As cidades grandes sempre incorporaram os avanços tecnológicos. No entanto, o ritmo em que isso acontece vem aumentando rapidamente, uma vez que as inovações digitais trazem consigo o potencial de resolver muitos desafios. É dessa forma que importantes concentrações urbanas têm se transformado em “smart cities”, ou cidades inteligentes.
As tecnologias disruptivas são um dos fatores que impulsionam essa transformação. O segundo fator essencial a uma smart city é a disponibilidade de dados para que estes alimentem as soluções inteligentes. Os dados coletados devem ser utilizados para criar soluções inteligentes que atendam às reais necessidades dos cidadãos.
Pode-se dizer que uma cidade é considerada inteligente quando os investimentos no capital humano e social, a infraestrutura tradicional e as tecnologias disruptivas geram crescimento econômico e aumento da qualidade de vida ao mesmo tempo, com uma gestão responsável dos recursos naturais e com uma governança participativa.
**SOLUÇÕES INTELIGENTES**
As soluções inteligentes constituem os elementos diferenciadores das smart cities. Resultam da combinação de tecnologias disruptivas, inovações sociais e novas formas de utilizar dados.
Nessa “receita”, as mudanças no comportamento das pessoas são um ingrediente essencial. Afinal, as smart cities só existem devido às necessidades naturais de indivíduos que, indiscutivelmente, vivenciam uma realidade cada vez mais digital e se movem em uma economia também crescentemente digital.
Por isso, as soluções que compõem esse novo cenário urbano precisam obrigatoriamente ser:
• Simples.
• Correspondentes a demandas reais.
• Fáceis de usar, de modo que as pessoas deixem de se dar conta delas.
• Significativas, fazendo diferença para a vida das pessoas.
• Impulsionadoras de mudanças no comportamento dos cidadãos em longo prazo.
• Convidativas, incentivando a adoção por serem reconhecidas como benéficas.
• Sempre presentes e disponíveis.
• Escaláveis, do projeto piloto à implementação em larga escala.
Para que uma cidade se torne inteligente, também é decisivo que governo e cidadãos assumam novos papéis e que sejam desenvolvidas algumas capacidades centrais, em sete dimensões:
1) Estratégia e visão: as smart cities possuem visão clara do que querem ser e estratégia para concretizá-la.
2) Dados: a combinação de diversas fontes de informação de qualidade possibilita que as cidades desenvolvam um conhecimento real sobre desafios como sustentabilidade, mobilidade, saúde e segurança.
3) Habilidades e competências: o uso de tecnologias disruptivas requer novas capacidades humanas, em especial para lidar com as informações coletadas.
4) Atratividade para os negócios e os talentos: um novo ecossistema só pode emergir com os parceiros certos presentes na cidade. Criatividade, expertise tecnológico e capacidade de execução são componentes vitais.
5) Tecnologia: é preciso contar com o que há de melhor em infraestrutura tecnológica, incluindo o suprimento de energia e a conectividade digital.
6) Abertura à inovação e a novas ideias: é necessário disposição para experimentar e assumir riscos calculados, incluindo novas formas de colaboração entre departamentos do governo e também com parceiros externos à administração pública.
7) Ecossistema público-privado: essas duas instâncias devem atuar juntas na cocriação de soluções inteligentes, sem que nenhuma das partes assuma o controle do processo.
Importante: as cidades devem investir tanto em novas e disruptivas tecnologias como em capital humano e social. Sem pessoas preparadas nada acontece. As inovações sociais são cruciais para gerar soluções sustentáveis.
**IMPACTOS POTENCIAIS**
As soluções inteligentes típicas das smart cities impactam diversos setores:
MOBILIDADE
Com o objetivo de reduzir os congestionamentos e promover opções de transporte mais rápidas, baratas e amigas do meio ambiente, surgem estas soluções:
**Estacionamento.** Cada vaga é equipada com um sensor que detecta se há carro estacionado ali. Informações em tempo real são enviadas aos motoristas sobre vagas e estacionamentos alternativos. A partir daí, novas formas de parcerias público-privadas podem ser estabelecidas, como o uso de estacionamentos de prédios de escritórios quando ociosos.
**Serviços de táxi.** Novas soluções, nos moldes do Uber, podem surgir, contribuindo para oferecer mais conveniência às pessoas e reduzir congestionamentos.
**Informação personalizada.** Tecnologia e dados oferecem orientação em tempo real e personalizada sobre transporte, indicando os melhores caminhos para transitar na cidade. O Waze é exemplo disso.
**Controle de tráfego.** Informações de qualidade e em tempo real sobre o trânsito fluem o tempo topo, captadas por sensores instalados nos diversos elementos da infraestrutura urbana e nos veículos. Isso permite otimizar o fluxo de carros, sincronizando semáforos.
