Contagem regressiva
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O futuro tem dois cisnes: um negro e um verde

O pioneiro da sustentabilidade fala de seu novo livro, analisando o estágio atual das empresas nesse aspecto, a onda ESG e a economia verde que pode emergir de tudo isso

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## 5. O que significa o cisne verde, tema de seu novo livro?
O cisne é um símbolo de transformação há muito tempo. Meu novo livro conta a história da transformação acelerada do capitalismo – que está atingindo um ponto de inflexão crucial nesta década de 2020. O resultado disso será um mundo de colapsos do cisne negro, como a emergência climática e as espécies em extinção, ou de soluções revolucionárias do cisne verde. O mais provável, é claro, é uma mistura dos dois, em constante mutação.

Os cisnes verdes são desdobramentos positivos para o mercado antes considerados altamente improváveis – senão impossíveis. Para a maioria das pessoas, eles também chegam mais ou menos do nada, como os cisnes negros. E eles podem ter um impacto positivo profundo no resultado triplo de criação de valor econômico, social e ambiental. Na melhor das hipóteses, serão simultaneamente restauradores do meio ambiente, socialmente justos e economicamente inclusivos.

No início, muitos inovadores e empreendedores do tipo cisne verde tendem a ser rejeitados de imediato, como o Patinho Feio no conto de Andersen. Os desajeitados filhotes de cisne (startups) se transformam em algo totalmente diferente. Os críticos e os céticos só entendem quando a ave cresce. Felizmente, as soluções cisne verde – incluindo novas mentalidades, tecnologias, modelos de negócio e estruturas de política – já estão trabalhando para resolver os desafios aparentemente impossíveis de hoje. Mas precisam de ajuda dos patos para atingir o ritmo e a escala necessários. É por isso que criamos o Green Swans Observatory, para procurar, identificar, analisar e, ao longo do tempo, apoiar Patinhos Feios que prometem avançar nas trajetórias de mercado cisne verde.

## 4. Você até cita Dickens no novo livro: “Esse será o pior dos tempos para aqueles que se apegarem à velha ordem, mas possivelmente o melhor dos tempos para aqueles que aceitarem e liderarem a nova ordem”. Mas o que você pensa dessa onda ESG? Muitos temem ser mais um modismo…

Acho que essa tendência, com o investimento de impacto, teria atingido um ponto de inflexão, ou de partida, na década de 2020 de qualquer forma, mas a pandemia acelerou esse processo de forma brutal. As pessoas acordaram para o fato de vivermos num mundo onde tudo está cada vez mais interligado e os fundos de governança ambiental, social e corporativa tiveram um desempenho melhor que o esperado. Mas, mesmo que todos os fundos de investimento do mundo operassem seguindo essa nova governança, isso ainda não seria suficiente. Precisamos de uma mudança exponencial e cada vez mais sistêmica, não incremental.Os sistemas políticos atuais não são adequados para esse propósito, mas o choque da pandemia mostrou que, se a pressão for forte o bastante, as pessoas conseguem, sim, mudar rapidamente.

## 3. O ESG washing é tendência? Obviamente negativa, claro.
O ESG washing, esse faz-de-conta, será cada vez mais difícil. Já há até plataformas como o InfluenceMap, que rastreia o que as empresas fazem em termos de lobby nos bastidores – e precisaremos muito mais dessa transparência e dessa responsabilidade aplicadas. Os relatórios da empresa continuarão sendo importantes, é claro, mas terão de ser feitos de acordo com novos padrões convergentes e os dados produzidos precisarão ser processados com a ajuda de inteligência artificial. As pessoas exigirão acesso instantâneo a uma gama ampla de informações e à inteligência de mercado. Quem não fornecer isso vai perder clientes e investidores. Em muitas regiões, os relatórios de sustentabilidade serão tratados com a mesma seriedade que os relatórios financeiros. E os dois convergirão; vão se tornar a mesma coisa.

## 2. Como será a próxima década?
Estamos entrando no que chamamos de “Década Exponencial” – e a mudança que antes parecia impossível se tornará possível e, eventualmente, inevitável. Minha expectativa é ver um Grande Pânico do Carbono passando por todos os mercados financeiros dentro de uma década. Vamos nos dar conta de que poderíamos ter agido a tempo sobre o clima e questões relacionadas, mas não o fizemos. As pessoas correrão para sair da economia do carbono – e todas farão isso juntas. Meu conselho é: saia antes – agora. Uma empresa de energia renovável como a NextEra Energy está ultrapassando, em valor de mercado, a ExxonMobil, que já foi a empresa mais valiosa do mundo.

## 1. Como o Brasil, dono da Amazônia, deve agir?
O Brasil está claramente decidido a destruir a Amazônia no momento. Os efeitos hidrológicos já estão sendo sentidos até na Argentina. Mas o Brasil tem uma empresa como a Natura, que eu amo, e enxergo como líder mundial na área de sustentabilidade. E é empolgante ver, no mundo todo, que um número grande de empresas esteja se tornando empresas B, até o CEO de uma companhia como o Walmart está se comprometendo a fazer um negócio regenerativo. Agora, de novo, isso não será suficiente, nem se todas as empresas fizerem o mesmo. Precisamos de governos com políticas e investimentos de longo prazo, algo que os regimes populistas não conseguem oferecer – e incluo aí o governo do meu próprio país, o Reino Unido.
Novas formas de Green New Deal, como o Green Deal da União Europeia, de € 1,82 trilhão, priorizarão um misto de inclusão social e investimento verde para impulsionar recuperações verdadeiramente sustentáveis. Daí virá o sucesso. A regeneração será a chave para o sucesso futuro no âmbito econômico, social, ambiental e, é claro, político.

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