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O primeiro ano da mudança

Pensando em trocar de empresa e até de setor de atividade? Leia o que diz o executivo José Luiz Rossi, que antes liderava uma consultoria, ao completar seu primeiro ano como presidente da Serasa Experian e da Experian América Latina. Ele está conduzindo a transformação da empresa e quer conquistar a confiança do consumidor
__José Salibi Neto__ é cofundador da empresa de educação executiva HSM, palestrante, mentor de líderes e coautor dos livros Gestão do Amanhã, Código da Cultura, Estratégia Adaptativa e O Algoritmo da Vitória, entre outros. Lançará em maio pela editora Gente, em parceria com Sandro Magaldi, um livro sobre o motor do crescimento, que tem o JTBD como espinha dorsal.

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> **Saiba mais sobre  José Luiz Rossi**
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> **Quem é:** CEO da  Serasa Experian e  da Experian América  Latina desde maio  de 2014. 
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> **Carreira:** Formado em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi CEO da Capgemini e líder da prática de consultoria da IBM para o Sudoeste Europeu, além de consultor da PwC. 
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> **Especialidades:** Tecnologia, big data, mercado financeiro.

Em maio de 2014, o executivo José Luiz Rossi mudou de empresa, de setor de atividade e ainda tomou para si um desafio especialmente grande: reposicionar a Serasa Experian no Brasil e a Experian América Latina –ele comanda as duas– em um mercado em acelerada transformação. Passado um ano, Rossi faz um balanço positivo de sua radical decisão, indicando, com o próprio exemplo, os pontos-chave para quem quer fazer uma transição similar, mas teme perder-se em suas naturais dificuldades. Nesta entrevista exclusiva a HSM Management, o executivo diz por que suas motivações para mudar são corretas e fala de como vem enfrentando os desafios. 

**Muitos gestores querem mudar de empresa, mas temem o processo, ainda mais em tempos de incerteza como os atuais. Completado um ano, como você avalia sua decisão de mudar?** 

Foi o que eu queria. Chega um momento na vida em que já temos um patrimônio formado e os filhos encaminhados. Então, podemos ter o foco, efetivamente, em seguir o que nos motiva. Eu cheguei a esse momento –meu filho mais jovem, de 20 anos, já está na faculdade. O que me motiva? Acho que existem dois perfis de profissionais, um dos que gostam de tocar negócios em velocidade de cruzeiro e outro dos que são melhores para cuidar de algo que passa por transformação. Eu me encaixo no segundo perfil: transformação é o que me motiva e me desafia, e fui atrás disso. Tinha terminado uma reorganização na empresa anterior [a firma de consultoria Capgemini], ao longo de cinco anos, um trabalho de que gostei muito. Queria um desafio novo, tão estimulante e saboroso quanto aquele. Tenho um hábito: todo ano faço uma avaliação sobre se o que estou fazendo me desafia, para poder continuar competitivo. Procuro sempre o desafio intelectual. 

**A adaptação foi difícil? Em geral, líder novo encontra resistência…**

Vou falar dos primeiros 100 dias, que vêm carregados com uma expectativa muito grande da empresa com relação ao novo líder –depois disso, ele até deixa de ser novidade. Eu usei meus 100 primeiros dias para conhecer bem as pessoas ali. Fiz questão de entrevistar a primeira e a segunda linhas de gestão da companhia inteiras, somando 100 pessoas. Também usei esse tempo para conhecer os produtos e os problemas. Participei da formulação do plano estratégico de três anos e, obviamente, fiz alguns ajustes no modelo de gestão, porém isso foi menos relevante, porque seria muita pretensão minha chegar a uma empresa complexa e vitoriosa como a Serasa Experian e querer ensinar o pai-nosso ao vigário. O fundamental foi eu conhecer a companhia –e ela me conhecer. 

**Sua vida pessoal ficou abalada pela transição?** 

Não, minha vida pessoal é muito maior do que minha carreira, sempre foi e sempre será. Minha família e meus amigos são muito importantes. Eu equilibro bem essas coisas e, se precisar, abro mão do trabalho pela família. Você conhece a definição de felicidade da [atriz sueca] Ingrid Bergman? “Happiness is good health, short memory and hard skin” [Felicidade é boa saúde, memória curta e casca grossa, em tradução livre]. 

O que isso quer dizer? Que a felicidade não é só o trabalho, mas um conjunto de coisas, e que não devemos nos incomodar com os pequenos dissabores, focando o relevante. Não acredito em pessoas infelizes por causa do trabalho; se são infelizes, é por um conjunto de coisas. 

**Você teve de adaptar seu estilo de liderança para a Serasa Experian?**

Não, sempre acreditei em liderar pelo exemplo e pelo diálogo, e continuo trabalhando assim. Sempre me coloquei na posição das pessoas que trabalham comigo para entender a experiência necessária ali. Além disso, na Serasa Experian, costumo dizer para meu time de liderança que primeiro pensamos na empresa, depois cada um pensa em sua área e, por último, pensa em si. E eu já dizia isso antes também. Como a empresa é um organismo vivo, com muitas coisas inter-relacionadas, a visão holística é fundamental para a liderança. Acredito em meritocracia em qualquer circunstância, em trabalhar com recompensa [remuneração] e reconhecimento pelos esforços dos colaboradores. A Serasa Experian já tinha a vantagem de estar, antes de eu chegar, entre as melhores empresas para trabalhar no Brasil.

