Em meio a tantas crises simultâneas – pandemia de Covid-19, crise política no Brasil, protestos contra o racismo nos Estados Unidos –, um evento acabou ganhando menos destaque do que receberia se estivéssemos em tempos “normais”: o lançamento do foguete espacial pela SpaceX e a Nasa.
Na tarde de sábado de 30 de maio, grande parte da população mundial pausou as preocupações que assolavam a humanidade e parou para assistir, em tempo real, o evento histórico realizado no Kennedy Space Center, na Flórida. Histórico por duas razões: em quase dez anos foi a primeira vez que os EUA enviaram seres humanos para o espaço a partir de seu solo. Desde que o país encerrou seu programa espacial, em 2011, era por meio de uma parceria com a Rússia que os astronautas americanos chegavam ao espaço. A segunda razão e, na minha opinião a mais importante, é que foi a primeira vez que alguém foi ao espaço a partir de uma parceria público-privada, com foguete e cápsula espaciais fabricados comercialmente por uma empresa independente. Até então, os programas espaciais eram desenvolvidos e administrados pelas próprias agências espaciais americanas.
Ao firmar essa parceria, o governo federal passou a ter acesso à órbita de forma mais barata e segura, investindo recursos públicos em transporte espacial e não mais em foguetes e cápsulas. Esse acordo trouxe uma economia de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões para as agências, que agora podem destinar recursos a outros tipos de explorações. O foguete Falcon 9 custou US$ 440 milhões para a SpaceX. A Nasa estima que teria gasto três vezes mais se tivesse feito o projeto internamente.
Segundo a liderança envolvida no projeto, trabalhar em conjunto foi desafiador. Para a Nasa, por exemplo, foi necessário imergir na cultura de startup de tecnologia da SpaceX, onde errar para aprender é tido como normal. Choque cultural muito similar ao de empresas tradicionais quando tentam incorporar startups.
A SpaceX, fundada em 2002 pelo empreendedor de tecnologia e CEO da Tesla, Elon Musk , trouxe inovações significativas para a conquista espacial, ampliando eficiência e reduzindo custos. Além disso, cada detalhe do lançamento foi pensado para registrar o momento histórico e transmitir a imagem de que estamos iniciando uma nova era na exploração espacial. Assim, em vez de uniformes cor de laranja pressurizados da era dos ônibus espaciais, os dois astronautas vestiram roupas monocromáticas, elegantes e leves, desenhadas pelo mesmo estilista que criou o figurino de filmes como Avengers e Batman vs. Superman. As antigas Astrovans, que transferiram os astronautas dos alojamentos para a plataforma de lançamento, também foram substituídas pelo veículo elétrico Tesla Model X.
Elon Musk me faz lembrar Steve Jobs – um empreendedor visionário, que investe em tecnologia, sabe da importância do design, constrói parcerias que viabilizam a inovação e possui uma grande habilidade de criar histórias que nos seduzem e se traduzem em poder de mercado. Até me deu vontade de já reservar minha viagem de turismo ao espaço.