Uncategorized

O ORGULHO DE PERTENCER JÁ ERA

Os funcionários mudaram o modelo mental e as expectativas, mas gestores insistem em vender o sobrenome corporativo | Por Pedro Mandelli
Consultor especializado em mudança organizacional, é professor da Fundação Dom Cabral em áreas como desenvolvimento de pessoas e liderança e autor, entre outros livros, de Muito Além da Hierarquia.

Compartilhar:

Tradicionalmente, as empresas eram vistas como depositórios de esperança para seus funcionários. Ao dar um sobrenome forte a quem não tinha um de berço, costumavam conferir tanto status social como viabilização financeira – todo colaborador ganhava crédito na praça, para adquirir o que fosse, um televisor ou a casa própria.

A consequência disso foi a formação de um modelo mental chamado “orgulho de pertencer”. Os funcionários se sentiam pertencentes a suas empresas.  

Como sabemos, esse modelo ruiu; ele não encontrou espaço no desenho organizacional que emergiu, com variáveis como a necessidade de contribuir para aumentar o valor da empresa no mercado acionário e a concorrência vinda de todos os cantos do planeta.

O modelo mental mudou e, às vezes, não nos damos conta das consequências. Ao imaginar que as pessoas estão em sua equipe pelo sobrenome corporativo, o gestor erra. Agora, elas estão lá para aprender e ficar mais valiosas e, se possível, não permanecerão ali por muito tempo.  

Indivíduos que fazem a diferença não que- rem mais aprender a ser empregados; desejam se tornar geradores de empregos, mesmo que seja no longo prazo. Abandonaram as velhas esperanças quando viram algumas empresas sendo vendidas ou fundidas e outras desaparecendo do mapa.  

No modelo mental do profissional que faz a diferença, o que importa é estar profundamente envolvido com a estratégia de negócios corporativa: se faz sentido para sua estratégia pessoal, de aprendiza- do e de ganhar valor no médio prazo, aí vale a pena.  

Agora, será que as organizações têm se dedicado, de maneira legítima, a desenvolver essa apropriação da estratégia por funcionários de todos os níveis? Em sua empresa, que medidas tomadas em 2015 realmente fortaleceram esse senso de propriedade? Note bem que não estou falando de oferta de treinamento, e sim de uma nova estrutura.

Está aqui delineado o que considero o novo grande desafio das organizações: como desenvolver a força de trabalho para pensar e agir com orgulho de pertencer e senso de propriedade. Talvez seja essa resposta que nos leve a novos modelos de estruturas organizacionais, novos modelos de remuneração e recompensa, novos modos de liderança, novas áreas de desenvolvimento de pessoas e programas mais institucionais do que os de treinamento.

A crise é uma janela de oportunidade para responder a esse desafio. Se, de um lado, seria ótimo que ela fosse abreviada, de outro, a volta à normalidade pode fazer com que as empresas se atenham a suas estruturas de pensar e agir como sempre, o que é incompatível com o novo modelo mental dominante.  

Gestor, entenda: as pessoas não são mais as mesmas, nem nunca serão. Em vez de sentirem orgulho de pertencer ao que a empresa é ou foi, desejam se orgulhar do que a empresa quer ser.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura