Dossiê HSM

O objetivo de escalar globalmente

Em termos de estratégia, ganhar escala mundial está ficando mais importante do que se diferenciar. No entanto, as tensões decorrentes – entre crescimento e controle, estabilidade e mudança, replicar e adaptar – pedem uma abordagem integrativa, ainda rara

Compartilhar:

Escalar está ficando mais importante, nas estratégias corporativas atuais, do que se diferenciar, sugere um artigo da Harvard Business Review. “Mover-se mais rápido é necessário porque concorrentes de qualquer lugar do mundo podem vencê-lo em escala”, reforça o fundador do LinkedIn, Reid Hoffman. No entanto, como se escala?

Para nós, quatro perspectivas precisam ser integradas por quem quiser ter sucesso em escalar globalmente:

__Perspectiva econômica: economias de escala__. Estamos falando de vantagens de custo associadas a um volume maior de produção – normalmente com a redução do custo unitário decorrente da maior quantidade. O resultado, em volume, vem em aumento de vendas ou do número de clientes. Embora a lucratividade seja o objetivo final de escalar globalmente, um objetivo intermediário pode ser aumentar uma base de usuários a ser posteriormente monetizada – nesse caso, as economias de escala acontecem porque o custo de aquisição de cliente (CAC) se reduz conforme mais clientes são adquiridos. Quando o crescimento internacional oferece a oportunidade de aumentar as vendas (ou a aquisição de usuários) sem um aumento equivalente nos custos, as empresas podem aumentar sua lucratividade.

__Perspectiva empreendedora:crescimento rápido__. Em geral, crescimento rápido tem limite de tempo. O acesso a países estrangeiros é essencial para um crescimento rápido e persistente. Tanto a perspectiva econômica quanto a do empreendedorismo veem o modelo de negócio global como uma vantagem específica dissociada da localização, que pode ser replicada com facilidade em países estrangeiros.

A diferença entre as perspectivas da economia e do empreendedorismo é que a última se concentra na uniformidade da proposta de valor da empresa e nos mecanismos de criação e captura de valor nos mercados. A uniformidade permite um crescimento rápido, reduzindo o tempo e os recursos necessários para ajustes locais.

A lucratividade da empresa no curto e no médio prazos é menos importante nessa perspectiva: muitas empresas se concentram em adquirir cada vez mais clientes para dominar o mercado no presente e obter rendas monopolistas no longo prazo. Como se depende de um capital paciente para financiar isso, vemos outro objetivo empreendedor em escalar globalmente: a geração de opções de saída para que os investidores possam colher os frutos de seus investimentos.

__Perspectiva estratégica: replicação__. A literatura sobre replicação oferece uma explicação para o crescimento da empresa ligada à expansão geográfica e, portanto, relevante para a ideia de escalar globalmente. Essa literatura afirma que o crescimento da empresa tem como base a aplicação em larga escala de um modelo de negócio estabelecido por meio da replicação em novos locais; mercados estrangeiros, no caso de uma expansão global.

A chave para uma estratégia de replicação bem-sucedida é ter de fazer apenas adaptações mínimas no modelo de negócio para seu uso em diferentes locais. Há cada vez mais pressão para adaptações locais em produtos e serviços, mas um modelo de negócio global pode escapar das pressões se houver uniformidade na proposta de valor e no sistema de atividades entre países e regiões.

__Perspectiva de negócios: globalidade__. O que significa “global”? Alguns argumentam que o adjetivo se aplica normalmente a empresas na verdade regionais, e que deveriam ser estabelecidos alguns parâmetros para determinar se uma empresa é verdadeiramente global. Defendemos que o rótulo é apropriado porque a base na qual se apoia a escala – economias de escala, rápido crescimento e replicação – é geograficamente ilimitada em si. Assim, a globalidade é um objetivo da escala global.

## Quatro tipos de facilitadores
O que facilita o crescimento global rápido ou a replicação? Facilitadores internos e externos podem favorecer esses dois movimentos.

__FACILITADORES INTERNOS DE CRESCIMENTO RÁPIDO.__ Equipes empreendedoras com mais capital humano, social e relacional tendem mais frequentemente a alcançar escala global do que equipes menos dotadas desses atributos. O mesmo se pode dizer de equipes com ambições globais – porque a “inércia doméstica” pode atrapalhar o desenvolvimento de competências para competir globalmente. É requerido, além disso, muito capital, normalmente vindo de investidores de risco que fornecem também conhecimento, capital social, relacional e reputacional. Mas eles exigem estratégia de saída. Tendem a priorizar o crescimento internacional em detrimento da diversificação da linha de produtos.

__Leia mais: [Expo 2020 Dubai mostra o espírito do tempo na prática](https://www.revistahsm.com.br/post/expo-2020-dubai-mostra-o-espirito-do-tempo-na-pratica)__

__FACILITADORES EXTERNOS DE CRESCIMENTO RÁPIDO.__ É importante contar com o apoio do ecossistema empreendedor ao qual pertencem para obter capital humano especializado, financiamento e recursos indiretos que auxiliam o desenvolvimento e a implementação de modelos de negócio escaláveis. Além disso, no nível do ecossistema, cidades globais aliviam o custo e o atrito da expansão geográfica, reduzindo ruídos inerentes ao fato de as empresas serem estrangeiras ao estabelecer subsidiárias. Isso dá suporte ao rápido crescimento internacional, e também facilita a replicação ao reduzir a pressão para a adaptação.

