Dossiê HSM

O futuro das pessoas e da gestão

Quatro pilares, em atuação interdependente, permitem antecipar os próximos anos das empresas: sustentabilidade, capital, trabalho e inovação

Falconi Consultores

O artigo é de autoria coletiva da Falconi Consultores, escrito a 14 mãos pela presidente,...

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Prever o futuro talvez seja um exercício esotérico, mas planejar para o futuro é um exercício fundamental para empresas. Se por um lado empresas de grande porte ficam mais enxutas com a digitalização acelerada, negócios pequenos ganham relevância e começam a concorrer com grandes negócios.

Empresas de todos os tamanhos precisam se tornar negócios digitais, com segurança, agilidade e capacidade de adaptação. Traçar a direção a seguir nos próximos três ou cinco anos é o que vai nortear a evolução ou a transformação de empresas.

Há quase uma década apoiávamos a estratégia de uma empresa no “plano 2020”, que parecia distante o suficiente para alcançarem a visão. E 2020 chegou, tão rápido, tão incerto e tão duro. Mas esse foi um marco histórico. No Brasil, todo o contexto de 2020 provocou, acentuou ou acelerou mudanças muito importantes em quatro pilares-chave que certamente influenciarão os próximos anos das empresas, de maneira interdependente: sustentabilidade, capital, trabalho e inovação.

## Sustentabilidade e capital
O ano de 2020 abriu as portas para o desenvolvimento sustentável. A percepção de riscos empresariais, de vulnerabilidade e o repensar de valores demandam um posicionamento mais sustentável das empresas, de marcas e dos seus líderes. Resultados econômico-financeiros continuam importantes, mas não são suficientes. De resultados passamos à geração de valor, abrangendo curto, médio e longo prazos, como fruto de um conjunto de dimensões sobre as quais cada empresa tem responsabilidade: seu impacto na sociedade, no meio ambiente, nas pessoas e nas relações éticas com todas as partes com as quais se relaciona. A evolução nessas dimensões estará diretamente relacionada à perpetuidade dos negócios.

A adoção de práticas ESG (meio ambiente, social e governança) deixará de ser um diferencial e se tornará mandatória para empresas que almejam crescer ou manter clientes, funcionários e investidores. Essa é uma jornada que não admite superficialidade, deve ir além dos powerpoints. Precisa estar pautada no propósito da empresa, que será a afirmação de sua identidade. O trabalho em ESG deve ser perene, não um projeto temporário implementado por uma força-tarefa. A implementação deve ser estruturada e trazer resultados mensuráveis em todas as dimensões citadas. Para tanto, ESG deve fazer parte do modelo de negócio da empresa e de suas estratégias, desdobradas para envolver todos os níveis da organização, tornando-se modelo mental do time e da cultura da empresa.

Nessa tendência, o setor financeiro ressalta a relevância do tema ao incluir critérios de sustentabilidade para priorizar investimentos, criando espaço também para uma futura bolsa de valores voltada a negócios menores e de impacto social. Em capital, para um país com taxas de juros historicamente altas, uma taxa tão baixa mudou a regra do jogo. Há maior interesse e disponibilidade de recursos para a economia real. Como consequência, o crescimento dos fundos de venture capital (os VCs) no Brasil fomenta o já crescente interesse em startups no âmbito dos investimentos privados, e deve fazer parte da estratégia das empresas como inovação e investimento.

## Trabalho
Divergindo de previsões proféticas sobre o fim de escritórios e a migração dos centros urbanos para cidades periféricas, acreditamos no trabalho parcialmente remoto como modelo mais frequente. Depois de tantos meses privados de convívio, a necessidade gregária do ser humano foi reafirmada. Reuniões virtuais indubitavelmente trazem eficiência, mas é difícil manter a coesão cultural da empresa em um ambiente de negócios relacional como o brasileiro, onde muita coisa era resolvida no café, no corredor. Ao modelo parcialmente remoto somam-se formas de contratação mais flexíveis, por entregas ou projetos, e modelos de carreira com diversas ramificações, como resposta à velocidade das transformações.

As mudanças no modelo de trabalho e seus impactos nas relações profissionais resultarão em novos modelos organizacionais. Modelos anteriores eram construídos para uniformizar o controle e devem ser substituídos por novas dinâmicas que promovam maior criatividade, velocidade e responsabilidade das pessoas. O controle sobre atividades cederá espaço para a autonomia e para o protagonismo de pessoas e times.

Os líderes deverão definir mais claramente as entregas e os resultados esperados, prover os recursos necessários e desafiar o time a desenvolver seu próprio caminho, a tomar suas decisões. Delegação e autonomia mudarão de patamar em modelos organizacionais mais simples e horizontalizados. Engajar o time nesse novo patamar demandará mais transparência das lideranças e da empresa, elemento fundamental na construção e no fortalecimento da confiança.

Se as novas relações de trabalho trazem uma pitada do modelo startup para as empresas tradicionais, vem daí também o empurrão para a inovação. Até 2020 muitas empresas procrastinavam a inovação em seus negócios. Algumas esperavam determinadas soluções “amadurecerem” no mercado, o custo de certas tecnologias baixar, outras achavam que isso não eratão urgente ou eram simplesmente ineficazes em suas inovações.

O ano de 2020 disruptou essa mentalidade. Inovação surgiu como modo de sobrevivência no momento agudo da crise, mas sua importância vai muito além. Inovação gera capacidade de adaptação nas empresas e lhes permite propor uma nova dinâmica ao mercado e novos hábitos aos consumidores. Porque, se sua empresa não o fizer, alguém o fará.

## Inovação
Inovação e tecnologia andam juntas. No Brasil, tecnologias no campo da inteligência artificial (IA) precisarão ganhar velocidade e ampliar a disseminação. Para isso, desmistificar a IA é o primeiro passo. Ela deixa de ser um tópico acadêmico e distante, passando a ter um papel central na resolução de problemas práticos das empresas.

Um dos paradigmas mais promissores do machine learning, o aprendizado por reforço, deverá se consolidar nos próximos anos como uma alternativa viável para os problemas de negócio. Aqui, busca-se criar agentes inteligentes que aprendem a alcançar objetivos por tentativa e erro, interagindo com o ambiente ao longo do tempo. A consolidação dessa tecnologia poderosa e flexível no ambiente de negócio elevará os patamares de resultados de diversos setores, desde a otimização do portfólio de investimentos até o controle de sistemas industriais complexos.

Os avanços nas técnicas de aprendizado de máquina dedicadas ao processamento de linguagem natural vão viabilizar tarefas complexas, como desenvolver um novo design de produto, utilizando somente descrições em texto livre. Essa capacidade vai expandir muito o número de profissionais aptos a utilizar IA para gerar resultados práticos no seu dia a dia, o que vai acelerar o profundo processo de transformação que essa tecnologia gera no mercado de trabalho. Por fim, o crescente impacto da IA na sociedade tornará cada vez mais prementes os avanços em modelagem causal, interpretabilidade de modelos complexos e privacidade, com o objetivo de atender as novas exigências éticas e legais associadas à utilização desses sistemas.

Aliado à inteligência artificial, o uso de Low-
-code e No-code permitirá a inovação em escala. Envolver tecnologias prontas e acessíveis para trazer o poder de modularidade, aprendizado e integração trará a tecnologia ao alcance de qualquer área, extrapolando a TI. Esse será um caminho importante para oferecer a melhor experiência. O conceito de experiência do cliente se expande para experiência total, de criação da melhor experiência geral para todas as partes, combinando a experiência do cliente (CX), do funcionário (EX) e do usuário (UX).

Entender de maneira mais profunda o comportamento dos consumidores, e o que eles desejam em curto, médio e longo prazo, passa a ser ainda mais relevante para os negócios, com coleta de dados a partir de interações digitais e estudos etnográficos. Além de ser utilizado para entender o comportamento dos consumidores, os dados das pessoas podem ser utilizados para influenciar comportamentos (fala-se já em IoB – sigla em inglês de internet dos comportamentos), podendo se tornar uma ferramenta poderosa para organizações públicas e privadas.

A inovação provoca forte mudança também na gestão. Inovação aberta será expandida para “gestão aberta”, uma vez que as empresas estarão cada vez mais conectadas com ecossistemas de parcerias e alianças. Em breve, o ecossistema será mais importante que as empresas. Estas serão grandes plataformas modulares nas quais as funções de apoio e soluções finalísticas poderão contar com módulos externos, que poderão ser intercambiáveis à medida que melhores soluções surgirem. O grande desafio será a integração e as interfaces entre os módulos, que poderão ser gerenciados com aplicação de inteligência artificial para assegurar a função de um grande sistema aberto. A gestão estratégica, entretanto, permanecerá como uma atribuição essencialmente humana e proprietária da empresa.

## Interdependência
Por fim, a combinação dos pilares de inovação, tecnologia e novas relações de trabalho requer competências e habilidades multifuncionais para as quais não estamos preparados. De acordo com o último relatório The future of jobs do Fórum Econômico Mundial (outubro de 2020), 40% das habilidades dos profissionais tidas como essenciais hoje mudarão.

O trabalho do futuro requer human skills, cujo desenvolvimento deve combinar conceitos teóricos e a experiência prática, sem a qual o aprendizado não se consolida. Aqui também a inteligência artificial nos ajudará a compreender mais profundamente os indivíduos para orientar seu desenvolvimento naquelas necessidades a serem estimuladas para que eles possam contribuir plenamente com os objetivos organizacionais.

Ficam em xeque os treinamentos tradicionais, pasteurizados. Múltiplos instrumentos de aprendizagem precisam ser combinados dentro de um ambiente de comunidade que propicie colaboração e troca de experiências, para que os estímulos mantenham o profissional engajado em seu desenvolvimento. Senão sempre haverá algo mais cativante no streaming.

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