> **3 CONSELHOS AOS MAIS JOVENS**
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> _HSM management pediu a josé luiz rossi que desse três conselhos aos jovens gestores. Veja:_
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> **1. Vá morar no exterior.** Ter morado na Inglaterra quando adolescente, entre os 15 e os 18 anos, ajudou-me muito. Como não havia internet, rede social ou Skype, era como se eu tivesse ido para Marte com minha família. Isso me fez desenvolver o que eu chamo de inteligência cultural. Como digo para meus filhos, neste mundo globalizado, tem vantagem competitiva quem possui três inteligências: a tradicional (do QI), a emocional e a cultural. Particularmente, acho que os profissionais que têm essa capacidade de entender cultura vão ser cada vez mais diferenciados. 
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> **2. Entenda logo que as pessoas são realmente importantes para uma empresa.** Para fazer isso, vá à empresa em um domingo e a veja vazia, sem ninguém; o impacto é grande. Você logo perceberá que o que faz efetivamente as organizações progredirem é a qualidade de seu capital humano. Por isso, gastei sempre muito tempo para desenvolver pessoas com mentoria. 
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> **3. Aprenda as cinco regras para ser um bom líder:** montar equipes fortes –o mais fortes possível–, servir de exemplo para os outros, ter resiliência (inclusive para sobreviver ao sucesso), conhecer-se bem e ter autoestima elevada combinada  com humildade.

**É fácil liderar uma organização bem resolvida que já é líder em seu mercado? Como maior autoridade certificadora do Brasil no serviço de créditos, a Serasa Experian parece ser um quase monopólio.**

Nessa área de certificado digital, somos líderes, mas nossa participação no mercado é de 25%. Temos vários concorrentes atuando de modo bastante pulverizado, apesar de ser tudo muito regulamentado. E eu não acho fácil liderar uma empresa líder, não. A cobrança e a responsabilidade são enormes. Todos os dias somos avaliados rigorosamente por nossos clientes; se eles tomam uma decisão errada de conceder crédito por causa de um relatório nosso, perdemos credibilidade com eles na hora. 

**Na Serasa Experian, você queria um desafio similar ao da Capgemini. Qual é ele?** 

Nós trabalhamos com dados sobre consumidores, certo? E esse mercado está mudando muito, por conta da recente onda de demandas de privacidade de dados e da proteção ao consumidor. Outra onda avassaladora para nós está sendo a do big data; as informações são cada vez mais abundantes e temos de saber capturar aquelas que são relevantes para nossos clientes. 

O novo ambiente, afetado pelas duas ondas, está fazendo a Serasa Experian reposicionar-se no mundo todo. Para mim, é um desafio muito interessante. E não somos coadjuvantes nele: o Brasil e o restante da América Latina, região pela qual também sou responsável, respondem por mais de 20% da receita global da companhia. Um dos efeitos desse reposicionamento é o data lab, o laboratório de dados que vamos abrir em breve. Já há um na Experian dos Estados Unidos e acaba de ser montado outro em Londres; o nosso será o terceiro no mundo. 

Estamos investindo US$ 10 milhões nisso, o que nos permitirá analisar o big data de nossos clientes do Brasil. Contratamos cientistas de dados para oferecer muitas soluções inovadoras usando big data. Na verdade, estamos entrando em um mercado ainda muito novo e incrivelmente promissor. E entramos com ambições: entendemos que o Brasil pode estar à frente desse processo, ajudando internacionalmente a companhia. O mercado está mudando e nós queremos mudar com ele: estamos investindo para estar na liderança desse mercado mutante. Ainda há outro grande desafio: a aproximação muito maior da Serasa Experian com o consumidor final, que será percebida em uns cinco ou dez anos. 

Isso vem do cadastro positivo que está sendo adotado no Brasil, segundo o qual o consumidor pede para incluir seu nome em um banco de dados de bons pagadores e tem a vida facilitada. Cabe ao consumidor escolher quem será o fiel depositário das informações sobre ele e a Serasa Experian quer ser a escolhida.

**É uma Serasa Experian B2C? Mas o consumidor final gosta de vocês? Ele recebe carta de cobrança da Serasa e treme…** 

Eu não concordo que a Serasa Experian não tenha uma boa imagem com o consumidor; ela é vista como o pai severo, mas justo. Ninguém recebe uma cartinha nossa e joga no lixo, dizendo: “Eles estão errados”. O consumidor sabe que tem uma informação confiável ali e isso é muito forte. O desafio é transformar essa credibilidade que existe hoje entre o consumidor e a Serasa em uma relação de confiança, em que ele entenda que somos os melhores guardiões para os dados dele. 

**Outra área recente para vocês é a da segurança de informações. É um desafio?** 

Sim, porque onde há informações eletrônicas há gente querendo usá-las de maneira indevida, e não existe nada que garanta 100% de proteção contra fraudes. O que fazemos é tornar a vida dos hackers bem mais difícil, como quem põe 23 cachorros ferozes para cuidar de uma casa. Lidamos com hackers cada vez mais sofisticados, categorizados por comportamento: há o garoto que pirateia pelo prazer de fazer isso, há o idealista anticapitalismo que quer quebrar os bancos, há o mafioso que hackeia para enriquecimento próprio como se comercializasse armas ou drogas, e há a pessoa em busca do status que o hacking dá.

**Para terminar: a transição da consultoria, em que você aconselha os outros a fazer, para a vida executiva, em que você sai fazendo, é fácil?**

Esse desafio até que está sendo tranquilo, porque a natureza dos dois negócios específicos tem mais semelhanças que diferenças. Tanto a Capgemini como a Serasa Experian trabalham com serviços, com tecnologia e big data, com clientes do setor financeiro. Em ambos os casos, lida-se com ideias geradas pelos colaboradores.

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