Saúde Mental

O papel de empresas e lideranças na saúde mental organizacional

Construção de um ambiente de confiança, clareza na comunicação e programas voltados para o bem-estar são algumas ações que as organizações devem adotar para o cuidado de suas equipes
Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas HSM Management e MIT Sloan Management Review Brasil.

Compartilhar:

Vamos iniciar essa matéria pedindo que você pare o que está fazendo e reflita: como tem se sentido durante a pandemia, especialmente em relação ao trabalho? Sente-se cansado? Sobrecarregado? Esgotado? Se respondeu “sim” a algumas delas, saiba que você (definitivamente) não está sozinho. Já percebeu como outros colegas têm se sentido da mesma maneira? pois saiba que essa percepção não é apenas sua. Organizações por todo o planeta têm dado mais importância ao tema da saúde mental de suas equipes, felizmente. Contudo, muitas ainda não sabem exatamente como iniciar ou apoiar essa discussão tão presente e, ainda assim, tão sensível.

Em seu estudo relatório *[Work Productivity Trends](https://news.microsoft.com/pt-br/um-olhar-sobre-o-bem-estar-dos-trabalhadores-seis-meses-apos-o-inicio-da-pandemia/)*, a Microsoft mapeou o bem-estar de seis mil trabalhadores de oito países (Austrália, Brasil, Alemanha, Japão, Índia, Singapura, Reino Unido e Estados Unidos), de janeiro a agosto de 2020, e demonstrou um resultado alarmante: o país com maior número de pessoas exaustas é o Brasil, com 44%, seguido dos Estados Unidos (31%) e da Alemanha (10%).

Diversos fatores estão relacionados ao [sentimento de exaustão](https://www.revistahsm.com.br/post/o-esgotamento-mental-causado-pela-busca-desenfreada-pelo-sucesso), como o aumento da duração da jornada de trabalho, a falta de separação entre o trabalho e a vida pessoal, a sensação de desconexão com o time e o medo de contrair a covid-19, sendo este o fator mais estressor para os brasileiros.

Em todo esse contexto, o papel das empresas e dos líderes tem sido observado e avaliado. De acordo com a pesquisa *[The Future of Work and Digital Wellbeing – Protecting Employees in a Covid-19-shaped World](https://www.eiu.com/n/the-future-of-work-and-digital-wellbeing-protecting-employees-in-a-post-pandemic-workplace/)*, feita pela divisão de pesquisa, análise e investigação da The Economist e com apoio da Allianz Partners, 61% dos mil empregados entrevistados revelaram que não tiveram uma boa conversa com seus gerentes sobre saúde mental durante a quarentena. Ainda segundo o estudo, 77% disseram que as empresas deveriam oferecer orientação e regras para trabalhar de casa.

Já a empresa de recrutamento Robert Half, por meio de uma pesquisa internacional que envolveu 1.500 executivos de Bélgica, Brasil, França, Alemanha e Reino Unido, apontou que 37% deles estão cientes que suas equipes estão enfrentando altas cargas de trabalho e à beira do esgotamento. Como resultado, 42% das empresas forneceram serviços de gerenciamento da saúde mental, enquanto 32% criaram programas para o bem-estar dos empregados.

No Brasil, a Robert Half também rodou a 13ª edição de seu Índice de Confiança (ICRH), em que monitora o sentimento dos profissionais qualificados em relação à situação do mercado de trabalho e da economia. O principal dado trazido demonstrou que 38% dos profissionais empregados admitiram que a [saúde mental e o bem-estar pioraram durante a pandemia](https://www.revistahsm.com.br/post/vontade-de-jogar-tudo-para-o-alto).

Entre os recrutadores que responderam à pesquisa, 71% apontaram que a principal dificuldade da liderança na pandemia tem sido manter a equipe motivada, seguida da falta de proximidade física (37%) e da manutenção das entregas com qualidade (31%).

## O que a liderança pode fazer

Embora os números mostrem que há um movimento por parte das empresas em tratar a saúde mental das equipes de forma estruturada e séria, colocar em prática ações efetivas ainda é uma preocupação por parte da gestão de pessoas e da liderança no país. Para o médico psiquiatra Daniel Barros, a responsabilidade de observar o estado mental dos funcionários não é apenas de cada trabalhador em si, mas também dos colegas, dos líderes e de toda a estrutura organizacional.

A construção de um ambiente seguro e empático é tão importante quanto a promoção de ações de bem-estar ou o estabelecimento da confiança como base para todas as relações nas empresas, segundo Barros: “as empresas precisam dar atenção ao clima organizacional, serem claras em suas comunicações e, na medida do possível, garantir flexibilidade e autonomia ao trabalho na rotina diária. Essas são algumas ações práticas que podem ajudar na redução do estresse e para que as pessoas se sintam mais compreendidas e dispostas a falar sobre seus sentimentos”.

De acordo com a consultoria EY, em seu relatório *The Pulse Side of Mental Health*, as organizações devem considerar quatro perguntas para medir o risco psicossocial no ambiente corporativo:

– Os colaboradores percebem o [local de trabalho como seguro e inclusivo](https://www.revistahsm.com.br/post/diversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia)?

– Os funcionários percebem que têm controle/influência sobre como fazem seu trabalho?

– Conversas de qualidade sobre saúde mental estão acontecendo em toda a organização, de maneira formal e informal?

– A educação sobre saúde mental foi incorporada ao dia a dia do colaborador na empresa?

Da mesma forma que Barros, a Robert Half afirma que, além de implementar um programa de saúde mental e fornecer benefícios relacionados ao bem-estar mental, é obrigação das empresas manter um canal ativo de comunicação semanal entre líderes e equipes, especialmente por meio de chamadas individuais regulares, reforçar a prática do feedback e exercitar a empatia para que os empregados se sintam acolhidos e dispostos a falar com sinceridade. E, claro, se possível, programar folgas periódicas.

## Vamos colocar em prática?

Para a EY, as organizações precisam encarar que a conscientização sobre saúde mental no ambiente corporativo é um assunto essencial para sua própria sobrevivência, além de demonstrar a real preocupação com as condições de trabalho estabelecidas. Em seu estudo *The Pulse Side of Mental Health*, a consultoria aponta que Canadá e Reino Unido são líderes das abordagens psicossociais nesse contexto, e ainda há muito espaço para o fomento das conversas corajosas.

Para a EY, o futuro das companhias depende de seis atitudes:

– Aceitar que é preciso lidar com o risco psicossocial nas empresas e que tratá-lo é a melhor prática do ponto de vista do desempenho organizacional;

– Construir e fortalecer uma base sólida para o cuidado mental das equipes por meio de abordagens proativas, incorporando-as à gestão de risk management e operações;

– Aumentar a confiança interna para que problemas de saúde mental sejam discutidos, reportados e tratados com seriedade e da mesma maneira que já são lesões físicas;

– Mudar a conversa para enquadrar as discussões sobre saúde mental em um contexto positivo;

– Priorizar sobre o desenho do trabalho e reconhecer sua contribuição para o risco psicossocial;

– Identificar, capturar e avaliar indicadores e eficácia de abordagens de saúde mental.

Confira mais artigos sobre o tema no [Fórum Saúde Mental nas Empresas](https://www.revistahsm.com.br/forum/saude-mental-nas-empresas).

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura