Foi uma noite difícil. Quase não dormi, de preocupação. Levantei com o corpo dolorido, a cabeça pesada. Naquele dia, conduziria uma oficina para 40 pessoas e estava ansioso. O grupo era até fácil. A questão era que, dias antes, outro facilitador tinha conduzido o mesmo roteiro com um grupo semelhante. E tinha sido um sucesso. A turma havia amado. Meu workshop não podia ser menos que uma apoteose, com direito a volta olímpica, sendo carregado pela turma.
Antes do almoço, eu já estava desesperado. A manhã havia sido horrível. Ávido por aprovação, eu tinha pulado etapas, adiantado raciocínios. A noite mal dormida pesou e decidi não almoçar, para ficar esperto. Fiquei lá, com fome, tentando melhorar o plano. O jejum não adiantou. No fim do dia, eu estava exausto. Quando um participante pediu para sair antes, vi ali uma oportunidade e encerrei. Quem me conhece sabe: sou fominha. O tempo é sempre curto para o tanto de atividade que quero fazer. Naquele dia, eu não tinha apetite.
Mas o fim da oficina não foi uma trégua. No dia seguinte, haveria outra turma idêntica, mesmo roteiro. Eu mal tinha energia para ficar aflito.
## Por que faço isso?
Não sei se foi o cansaço, mas à noite algo se moveu em mim e me descolou daquele estado de espírito, abrindo espaço para refletir. E então lembrei.
Mais que lembrar, resgatei um sentimento genuíno, de que faço esse trabalho porque acredito nele.
As vivências que conduzimos na RIA buscam ampliar a consciência sobre como nos relacionamos. E mostrar que, com mais presença, podemos agir diferente. Podemos romper linhagens antigas de padrões nocivos, que nos distanciam de nós mesmos e dos outros.
Podemos transformar o mundo ao redor. Em outras palavras: faço isso por amor. Lembrar (e sentir novamente) minha motivação mudou o sabor do desafio. A rigidez amoleceu, em relaxamento. Uma confiança interna se ergueu, desprendida dos resultados. Diante da importância da ação, os riscos de fracasso perderam peso. O propósito inverteu a relação custo-benefício. Se posso ajudar a criar o mundo em que quero viver, o que é um tropeço, ou mesmo um “vexamezinho”?
## Porque vale a pena
Conto essa história porque conectar-se com o significado é uma das molas capazes de impulsionar os membros de um time a correr riscos pelos objetivos compartilhados.
Pesquisas mostram que o risco de não agradar, o medo de ser excluído, é o maior obstáculo ao trabalho em equipe. Um time jamais exerce seu máximo potencial se seus membros deixam de perguntar, dar ideias ou desafiar o status quo por medo do que os outros vão pensar. Todo apoio é bem-vindo na tarefa de superar o medo do julgamento. O propósito é um dos aliados nessa tarefa.
Voltando àquele dia, a oficina foi um prazer. Me senti vivo, com brilho nos olhos. Fiz amizades no almoço e saboreei a oficina até o último gole. No entanto, quando recebi as avaliações dos dois dias, elas eram muito semelhantes, ambas bastante favoráveis. Parece que a maior diferença foi para mim, mesmo.
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