**Veículos autônomos e conectados.** As distâncias seguras entre os carros podem ser reduzidas e isso tende a aumentar a capacidade das vias. Se combinados com os princípios da economia compartilhada, os veículos autônomos geram uma redução significativa do número de carros ruas e nos estacionamentos. As pessoas podem trocam o carro próprio por uma assinatura de um serviço de transporte.
SEGURANÇA
Segurança é fator crítico para o avanço da economia e da qualidade de vida e a tecnologia pode ajudar muito:
**Iluminação pública.** A iluminação inteligente das ruas pode não apenas reduzir o consumo de energia, como também aumentar a segurança das pessoas. Por exemplo, as luzes podem ficar mais fortes sempre que algum movimento for detectado.
**Drones.** Essa tecnologia serve para avaliar riscos de uma área antes de enviar uma equipe da polícia ou dos bombeiros.
**Programas de prevenção.** A análise de grandes volumes de dados é útil para determinar as causas mais prováveis do aumento da criminalidade em algumas áreas, alimentando ações específicas. A análise combinada com novas tecnologias, como reconhecimento facial em tempo real, pode orientar o trabalho preventivo.
**Apps de emergência.** Aplicativos inteligentes podem ser usados pelas pessoas para enviar alertas em casos de crise. A solução detecta o local do pedido de socorro e conecta a polícia, os bombeiros ou o resgate.
**Apps de emergência.** Aplicativos inteligentes podem ser usados pelas pessoas para enviar alertas em casos de crise. A solução detecta o local do pedido de socorro e conecta a polícia, os bombeiros ou o resgate.
ENERGIA
A soluções nesse setor visam uma geração de energia mais limpa e redução do consumo. Veja como
**Fontes renováveis.** Uma parcela cada vez mais importante da eletricidade das cidades virá de fontes renováveis e deve haver mais usinas de geração de energia, ainda que cada uma delas tenha menor capacidade.
**Redes inteligentes.** São o próximo passo da transmissão e distribuição de energia. Com tecnologia e automação, garantem maior eficiência e controle, inclusive por parte do consumidor final, que passa a contar com medidores eletrônicos inteligentes.
**Equipamentos responsivos.** Os eletrodomésticos serão capazes de interromper o consumo de energia em situações de aumento de demanda, e também para controlar custos.
**Reciclagem de calor.** Prédios e outras instalações típicas das grandes cidades produzem calor em excesso durante o verão. Esse calor pode ser armazenado para uso no inverno ou destinado a outros propósitos, como o aquecimento de água.
**Combinação de fontes.** Na combinação entre vários avanços tecnológicos da área de energia é que está o maior impacto potencial. Há uma interdependência e, ao mesmo tempo, uma “colaboração” entre fontes energéticas alternativas. Para colher os benefícios dessa conjunção de tecnologias, empresas e governos devem trabalhar em parceria, e assim estabelecer as devidas regulações, alinhar sistemas e criar padrões.
ÁGUA
O abastecimento de água será um dos maiores desafios urbanos do século 21. As soluções inteligentes chegam para reduzir o desperdício e assegurar a qualidade:
**Detecção de vazamentos.** As empresas fornecedoras de água podem instalar sensores na rede de distribuição, que fornecem dados em tempo real sobre pressão, fluxo e qualidade. A análise das informações indicará a existência de vazamentos.
**Poluição.** Sensores também têm a capacidade de monitorar a qualidade da água em tempo real.
**Alerta de enchente.** A análise preventiva de dados meteorológicos, combinada com informações geográficas, indica áreas e períodos com risco de enchentes.
**Plano de manutenção.** Os dados coletados servem também para direcionar a manutenção para as partes do sistema de distribuição que mais necessitam. Para isso, é importante somar várias fontes de informações, como sensores nos canos e indicadores recebidos das seguradoras sobre regiões que sofreram enchentes.
LIXO
Nesse campo, a solução inteligente é oferecer uma **coleta de lixo just in time**. Dados coletados por sensores podem orientar a melhor distribuição dos caminhões, priorizando os locais com mais lixo acumulado.
PRÉDIOS INTELIGENTES
Esse tipo de construção usa grande número de sensores para gerar **informações de qualidade e em tempo real** sobre sua ocupação e as condições do prédio, em aspectos como temperatura, umidade e luz.
Dessa maneira, os diversos sistemas – iluminação, ventilação etc. – são otimizados, a fim de ajustar o consumo de acordo com o número de pessoas circulando. No caso do consumo de eletricidade, por exemplo, é possível também ajustar a demanda para minimizar ou evitar os problemas de oferta. Até a mão de obra responsável por atividades de limpeza pode ser direcionada às áreas prioritárias com base nas informações coletadas sobre a movimentação das pessoas.