É mais fácil para as empresas se internacionalizarem rapidamente quando o próprio mercado global está crescendo rapidamente. Um estudo recente da Brookings Institution, sobre a lista da Inc. Magazine de 5 mil empresas de rápido crescimento nos EUA, mostra que, embora as empresas de alta tecnologia sejam mais propensas ao rápido crescimento, a maioria das que realmente crescem rapidamente não é do setor tecnológico. O tamanho do mercado doméstico também pode facilitar a escala global. As empresas de mercados domésticos pequenos podem se internacionalizar mais cedo. Finalmente, a escala global é facilitada por externalidades de rede entre países.

__FACILITADORES INTERNOS DE REPLICAÇÃO.__ Há três fatores que afetam a replicabilidade. O primeiro é ter produtos e processos digitais, que podem ser replicados de maneira rápida e barata. As plataformas digitais podem permitir a localização de maneira replicável, como é o caso do Airbnb. O segundo é a confiança em parceiros locais, caso essa associação seja prevista pelo modelo de negócio. Terceiro, é provável que o ganho de escala seja facilitado na medida em que uma empresa consiga assimilar funcionários de diferentes culturas.

__FACILITADORES EXTERNOS DE REPLICAÇÃO.__ Há duas maneiras pelas quais a natureza do mercado facilita a replicação. A primeira é usar modelos de negócio estabelecidos – Freshii e Qualtrics são exemplos, com a primeira adotando um modelo de negócio de franquia bem conhecido e a última, um conhecido modelo de software como serviço. Ter de inventar um modelo novo (como foi o caso da Netflix) pode fazer empresas demorarem a escalar.

Uma estrutura de mercado que favoreça a globalização é um segundo facilitador da replicação e, por extensão, do ganho de escala global. Isso ocorre quando os concorrentes são (ao menos parcialmente) os mesmos em todos os mercados, e quando os clientes estão buscando produtos e processos padronizados. É fácil entender: se o marketing tiver de focar seus processos de pré e pós-venda na concorrência doméstica, isso pode impedir a escalada global.

__Leia mais: [O relevância das relações](https://www.revistahsm.com.br/post/o-relevancia-das-relacoes)__

A natureza das políticas de governo é outro aspecto da estrutura do mercado. Se focadas no mercado doméstico, dificultam a expansão global.

A LÓGICA DE ESCALAR GLOBALMENTE é diferente, como vimos, e inclui tensões entre crescimento e controle, estabilidade e mudança, replicação e adaptação. Uma abordagem integrativa para definir a estratégia e o conhecimento de facilitadores internos e externos pode ajudar seu negócio a fazer isso.

Com autorização da Rotman.
Management Magazine, da University of Toronto. Todos os direitos reservados.

__Leia mais: [Zeitgeist: o que você e seu negócio têm a ver com isso?](https://www.revistahsm.com.br/post/zeitgeist-o-que-voce-e-seu-negocio-tem-a-ver-com-isso)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado

Empreendedorismo, Liderança
Entendimento e valorização das características existentes no sistema, ou affordances, podem acelerar a inovação e otimizar processos, demonstrando a importância de respeitar e utilizar os recursos e capacidades já presentes no ambiente para promover mudanças eficazes.

Manoel Pimentel

ESG, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça e entenda como transformar o etarismo em uma oportunidade de negócio com Marcelo Murilo, VP de inovação e tecnologia da Benner e conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente.

Marcelo Murilo

ESG
Com as eleições municipais se aproximando, é crucial identificar candidatas comprometidas com a defesa dos direitos das mulheres, garantindo maior representatividade e equidade nos espaços de poder.

Ana Fontes

ESG, Empreendedorismo
Estar na linha de frente da luta por formações e pelo desenvolvimento de oportunidades de emprego e educação é uma das frentes que Rachel Maia lida em seu dia-dia e neste texto a Presidente do Pacto Global da ONU Brasil traz um panorama sobre estes aspectos atuais.

Rachel Maia

Conteúdo de marca, Marketing e vendas, Marketing Business Driven, Liderança, times e cultura, Liderança
Excluído o fator remuneração, o que faz pessoas de diferentes gerações saírem dos seus empregos?

Bruna Gomes Mascarenhas

Blockchain
07 de agosto
Em sua estreia como colunista da HSM Management, Carolina Ferrés, fundadora da Blue City e partner na POK, traz atenção para a necessidade crescente de validar a autenticidade de informações e certificações, pois tecnologias como blockchain e NFTs, estão revolucionando a educação e diversos setores.
6 min de leitura
Transformação Digital, ESG
A gestão algorítmica está transformando o mundo do trabalho com o uso de algoritmos para monitorar e tomar decisões, mas levanta preocupações sobre desumanização e equidade, especialmente para as mulheres. A implementação ética e supervisão humana são essenciais para garantir justiça e dignidade no ambiente de trabalho.

Carine Roos