Assunto pessoal

O esporte como inspiração para a carreira e a vida

O esporte de alto desempenho tem práticas que também servem a uma carreira bem-sucedida e feliz

Cristiana Pinciroli

Uma das pioneiras do polo aquático feminino brasileiro (1987 a 1998); fez carreira na Europa...

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> “Ele pediu autorização ao salva-vidas. Entramos na água devagarinho, sentindo a temperatura, a velocidade e o ritmo das ondas. Ali ficamos por um tempo, como se pedíssemos permissão ao mar para seguirmos com a nossa aventura. Chegamos a um ponto onde meu pai disse: “Veja, Cris, estamos mais longe que os surfistas”. Senti um frio na barriga, mais gelado que a própria temperatura da água naquela hora da manhã. Com os olhos arregalados, eu me agarrei às costas de meu pai. Ele estava calmo, confiante e vibrava de orgulho pela nossa peripécia.”

O parágrafo acima, que eu trouxe do meu livro [Esporte, um Palco para a Vida](https://www.amazon.com.br/Esporte-um-palco-para-vida/dp/6586119596/ref=asc_df_6586119596/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379792423154&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=13013964746971523137&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=1001650&hvtargid=pla-1365852994026&psc=1), é uma das primeiras memórias que tenho sobre ir além de meus limites. Meu pai, Pedro, atleta olímpico de Tóquio-1964 e México-1968, me ensinava com amorosidade e, ao mesmo tempo, com desafios crescentes, a ter coragem para experimentar, não obstante o medo que sentia. Eu me refiro a meu pai no livro como “lindo inimigo”, aquele tipo de pessoa que escolhemos como parte de nossas vidas não somente para celebrar conquistas e alegrias conosco, mas para nos ajudar a enxergar os pontos cegos e a persistir quando nossa vontade é desistir de tudo. E, agora, observo esses aprendizados e ajo de forma similar com minhas três filhas, sendo que a mais velha, Alissa, ingressou em seu primeiro ano na Stanford University como estudante atleta.

O esporte me moldou para a vida de atleta profissional, de executiva do mercado financeiro por 23 anos, de mãe e de especialista em alta performance. Como? Descobri que nós, atletas, treinamos nosso “músculo mental” com experiências gradativas e repetitivas que nos ensinam a ter a flexibilidade e a confiança necessárias para lidar com situações inesperadas, muitas vezes até dolorosas. E esse treino pode nos acompanhar por toda a vida.

Após muita reflexão, entendi que o modo de alcançar excelência e felicidade na carreira e na vida é bem parecido com o que fazemos no esporte. Precisamos seguir nove princípios-chave:

1. ter uma boa base de sustentação que nos fortaleça e, assim, nos dê liberdade de escolha;
2. conectar-se com sua força interior para conseguir lidar com os desafios que surjam e para buscar seus sonhos;
3. cultivar em si mesmo a coragem para agir e para ir além – como no episódio do mar;
4. identificar um significado na fase atual de sua vida que o inspire, o direcione e ampare suas escolhas;
5. criar o hábito de aprender em qualquer circunstância – com a vitória e também com a derrota. O fato é que a cada disputa surge um novo desafio que exige aprendizado, e cada erro traz uma lição que representa uma oportunidade de acerto futuro;
6. treinar com regularidade para realizar seu máximo potencial, o que significa visar o fortalecimento do corpo e da mente {veja o quadro abaixo};
7. cuidar dos relacionamentos em equipe – o esporte nos prova todos os dias quão grande é o poder da colaboração para que nós alcancemos nossos objetivos;
8. descansar com regularidade – assim como precisamos de momentos de prática, dedicação extrema e autossuperação, necessitamos de momentos de repouso, tranquilidade e recuperação para carregar nossos repositórios de energia;
9. sair da zona de conforto com alguma frequência, por mais clichê que isso pareça. Seja nos desafiando a ir além no que já fazemos, seja escolhendo um caminho novo sem saber se será realmente o melhor. Por mais clichê que pareça, é difícil.

Como treinar a saúde mental

1. Fomos feitos para nos mover. Com prática consistente você melhora seu preparo físico e usufrui de todos os benefícios emocionais e mentais.

2. Não se cobre demasiadamente e lembre-se de que tudo começa com pequenas mudanças.

3. Escreva um diário com suas emoções, momentos de gratidão, fatos curiosos e descobertas sobre si mesmo.

4. Utilize rituais de energização ao longo do seu dia como meditação, fazer uma pausa no dia para almoço e ter contato com a natureza.

5. Seus relacionamentos são os maiores indutores da felicidade. Priorize-os.

Você pode estar se perguntando por que tenho tanta convicção de que essas lições do esporte de alta performance se aplicam a nossas carreiras e a nossas vidas. Em parte, por minha experiência pessoal, mas também por observar as pessoas em geral.

A dedicação no trabalho para poder subir de cargo, o foco nos estudos para ser aprovado no vestibular, o zelo com as relações familiares e amizades, a atenção com nossa saúde integral para ter uma jornada de sucesso e felicidade, tudo isso tem paralelo com uma competição esportiva e exige igual disciplina para seguir os nove princípios.

Sementes de grandeza existem em cada um de nós. Então, hoje, meu foco é apoiar pessoas para que cultivem as suas. Quando olho para a minha primogênita, Alissa, e a vejo conciliar seus estudos com a vida de atleta do polo aquático, dando continuidade ao legado construído pelo avô, meu pai, sei que isso é perfeitamente possível. Quando olho para minhas duas filhas mais novas, Giorgia e Olívia, que também estão trilhando suas jornadas pessoais norteadas por suas paixões e descobertas, também sei que isso é totalmente possível.

Acompanhar o desenvolvimento de minhas filhas e meus clientes me enche de orgulho, o mesmo orgulho que meu pai sentiu naquela manhã em que nadamos juntos bem no fundo do mar.

Agora é a minha vez de repassar os aprendizados que tive para ver as pessoas irem além do que sonhavam conseguir.

__Leia mais: [O maior risco é não correr nenhum risco](https://www.revistahsm.com.br/post/o-maior-risco-e-nao-correr-nenhum-risco)__

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