Melhores para o Brasil 2022

O futuro das pessoas com deficiência

Em 2009, o brasil reconheceu os direitos das pessoas com deficiência. O próximo passo é lhes garantir senso de pertencimento
É sócio e COO da Egalite, conselheiro do Instituto EY e da Handtalk, psicólogo, comunicador e docente dos MBAs de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Gestores da FGV, professor da Fundação Dom Cabral, HSM University, Escola de Comunicação ABERJE e da Pós-graduação em Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês. É CEO da REIS - Rede Empresarial de Inclusão Social. Representa o Brasil anualmente na conferência internacional da OIT em Genebra sobre inclusão da pessoa com deficiência e o futuro do trabalho.

Compartilhar:

Em novembro de 2019, a convite da Organização Internacional do Trabalho (OIT), parti em direção a Genebra, na Suíça, para debater sobre como tornar o futuro do trabalho mais inclusivo para pessoas com deficiência.

Foi um exercício de futurismo coletivo. Centenas de especialistas em diversidade e inclusão (D&I) do mundo inteiro se juntaram para apresentar cases, recursos e soluções já implantados com sucesso, discutir meios e desenhar uma jornada para construir hoje um amanhã que não deixe ninguém para trás, especialmente os mais vulneráveis socialmente, incluindo pessoas com deficiência.

Já sabíamos (ou fazíamos alguma ideia, ao menos) que o futuro iria nos apresentar grandes desafios – no mundo do trabalho em particular. E que esses desafios previstos teriam de ser enfrentados antes de se materializarem. (Executivos e consultores dizem a mesma coisa sobre a transformação digital nas organizações.) Mas, de repente, entendemos que não havia mais tempo; os desafios já estavam virando a esquina – tanto os do trabalho como os de tecnologia.

A pandemia da Covid-19 veio, com o trabalho remoto a reboque, e só fez confirmar e amplificar os dois conjuntos de desafios, correlacionando-os. Arrisco dizer que ainda não enxergamos a tota­li­dade da mudança ocorrida. Foi uma avalanche que fez tanto as empresas promotoras do trabalho remoto como as neutras e detratoras (para usarmos os termos do Net Promoter Score, o NPS) implantá-lo em espantosos 15 dias. O curioso, porém, pelo foco do nosso artigo, foi o que se seguiu.

## Uma coisa leva a outra
Num primeiro momento, só ouvíamos clientes perguntarem sobre quais as melhores plataformas para a colaboração digital de times – e a produtividade aumentou de 10% a 15%. Num segundo momento, as conversas eram sobre afastamentos, casos de burnout e outras doenças mentais. Em grau maior ou menor, todas as empresas, dos mais diversos setores, passaram a abordar a saúde mental, com a oferta de sessões virtuais de atividade física, mindfulness e rodas de conversa dos grupos de afinidades. (Como aqui na EY, por exemplo.)

Uma coisa leva a outra, e tanto a aceitação do trabalho remoto como a empatia com questões de saúde mental levaram a uma discussão mais profunda de D&I e, muito particularmente, àquela relacionada a pessoas com deficiência, uma vez que a mobilidade pode ser um obstáculo para uma boa parte desse público. E, de alguma maneira, a sensação de que não havia mais tempo foi atenuada.

## Efeito colateral da pandemia e o futuro
No Brasil, quando olhamos pelo prisma da interseccionalidade, as pessoas com deficiência são provavelmente o grupo mais vulnerável. [Interseccionalidade é uma teoria interdisciplinar que visa apreender a complexidade das identidades e das desigualdades sociais com um enfoque integrado, sem hierarquizar os grandes eixos de diferenciação social – sexo/gênero e identidade de gênero, classe, raça, etnicidade, idade e deficiência.]

Apesar da chamada “Lei de Cotas”, segundo a qual as empresas devem ter entre 2% e 5% de PcDs entre seus colaboradores, poucas empresas cumprem a legislação e buscam refletir essa parcela da sociedade em seus quadros. O principal desafio é que não há quase ambiente favorável para que pessoas com deficiência trabalhem, o que se vê na persistência das diversas barreiras descritas na Lei Brasileira de Inclusão de 2015, sendo a barreira atitudinal, talvez, a mais importante delas, por dificultar demais o cumprimento da promessa de oferecer igualdade de oportunidades, seja de trabalho, seja de estudo.

Por isso, a estrutura digital criada ou ampliada e o novo hábito do trabalho remoto podem ter impacto significativo sobre o futuro das pessoas com deficiência, ao menos no mundo do trabalho, uma vez que o modelo híbrido tende a se estabelecer – prevê-se que o retorno ao escritório siga um modelo 2 por 3 – dois dias de trabalho presencial e três de remoto ou vice-versa.