LARES INTELIGENTES
A tendência é que as pessoas possam **operar as funções básicas de uma casa por meio do celular**. Se os eletrodomésticos contarem com sensores, também dá para monitorá-los com o celular.
Esse tipo de controle não se aplica só aos eletrodomésticos. Os sistemas de monitoramento e segurança também podem ser acessados de qualquer lugar do mundo se o dono da casa tiver um celular ou tablet. Além disso, uma vez automatizados, os eletrodomésticos oferecem informações que facilitam seu uso. Por exemplo, uma geladeira pode ser capaz de saber os produtos que estão guardados nela, sugerir menus, propor alternativas saudáveis e enviar ao supermercado listas de compras.
SAÚDE
São muitas as soluções inteligentes nesse campo:
**Dados pessoais.** Sensores inovadores instalados em roupas e equipamentos móveis permitem que as pessoas monitorem, o tempo todo, sua condição física. Com isso, podem assumir um papel mais ativo na busca por saúde, com foco na prevenção.
**Empoderamento do paciente.** O crescente acesso a informações sobre doenças e tratamentos pode levar grupos de pacientes a assumir o controle sobre os cuidados com a própria saúde. Pacientes que não conseguem lidar bem com esse volume de informações talvez precisem de um “personal health organizer”.
**Plataformas digitais.** Como fazem o Uber e o Airbnb, novos serviços podem aproximar pessoas e tratamentos de saúde de maneiras inovadoras.
**Big data.** A análise de volumes inéditos de dados sobre os pacientes garante tratamentos personalizados.
**Inteligência artificial (IA).** Cada vez mais, esta será uma ajuda importante para que os médicos interpretem as informações sobre os pacientes e cheguem ao diagnóstico correto, assim como ao melhor tratamento.
**Impressão 3D.** Esse recurso poderá revolucionar a medicina nos casos em que se recomenda o uso de próteses e implantes.
**Robôs.** Apoiarão o paciente em casa.
EDUCAÇÃO
A educação, decisiva para gerar os talentos que vão inovar, será transformado pelas novas tecnologias:
**Digitalização.** Muda significativamente a forma como a educação é oferecida aos estudantes, possibilitando, por exemplo, uma combinação de aulas on-line e presenciais. Ao mesmo tempo, gera informações valiosas que contribuem para a compreensão do perfil dos alunos, o que abre caminho para que as universidades construam o melhor formato de aprendizado (até personalizado) para maximizar a probabilidade de sucesso.
**Aprendizado contínuo.** A educação on-line é capaz de impulsionar o aprendizado por toda a vida, contribuindo para que as populações das smart cities se mantenham atualizadas.
**Universidades corporativas.** Para desenvolver os talentos de que precisam, as empresas tendem a promover a educação internamente.
FINANÇAS
**Análise de riscos.** O aumento dos dados e as tecnologias de análise e inteligência artificial criam oportunidades para uma melhor avaliação de riscos.
**Seguros.** A internet das coisas pode servir para gerar dados sobre o patrimônio segurado. No caso do seguro de carros, por exemplo, é possível ter um diagnóstico completo do comportamento do motorista.
Empréstimos. Plataformas digitais devem ser usadas para promover negócios entre pessoas físicas que querem emprestar e tomar dinheiro.
**Crowdfunding.** Essa alternativa para o financiamento de projetos será facilitada.
**Pagamento digital.** Novas tecnologias, como o pagamento no smartphone, combinadas com a autenticação biométrica, eliminarão o uso de dinheiro vivo.
**Blockchain.** Para transações sem intermediários.
TURISMO E LAZER
**Gestão de multidões.** Tecnologias inovadoras devem ser mais utilizadas para monitorar o comportamento de grandes quantidades de pessoas, mobilizadas em um show, por exemplo, e indicar a gestão adequada.
**iBeacons.** Esse serviço de notificação sem fio oferece muitas oportunidades, como guiar os visitantes de um museu e lhes disponibilizar informações.
VAREJO
As soluções inteligentes voltadas ao varejo têm como objetivo promover um grau inédito de flexibilidade, conveniência e criação de experiências para o consumidor, com a cadeia de logística mais responsiva a uma demanda crescentemente volátil. Por exemplo, os varejistas podem intensificar a combinação entre os canais online e as lojas físicas por meio dos aplicativos para celulares. Além disso, a impressão 3D abre caminho para a criação de produtos sob medida para grupos de clientes.
INDÚSTRIA
A tendência de personalização e customização está levando a inovações importantes, como a utilização da impressão 3D e o emprego crescente de robôs. Novos materiais (como fibra de carbono e os nanomateriais) também devem contribuir para o desenvolvimento de objetos mais avançados e complexos.
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