, com consistência e perenidade
Beatriz Zaplana é gerente estratégia, M&A e ESG na Getnet. É formada pela Universidade Anhembi Morumbi em comunicação social, pós-graduada pelo Centro Universitário Belas Artes em comunicação organizacional e negócios. Especializou-se em finanças corporativas pelo Insper e em mudanças climáticas e o papel dos conselhos pelo IBGC.

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A preocupação com a responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG) dentro das empresas não é um assunto novo e já permeia as práticas de muitas organizações há bastante tempo. Entretanto, o tema ganhou mais destaque nos últimos anos, com a pandemia e seus impactos, seja na cadeia de fornecimento de diversos setores, na emergência de risco climático iminente ou no aprofundamento das desigualdades ao redor do mundo, que soam como um alerta aos resultados financeiros e riscos que uma companhia está exposta.

Hoje, adotar uma agenda sólida de ESG não é somente um imperativo ético para as companhias, mas fundamental em termos de estratégia de negócios, reputação de marca, retenção de talentos e mitigação de risco financeiro.

Na corrida para se enquadrar na tendência, mais organizações passaram a desenhar suas agendas ESG, o que, em si, é um movimento positivo. Mas, como garantir que não fiquem só no campo das boas ideias e intenções, e causem um impacto verdadeiro para os negócios, as pessoas e o mundo? A resposta: tudo começa pela alta liderança.

O movimento aquecido desta agenda no mercado está reformulando as funções e o papel das lideranças, principalmente nas empresas de capital aberto, que cada vez mais estão sendo exigidas a levar em consideração os fatores ESG para cumprir plenamente com seus deveres fiduciários. E isso sem mencionar a tendência crescente de divulgações obrigatórias das ações de ESG aos investidores, que têm olhado com bastante atenção para este tema.

Mas é claro que a pressão dos investidores não é a única razão pela qual os conselhos precisam tomar medidas decisivas em relação à sustentabilidade. As demandas crescentes de clientes, fornecedores, órgãos reguladores e outras partes interessadas evidenciam a necessidade do envolvimento nas questões ESG.

O conselho precisa ser um parceiro estratégico da administração. A partir do momento em que uma empresa se direciona para o ESG, é natural que a composição do conselho administrativo reflita essa característica, reunindo integrantes comprometidos, com certa experiência no tema e que saibam conduzir essa transformação, elaborando e implementando as estratégias, além de atuarem na cobrança por resultados efetivos que gerem valor aos stakeholders. Neste sentido, também é importante a qualificação dos integrantes do conselho em relação ao assunto, como já ocorre em alguns países, nos quais diretores ou membros do conselho de companhias de capital aberto são obrigados a passarem por uma espécie de “letramento” a respeito de ESG e sobre as principais questões que afetarão a economia mundial, como as mudanças climáticas e questões de âmbito social.

Vale ressaltar que, de maneira geral, o papel de um conselho de administração é orientar a direção da empresa a longo prazo, e a agenda ESG, claramente, é um projeto a longo prazo. Com isso em mente, as companhias precisam ter ciência que a transformação ESG começa a gerar valor por meio da estratégia do negócio, conectado ao propósito da empresa.

Contudo, durante a transformação ESG dentro das empresas, é fundamental que haja o envolvimento do conselho, uma vez que seus representantes podem agregar mais valor a este processo de aculturamento, a partir da sólida expertise e bagagem profissional que carregam, juntamente com a visão de riscos e oportunidades que possuem. Por meio de tais conhecimentos e experiências, os integrantes do conselho podem sugerir uma melhor alocação de capital para a sustentabilidade, engajando as partes interessadas para uma direção mais assertiva.

Além disso, o direcionamento estratégico, os compromissos e os valores da companhia em relação à agenda ESG precisam estar claros para os colaboradores desde seu ingresso na companhia, na medida do possível, assim como fazer parte dos critérios de avaliação de desempenho. Na prática, a adoção de ações e políticas ESG deve se dar como a de um código de conduta. Assim, todos os colaboradores podem se enxergar como parte da estratégia do negócio, fortalecendo uma cultura voltada para o tema.

Estabelecer o melhor modelo de governança que seja apropriado para as necessidades dos negócios e para a discussão e acompanhamento das questões ESG é parte fundamental desta jornada e uma questão cada vez mais presente nos questionários de índices de mercado e iniciativas internacionais de reporte e transparência. As empresas precisam determinar quais comitês irão influenciar e suportar a tomada de decisão para questões ESG, bem como monitorar e reportar a performance das iniciativas e compromissos.

Não há como levantar a bandeira ESG sem criar compromissos e metas de desempenho. O modo mais eficiente de garantir o engajamento da alta liderança e o avanço da agenda dentro da companhia é oferecendo incentivos – por exemplo, atrelando o bônus por cumprimento de metas socioambientais e climáticas (redução nas emissões de carbono), diversidade (porcentagem de mulheres na liderança ou de pessoas pretas e pardas no quadro de funcionários).

Atender às demandas dessa nova era não é uma virada de chave que ocorre do dia para a noite, mas é necessário que os conselhos das empresas comecem o quanto antes a tratar do tema de forma estratégica. Os avanços, no entanto, exigem que os conselheiros estejam abertos à mudança e atuem com liderança frente aos investimentos necessários, o aumento de visibilidade da pauta e os demais desafios. Neste processo, também é fundamental que os conselheiros disponham de uma governança ideal como suporte.

Por fim, os conselheiros devem adotar uma postura mais ativa e menos reativa, para serem de fato capazes de orientar a empresa na agenda socioambiental e climática. Com essa atitude, os integrantes do conselho poderão exercer influência por meio do envolvimento de todos os elos e partes interessadas, com consistência e perenidade, para que as companhias possam capturar a vantagem competitiva que o ESG pode oferecer.

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