Diversidade

O paradoxo das mulheres na inovação

Elas empreendem mais e têm mais acesso à internet do que os homens. Mas o mundo das startups brasileiras ainda é imensamente masculino
Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.

Compartilhar:

O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras no mundo, segundo dados do Sebrae e do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Dos 52 milhões de empreendedores no país, 30 milhões são mulheres, o que corresponde a 57%.

Nesse universo, 85% delas usam a internet. Entre os homens, o percentual é menor: 77%, segundo a pesquisa Mulheres e Tecnologia, da plataforma Melhor Plano.

Com acesso à tecnologia e apetite empreendedor, deveríamos ver um volume significativo de mulheres atuantes no ecossistema da inovação. Contudo, o que os números e a realidade nos mostram é um cenário revoltante: menos de 5% das startups são fundadas por mulheres.

Startup é uma empresa jovem com um modelo de negócios repetível, escalável e que busca soluções a serem desenvolvidas. Necessita de inovação para não ser considerada uma empresa de modelo tradicional e não se limita apenas a negócios digitais.

## Quando dois e dois não são quatro
Esse paradoxo pode ter uma explicação que fica além da lógica dos dados. Para inovar é preciso uma combinação de dois fatores que desequilibram a equação numérica: o risco e o erro.

Num ambiente favorável ao novo, errar é parte essencial do processo criativo. Além da conhecida síndrome da impostora, estado no qual duvidamos das nossas capacidades e até mesmo de nosso preparo curricular para exercer nossas atividades, o próprio ambiente social inibe o erro no universo feminino, seja por meio da violência, com o aumento no volume de assédios (morais e sexuais), seja por meio da diminuição da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Para elas se arriscarem, também é preciso ter acesso a recursos, especialmente financeiros, que dêem suporte às inúmeras tentativas que um modelo inovador se propõe a fazer. Se o volume de startups fundadas por mulheres já era baixo, elas continuam a receber uma parcela pequena do venture capital disponível – apenas 2,2% de todo o financiamento de capital de risco em 2021.

A união que pode multiplicar esse resultado está na própria força de coletivos e referências femininas. Mulheres atraem mais financiamento coletivo que homens devido à percepção de que são mais confiáveis. Contudo, esse modelo de financiamento coletivo ainda é limitado em relação ao volume financeiro possível de ser captado.

Outra forma de incentivar a participação feminina na inovação vem por meio de investimentos-anjo em grupos organizados, como o Sororitê. Nele, mulheres investidoras anjos fazem encontros para trocas de experiências e mentorias, assim como analisam propostas de startups encabeçadas por outras mulheres.

Algumas iniciativas diagnosticam a fundo o problema. Caso do Projeto Sage 4.0, que rastreia capital de risco, capital privado e dívida privada com uma lente de gênero. Desde 2017, o levantamento registrou um crescimento de 250% no volume de fundos de capital de risco que levam em conta o gênero na hora dos aportes.

Fato é que um ambiente favorável para a inovação precisa ser diverso. Empresas inclusivas são 11 vezes mais inovadoras e têm funcionários seis vezes mais criativos do que a concorrência, segundo um levantamento da Accenture.

Para que o desafio à lógica passe a combinar tantos fatores numa resultante positiva, setores ainda pouco diversos e despreparados precisam assumir compromissos com ações afirmativas e políticas de incentivo à participação feminina, oferecendo um meio mais seguro ao risco e consequentemente, à inovação.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Marketing
Entenda por que 90% dos lançamentos fracassam quando ignoram a economia comportamental. O Nobel Daniel Kahneman revela como produtos são criados pela lógica, mas comprados pela emoção.

Priscila Alcântara

8 min de leitura
Liderança
Relatórios do ATD 2025 revelam: empresas skills-based se adaptam 40% mais rápido. O segredo? Trilhas de aprendizagem que falam a língua do negócio.

Caroline Verre

4 min de leitura
Liderança
Por em prática nunca é um trabalho fácil, mas sempre é um reaprendizado. Hora de expor isso e fazer o que realmente importa.

Caroline Verre

5 min de leitura
Inovação
Segundo a Gartner, ferramentas low-code e no-code já respondem por 70% das análises de dados corporativos. Entenda como elas estão democratizando a inteligência estratégica e por que sua empresa não pode ficar de fora dessa revolução.

Lucas Oller

6 min de leitura
ESG
No ATD 2025, Harvard revelou: 95% dos empregadores valorizam microcertificações. Mesmo assim, o reskilling que realmente transforma exige 3 princípios urgentes. Descubra como evitar o 'caos das credenciais' e construir trilhas que movem negócios e carreiras.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Empreendedorismo
33 mil empresas japonesas ultrapassaram 100 anos com um segredo ignorado no Ocidente: compaixão gera mais longevidade que lucro máximo.

Poliana Abreu

6 min de leitura
Liderança
70% dos líderes não enxergam seus pontos cegos e as empresas pagam o preço. O antídoto? Autenticidade radical e 'Key People Impact' no lugar do controle tóxico

Poliana Abreu

7 min de leitura
Liderança
15 lições de liderança que Simone Biles ensinou no ATD 2025 sobre resiliência, autenticidade e como transformar pressão em excelência.

Caroline Verre

8 min de leitura
Liderança
Conheça 6 abordagens práticas para que sua aprendizagem se reconfigure da melhor forma

Carol Olinda

4 min de leitura
Cultura organizacional, Estratégia e execução
Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

Norberto Tomasini

4 min de leitura