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O espírito de startup será mantido, não importa o tamanho

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Em 2017, Leandro Caldeira trocou uma carreira de dez anos no Boston Consulting Group (BCG), onde era diretor sênior, pela de CEO Brasil do Gympass. A startup brasileira, fundada em 2012, oferece uma solução inovadora de acesso a atividades físicas para funcionários de empresas. No início de 2019, o fundo japonês Softbank fez um aporte no Gympass, avaliando-o em US$ 1,1 bilhão, o que levou a companhia se juntar ao pequeno grupo de unicórnios brasileiros. Quando Caldeira assumiu o cargo, eram 12 mil academias na rede. Hoje são 21 mil, enquanto o número de empresas e pessoas que utilizam o serviço cresceu cinco vezes. | Por Sandra Regina da Silva.

**1. Como foi o crescimento e a expansão geográfica do Gympass?**

O crescimento entrou na fase exponencial em 2013, quando mudamos o modelo de B2C para B2B, respondendo à demanda de uma empresa – uma das big four de consultoria e auditoria – que queria um modelo diferente ao de comprar diárias avulsas para distribuir para os funcionários. Percebemos a oportunidade, já que só com essa empresa conseguimos ultrapassar o volume do ano inteiro.

Depois dessa primeira estilingada, tivemos o crescimento geográfico, que se deu de forma orgânica, conforme a demanda dos próprios clientes com sede em São Paulo e com colaboradores espalhados pelo País em fábricas, lojas e centros de distribuição. Fomos criando uma rede de academias em volta desses locais para dar a capilaridade que cada empresa precisava. Partimos, então, em busca das empresas que estavam nessas cidades. É o network effect, o efeito de rede. Com mais pessoas usando, mais o interesse das academias que ainda não são parceiras é despertado; com mais pessoas e empresas usando e tendo bons resultados, outras empresas e usuários nos procuram. Em seguida, veio o interesse das multinacionais, nossas clientes, em estender o programa para suas operações em outros países. Estudamos os mercados e vimos que não havia uma solução como a nossa, então iniciamos a expansão internacional a partir de 2015.

**2. Como o Gympass conseguiu abrir tantas portas?**

Ajudamos a resolver um problema relevante na sociedade em geral: o sedentarismo. No Brasil, há 10 milhões de pessoas com matrícula em academias, o que representa apenas 5% da população. Quando lançamos o Gympass numa empresa, na média chegamos a 35% dos funcionários. Temos, então, um grupo adicional de pessoas que eram sedentárias e deixaram de ser. Acompanhamos com as empresas algumas métricas para identificar impactos relevantes. O primeiro é o engajamento, porque as pessoas ficam mais animadas com o trabalho, com a empresa e se relacionam melhor com os colegas.

O segundo, que é bem tangível, é a redução do sinistro de saúde. Apesar de passar a fazer mais exames, a pessoa foca mais na prevenção, evitando chegar a problemas graves, que custam muito para o sistema. Conseguimos também fazer a correlação entre a frequência de atividade física e a redução do absenteísmo, as faltas ao trabalho não justificadas. Por fim, há impacto no turnover voluntário, principalmente na população mais da base, do operacional. Descobrimos que os que fazem atividade física de forma incentivada pela empresa faltam menos. Quando combinamos todos esses fatores, a empresa consegue criar valor com a atividade física, e vê resultado ao longo do tempo.

**3. Quais são os próximos passos?**

Queremos levar nosso modelo aonde existir demanda, e há muita oportunidade no Brasil. Em paralelo, estamos avaliando outros países, principalmente pelas demandas dos nossos atuais clientes com operações no exterior. Para os atuais clientes, buscamos sempre enriquecer nossa proposta, ou seja, ter cada vez mais academias, oferecer mais modalidades e garantir opções com diferentes faixas de preços. Também queremos melhorar a experiência dos usuários. Estamos investindo bastante em tecnologia, em três frentes: o usuário final, com o aplicativo; o RH, com o qual trocamos base de dados e fornecemos um painel para a gestão do programa; e a academia, para a qual levamos informações, ajudamos na escolha de equipamentos e na melhora das avaliações recebidas.

**4. O que motivou você a trocar o BCG pelo Gympass?**

Foi uma combinação de fatores. O primeiro está relacionado à missão, com a qual me conecto muito. O esporte e a atividade física me ajudam muito na vida pessoal e na profissional. Estar numa empresa que quer levar isso a mais pessoas me satisfaz. 

Outra motivação foi o fato de ser uma empresa brasileira que está fazendo uma disruptura no mercado em que atua, com um modelo de negócio novo, que gera valor para todo mundo que participa e que, a partir do Brasil, leva isso para outros países. As pessoas, pela qualificação técnica e de backgrounds e por terem a cabeça aberta, completam o que me atraiu. Por mais que eu estivesse gostando muito da carreira na consultoria, pensei: “Nossa, esse trem aqui não passa toda hora, deixa eu pular nele!”. Eu estava quase virando sócio no BCG e, quando comuniquei minha saída, falei com tanta empolgação que nem argumentaram.

**5. Que tipo de líder você é? E o que mudou de 2017 para cá?**

Sou um líder conectado com a nossa missão, o que facilita muito quando vou me comunicar com o time, porque é genuíno. Dentro do Gympass, eu me interesso pelo trabalho de todos; circulo, atendo ao telefone, vou resolver problemas com as pessoas. A liderança do Gympass preza pela comunicação transparente e pragmática. Combinamos o jogo e é normal, às vezes, alguém dar um feedback mais duro para o outro, mas isso acontece com todos na sala, sem falar pelas costas. Isso gera um ambiente de confiança e é fundamental para sermos ágeis, mas também evita que algo vire uma bola de neve, o que atrapalharia o dia a dia da empresa. Também uso o produto. Já usei 50 academias diferentes, desde 2017. Graças à atividade física diária, durmo bem, sou calmo, centrado e pouco volátil. Quando não faço academia, tenho um dia pior. Então, sei bem a experiência do usuário na academia. O que mudou do BCG para o Gympass é que lá os times eram mais enxutos e homogêneos, enquanto aqui são maiores e de grande diversidade em todos os aspectos. Precisei adaptar o meu jeito de gerenciar. Além disso, como consultor, é feito o cenário, mas a decisão não é sua, e sim do cliente. Aqui continuo fazendo o cenário, mas tenho que tomar a decisão também.

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