ESG

O que a COP 28 tem a ver com a alta liderança corporativa?

O risco climático é também um risco para os negócios empresariais. Por isso, é preciso conectar de forma estratégica os objetivos corporativos e ambientais para construir um futuro mais positivo e sustentável
Carol Biancardi e Juliana Neumann são líderes de projetos na Springpoint, um hub de inovação para transformação de cultura do ecossistema da Futurebrand.

Compartilhar:

Não é novidade que a pauta ESG (governança ambiental, social e corporativa, na tradução) chegou para ficar nos conselhos executivos das organizações. Questões ambientais, sociais e de governança têm norteado discussões que passam pelas mais diversas esferas de negócio – inclusive trazendo luz para o papel da alta liderança como vetor de transformações. Mas a questão é: toda essa discussão está de fato levando à ação? Nos próximos dias, a COP 28 (Conference of the Parties, na sigla em inglês) vai trazer à tona as perspectivas ambientais para os anos seguintes. E é neste momento que o papel das organizações – e, claro, da camada de liderança que toma decisões – se torna ainda mais urgente.

Neste cenário, a COP, fórum anual realizado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, tem sido relevante ao reunir diversos atores para debater o aquecimento global, seus impactos e compromissos assumidos de adaptação ou mitigação. São governos, sociedade civil, pesquisadores e empresas compartilhando suas estratégias para redução de emissões, para desenvolver o mercado voluntário de carbono, suas soluções baseadas na natureza e justiça climática. Embora o nível de evolução entre uma COP e outra seja pequeno, em 2022 pudemos constatar alguns ganhos importantes.

Um deles foi a aprovação do Fundo de Perdas e Danos. Pela primeira vez em muitos anos de COP, os governos discutiram a maior responsabilidade dos países desenvolvidos no aquecimento global e por isso a necessidade de reparação. O objetivo deste fundo é ajudar financeiramente os países menos desenvolvidos (e mais afetados com os efeitos do clima). Outro destaque é o estímulo ao investimento em soluções baseadas na natureza – que é um grande potencial do Brasil, sobretudo via sistemas agroflorestais que otimizam o uso da terra. Neste aspecto, por exemplo, existe uma grande oportunidade de parceria entre empresas, governo e comunidades locais.

Neste contexto, o setor privado está sendo cada vez mais desafiado a se articular para influenciar as negociações. É preciso se unir, debater desafios comuns e encontrar soluções em conjunto para reduzir impacto não apenas em seus produtos e serviços, mas em toda a cadeia. O risco climático é também um risco para os negócios empresariais. Por isso a cobrança pela descarbonização cresce a cada dia, e esse passa a ser um tema estratégico para o crescimento e sustentabilidade das organizações. No entanto, ao acompanhar estas discussões nos boards executivos percebemos que muitas delas ainda enfrentam o dilema “por onde começar?”.

Aqui que a COP e o papel da liderança se econtram: é preciso conectar de forma estratégica os objetivos de negócio e ambientais para construir um futuro mais positivo.

Vamos ampliar um pouco mais o olhar: o que esperar da próxima COP que começará na próxima semana e quais são os desafios e oportunidades para os diferentes setores de nossa economia?

O tema de transição energética será fortemente discutido, assim como segurança alimentar no que tange às práticas de cultivo sustentáveis que beneficiam populações locais. O Brasil terá sua maior delegação participando do evento, resultado de pressões globais e de promessas do atual governo com a redução do desmatamento na Amazônia. Além disso, é esperado que saia o relatório *Global Stocktake* (GST) com desafios e resultados alcançados desde o Acordo de Paris, em 2015. O objetivo é que os governos apresentem novos compromissos e metas a partir do que for apresentado neste material.

Para se ter ideia, de acordo com o *Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas*, a Terra já alcançou um aumento de 1,1ºC desde a revolução industrial e algumas regiões já ultrapassaram esta marca – como é o caso do estado de São Paulo, que apresenta aumento de 1,92ºC. Portanto, os desafios de adaptação estão cada vez maiores, e o engajamento de diversas partes é essencial.

Após esse olhar sobre nosso contexto atual, propomos uma reflexão: o setor privado está pronto para enfrentar as mudanças climáticas de maneira eficaz e significativa? A pressão para a descarbonização e a necessidade de promover práticas de negócios sustentáveis é urgente. Que a COP abra caminhos e nos mostre o quão prontas as empresas estão para liderar a transição rumo a um futuro mais sustentável e de preservação da existência humana em nosso planeta.

Bibliografia:

ARTAXO, Paulo (2020). As três emergências que nossa sociedade enfrenta – saúde, biodiversidade e mudanças climáticas.

Deloitte, 2022, Board of the Future Report.

IPCC, 2023. AR6 Report. Climate Change 2023.

KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Companhia das Letras, 2010.

WRI Brasil, COP27: principais resultados e perspectivas para 2023, Dez.2022.

The Board of the Future, Delloite, 2022.

Compartilhar:

Artigos relacionados

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Uncategorized
A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Edward Tse

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Polímatas e Lifelong Learners: explorando perfis distintos que, juntos, podem transformar o ambiente de trabalho em um espaço de inovação, aprendizado contínuo e versatilidade.

Rafael Bertoni

4 min de leitura
Uncategorized
Liderança em tempos de brain rot: como priorizar o que realmente importa para moldar um futuro sustentável e inspirador.

Anna Luísa Beserra

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Laís Macedo

4 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar empresas que continuamente estão inovando é um desafio diário, mas cada questão se torna um aprendizado se feito com empatia e valorização.

Ana Carolina Gozzi

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A experiência varia do excepcional ao frustrante, e a Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada para padronizar e melhorar esses serviços em escala global.

Flavio Gonçalves

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
No cenário globalizado, a habilidade de negociar com pessoas de culturas distintas é mais do que desejável; é essencial. Desenvolver a inteligência cultural — combinando vontade, conhecimento, estratégia e ação — permite evitar armadilhas, criar confiança e construir parcerias sustentáveis.

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
ESG
A resiliência vai além de suportar desafios; trata-se de atravessá-los com autenticidade, transformando adversidades em aprendizado e cultivando uma força que respeita nossas emoções e essência.

Heloísa Capelas

0 min de leitura
ESG
Uma pesquisa revela que ansiedade, estresse e burnout são desafios crescentes no ambiente de trabalho, evidenciando a necessidade urgente de ações para promover a saúde mental e o bem-estar nas empresas.

Fátima Macedo

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Enquanto a Inteligência Artificial transforma setores globais, sua adoção precipitada pode gerar mais riscos do que benefícios.

Emerson Tobar

3 min de leitura