A atuação online facilita demais a integração do público PcD no trabalho, no estudo e na vida pessoal. No trabalho, pela redução da necessidade de deslocamentos e do desgaste físico potencial. No estudo, pela normalização da educação a distância (EAD). Na vida pessoal, por compras facilitadas, física e emocionalmente. Posso falar por experiência própria: os consumidores PcD puderam consumir sem sofrer discriminação.

Isso abre uma interessante porta para o futurismo com o viés das pessoas com deficiência. E, se somado aos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas para 2030 (quatro deles se referem à diversidade), cada vez mais influentes no mundo organizacional, há razão para otimismo.

Não falei de futuristas com deficiência, mas basta lembrar que um dos maiores foi o físico Stephen Hawking, que faleceu em 2018. Mas falo de um futurismo que integre as pessoas com deficiência e que derive do presente modificado pela pandemia estendido, evoluído. De um futuro em que o diversity-washing fique insignificante, porque desnecessário, e no qual a palavra “pertencimento” se agregue à dupla “diversidade e inclusão”. Afinal, com segurança psicológica de quem pertence a um lugar, o público PcD e todos os grupos minorizados terão a chance de inovar e voar alto.

Compartilhar:

É sócio e COO da Egalite, conselheiro do Instituto EY e da Handtalk, psicólogo, comunicador e docente dos MBAs de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Gestores da FGV, professor da Fundação Dom Cabral, HSM University, Escola de Comunicação ABERJE e da Pós-graduação em Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês. É CEO da REIS - Rede Empresarial de Inclusão Social. Representa o Brasil anualmente na conferência internacional da OIT em Genebra sobre inclusão da pessoa com deficiência e o futuro do trabalho.

Artigos relacionados

Todo ano é de aprendizado, mas 2025 foi ainda mais

Crédito caro, políticas públicas em transição, crise dos caminhões e riscos globais expuseram fragilidades e forçaram a indústria automotiva brasileira a rever expectativas, estratégias e modelos de negócio em 2025

ESG
30 de dezembro de 2025
No dia 31 de dezembro de 2025 acaba o prazo para adesão voluntária às normas IFRS S1 e S2. Se sua empresa ainda acha que tem tempo, cuidado: 2026 não vai esperar. ESG deixou de ser discurso - é regra do jogo, e quem não se mover agora ficará fora dele

Eliana Camejo - Conselheira de Administração pelo IBGC e Vice-presidente do Conselho de Administração da Sustentalli

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Aprendizado
30 de dezembro de 2025
Crédito caro, políticas públicas em transição, crise dos caminhões e riscos globais expuseram fragilidades e forçaram a indústria automotiva brasileira a rever expectativas, estratégias e modelos de negócio em 2025

Bruno de Oliveira - Jornalista e editor de negócios do site Automotive Business

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
29 de dezembro de 2025
Automação não é sobre substituir pessoas, mas sobre devolver tempo e propósito: eliminar tarefas repetitivas é a chave para engajamento, retenção e uma gestão mais estratégica.

Tiago Amor - CEO da Lecom

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
26 de dezembro de 2025
Reuniões não são sobre presença, mas sobre valor: preparo, escuta ativa e colaboração inteligente transformam encontros em espaços de decisão e reconhecimento profissional.

Jacque Resch - Sócia-diretora da RESCH RH

3 minutos min de leitura
Carreira
25 de dezembro de 2025
HSM Management faz cinco pedidos natalinos em nome dos gestores das empresas brasileiras, considerando o que é essencial e o que é tendência

Adriana Salles Gomes é cofundadora de HSM Management.

3 min de leitura
Liderança, Bem-estar & saúde
24 de dezembro de 2025
Se sua agenda lotada é motivo de orgulho, cuidado: ela pode ser sinal de falta de estratégia. Em 2026, os CEOs que ousarem desacelerar serão os únicos capazes de enxergar além do ruído.

Bruno Padredi - CEO da B2B Match

2 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
23 de dezembro de 2025
Marcela Zaidem, especialista em cultura nas empresas, aponta cinco dicas para empreendedores que querem reduzir turnover e garantir equipes mais qualificadas

Marcela Zaidem, Fundadora da Cultura na Prática

5 minutos min de leitura
Uncategorized, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
22 de dezembro de 2025
Inclusão não acontece com ações pontuais nem apenas com RH preparado. Sem letramento coletivo e combate ao capacitismo em todos os níveis, empresas seguem excluindo - mesmo acreditando que estão incluindo.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

4 minutos min de leitura
Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança