Reportagem

O futuro do trabalho será positivo, mas não para todos

Dado o papel central que o trabalho tem para as pessoas como componente de identidade e significado para a vida, o estudo "Topografias de trabalho", realizado por Chie Integrates e HSM Management, com a plataforma Shifting Horizons, visa investigar o impacto potencial que futuros arranjos e formatos de vida e trabalho

Compartilhar:

Quais são os padrões e sinais que os profissionais de organizações brasileiras estão emitindo sobre o que o trabalho significará para eles no futuro?

Uma pesquisa pioneira com 1.215 respondentes de diversos perfis demográficos no Brasil, realizada por Chie Integrates e __HSM Management__, buscou endereçar essa pergunta, correlacionando as respostas dos entrevistados com seus estágios de maturidade cognitiva, estágios de “lógicas de ação”, que podem ser cinco: diplomat (estágio anterior), expert, achiever (estágios intermediários, convencionais), redefining e transforming (estágios maduros, pós-convencionais).

Os principais achados da pesquisa são listados e detalhados a seguir:

– Os respondentes foram provocados a criar narrativas sobre seus trabalhos do futuro, e mais de 82% deles classificaram as próprias narrativas como “muito positivas” ou “positivas”.
– Entre esses 82%, os sentimentos mais citados nas respostas sobre o futuro foram confiança, evolução e esperança.
– Dos respondentes, 25% indicaram que uma narrativa positiva como a deles deverá ocorrer para uma minoria da população brasileira.
– Dentre esses 25%, destacaram-se narrativas de superação ou conquistas pessoais, tais como uma promoção profissional, um projeto bem-sucedido com cliente, a superação de um momento difícil no trabalho, a entrada e/ou conclusão do curso superior.
– Projetando esses resultados para o Brasil, descobre-se que a confiança e a esperança no futuro se referem à probabilidade de sucesso pessoal, mais do que a contextos coletivos.
– Pessoas que se encontram em estágios mais maduros de lógicas de ação tendem a ter uma visão sobre o trabalho no futuro menos apegada a formatos e modelos vigentes nos dias atuais do que aquelas mais convencionais, que projetam o futuro similar ao presente em formatos e modelos de trabalho.

A seguir, detalhamos os comportamentos do futuro narrados.

### Principais resultados
As lógicas de ação dos atuais e futuros profissionais brasileiros das empresas

A proximidade entre os pontos nas representações gráficas abaixo corresponde às similaridades de significado entre as narrativas sobre o trabalho no futuro, enquanto a cor indica correspondência com um dos cinco estágios de lógica de ação citados na pesquisa. Foi utilizada a nomenclatura em inglês para os estágios de lógica de ação, pois a tradução em português poderia gerar conotações equivocadas do que cada estágio significa.

![Thumbs HSM 157-16](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/5s7QPG4axvZ0BnWm17Yrlt/5dfbe03e1bb132cf90789fcb7e31f8a4/Thumbs_HSM_157-16.png)

![Thumbs HSM 157-17](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4W8BM30qVNVM9xwBkwUVeb/9ed38c7e1e6450044b537da2ea1931fb/Thumbs_HSM_157-17.png)

## Trabalho igual, em tempo parcial
Ainda prevalente hoje, o formato tradicional de relação de trabalho, que consiste em servir a uma organização específica em tempo integral, apareceu em apenas 18% das narrativas. A maioria se vê em um formato híbrido ou part-time jobs. O tempo dedicado ao trabalho mostrou ser o aspecto que a maioria das pessoas identifica como a mudança mais marcante que deverá ocorrer no trabalho no futuro em relação ao trabalho dos dias atuais.

## Impacto apenas para si
O estímulo por trás da maioria das narrativas é, em 41% dos casos, um propósito. No entanto, o propósito muitas vezes está relacionado apenas com o sucesso e o desenvolvimento individuais, e não, por exemplo, com a geração de impactos socioambientais de interesse coletivo.

## Como as lógicas de ação interferem
Predominaram na amostra profissionais nos estágios convencionais de lógicas de ação, especialmente no estágio achiever (52,8%). Isso era esperado, devido ao predomínio de jovens entre os respondentes.

Mas, seja entre achievers, seja entre representante de outros tipos de lógica de ação, verificamos uma correlação clara entre o nível de maturidade das pessoas e o significado que estas conferem ao trabalho no futuro.
Veja o que disseram…

### …Os diplomats
– “Espero seguir carreira profissional como desenvolvedor de jogos e modelador 3D participando de vários projetos diferentes, mas preciso fazer isso acontecer sozinho, para ser reconhecido com o trabalho que faço, como se fosse um youtuber começando com seu canal; se ele não trouxer conteúdo de uma boa qualidade, pode ser que ele não se torne um grande canal no futuro, assim como modelador 3D e desenvolvedor de jogos, em que é preciso fazer alguns trabalhos sozinho para mostrar às empresas em que queira trabalhar ou para quem estiver contratando você para fazer apenas um serviço rápido.”
– “Daqui a cinco anos estarei bem e quero sempre evitar problemas e confusão.”

### …Os experts
– “Hoje recebi um feedback positivo referente a um trabalho bem feito, fiz todas as demandas, e a campanha para a marca foi bem-sucedida.”
– “Mais um dia acordando e me arrumando para ir trabalhar em uma empresa legal, onde aprendo e tenho boas experiências.”

### …Os Achievers
– “Hoje há mais um projeto para ser feito em grupo, mas desta vez eu irei liderar. Nunca liderei um projeto antes e estou com medo de tudo dar errado; talvez eu peça ajuda ou apenas desabafe com alguém. O projeto é para uma microempresa que deseja ter um site para realizar suas vendas; estou encarregada de pensar no design, e o resto da equipe vai trabalhar na parte sistêmica, na implementação etc. Preciso manter a calma e revisar as demandas do cliente para repassar para minha equipe.”
– “Estou na empresa ajudando meus parceiros de trabalho a realizar um projeto para entregar amanhã, e precisaremos virar a noite para entregá-lo. Se for preciso, eu fico aqui até amanhã auxiliando nesse projeto. Até porque é um trabalho em equipe, devemos trabalhar unidos, mas pessoas desta equipe não querem ficar e não aceitam o fato de virar a noite realizando o projeto. Tudo bem!! Eu posso ficar aqui no lugar de alguns, sem problemas. Posso fazer meu trabalho, por mim e pelo próximo.”

### …Os redefinings
– “Estou em casa e trabalho a maior parte do tempo home office, o que me proporciona flexibilidade de agenda. Essa agenda é parte dedicada a meu trabalho para o mundo e pessoas, e parte para meus interesses pessoais de aprofundamento e desenvolvimento. Atendo tanto grupos de pessoas quanto individualmente, pois sou reconhecido como relevante no que faço, e minhas abordagens são reconhecidas pelas pessoas que me contratam. Eventualmente viajo para atuar em workshops e atividades in-company, e viajar faz parte da minha vida, de forma equilibrada. Tenho um bom equilíbrio de vida em minhas atividades e sinto-me conectado a meu propósito. Também participo de reuniões, conversas com times e não trabalho sozinho; tenho uma equipe que trabalha comigo em entregas significativas.”
– “Eu continuo amando trabalhar e estar com uma equipe! Imaginava que eu poderia dar uma paradinha, mas o trabalho vem a mim o tempo todo! Uma honra trabalhar com tanta gente criativa e amorosa!”

### …Os transformings
– “Realizações ao longo do dia, viver cada momento com presença efetiva, ouvir atentamente nas diversas interações, estar feliz por ver outros se desenvolverem (e, ao mesmo tempo, eu também evoluo).”
– “Hoje participei de uma reunião em que foram definidas novas estratégias para assistência em saúde para a população no Brasil. Os modelos desenvolvidos por nós influenciaram o SUS a criar novas formas de navegação e coordenação do cuidado de idosos e pacientes oncológicos, a partir dos usos de dados regionais e nova abordagem assistencial.”

Saiba mais sobre as lógicas de ação

Diplomats. Servem ao grupo, buscando agradar aos colegas de status mais alto e evitar conflitos. Querem ter o controle sobre o próprio comportamento mais que sobre pessoas e eventos externos. Creem que mais influência vem de cooperar com as normas do grupo e desempenhar bem.

Experts. Tentam exercer o controle aperfeiçoando seu conhecimento, tanto na vida profissional quanto pessoal. Seguros de sua experiência, apresentam dados concretos e lógica nos esforços para obter adesão a suas propostas.

Achievers. Têm uma compreensão mais complexa e integrada do mundo do que as lógicas de ação anteriores. Estão abertos a feedback e percebem que muitas das ambiguidades e conflitos da vida se devem a diferenças de interpretação e de formas de relacionamento. Sabem que resolver conflitos requer capacidade de influenciar os outros de modo positivo. E podem equilibrar objetivos imediatos e de longo prazo.
Redefinings. Colocam personalidades e formas de relacionamento em perspectiva e se comunicam bem com pessoas que têm outras lógicas de ação. O que os diferencia dos achievers é a consciência de um possível conflito entre seus princípios e suas ações, ou entre os valores do grupo e a implementação desses valores. Esse conflito se torna fonte de tensão, criatividade e um desejo crescente de desenvolvimento adicional.

Transformings. São indivíduos hábeis em criar visões compartilhadas entre diferentes lógicas de ação – ou seja, entre diferentes visões que incentivam transformações pessoais e organizacionais. De acordo com essa lógica de ação, a mudança organizacional e social é um processo de desenvolvimento iterativo que requer conscientização e atenção especial da liderança. Lidam melhor com conflitos e com a resistência instintiva das pessoas à mudança; em resultado, são agentes de mudança altamente eficazes.

## Uma preocupação e um caminho
Esses resultados nos suscitam uma especial preocupação em como os jovens projetam o trabalho no futuro com base nos referenciais das gerações anteriores (de um trabalho formal para um empregador, baseado em um propósito dedicado ao sucesso e mérito individual, a despeito do impacto socioambiental de sua participação como profissional), desconsiderando as enormes transformações que estão ocorrendo nos formatos e relações profissionais.

Saiba mais sobre o estudo

Nos meses de abril e maio de 2023, foram investigadas as visões sobre o trabalho no futuro com 1.215 profissionais de empresas de todo o Brasil, em geral bem jovem (64% de até 21 anos) e feminino (62%), e essas visões foram comparadas com seu grau de maturidade cognitiva. Os respondentes da pesquisa percorreram três etapas: primeiro responderam ao questionário na plataforma Shifting Horizons, que, baseado em teorias de desenvolvimento de adultos, identificava o estágio de lógica de ação no qual cada um deles se encontra no momento – lógicas de ação descrevem como cada indivíduo entende e responde a seu contexto. Depois, eles foram convidados a escrever uma narrativa sobre seu trabalho daqui a cinco anos. E, finalmente, classificaram suas narrativas a partir de um conjunto de significadores. Para essas duas últimas etapas, foi utilizada a ferramenta de sondagem Sensemaker.

A pesquisa precisa continuar, mas já nos instiga a perseguir respostas para as seguintes indagações:

– Que metanarrativas podemos desenvolver para ajudar as pessoas a navegar na transição para uma nova relação com o trabalho?
– Que medidas podemos tomar para aumentar a conscientização sobre a rápida transformação da realidade e responder às necessidades dos que estarão excluídos do sistema, que lutarão para sobreviver e sonharão com um lugar de pertencimento na sociedade?
– Quais são as potenciais implicações futuras do desenvolvimento dos adultos para o significado do trabalho?
– Que estruturas, modelos e práticas de desenvolvimento humano os indivíduos e as organizações podem utilizar para lidar eficazmente com este ambiente complexo do trabalho?

Este talvez seja o melhor modo de ampliar a discussão sobre o futuro de trabalho nas empresas e na sociedade, e de possibilitar que arranjos realmente novos, e melhores, sejam criados.

Artigo publicado na HSM Management nº 157.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Tecnologia & inteligencia artificial
16 de outubro de 2025
A saúde corporativa está em colapso silencioso - e quem não usar dados para antecipar vai continuar apagando incêndios.

Murilo Wadt - Cofundador e diretor geral da HealthBit

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
15 de outubro de 2025
Cuidar da saúde mental virou pauta urgente - nas empresas, nas escolas, nas nossas casas. Em um mundo acelerado e hiperexposto, desacelerar virou ato de coragem.

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)