Marketing e vendas

O que os consumidores chineses buscam

Para entender o mercado interno da China, players estrangeiros precisam entender o valor diferenciado que as marcas locais oferecem; o valor da Luckin Coffee não é igual ao da Starbucks
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

Faz anos que alguns especialistas em negócios dizem: “Consumidores chineses preferem marcas estrangeiras”. E faz anos que outros especialistas discordam. “Os chineses são tão patriotas que marcas estrangeiras não têm chance aqui”, eles argumentam.

Quem está certo?

Como sempre é em casos polarizados, ninguém. Nem ninguém está totalmente errado. Qualquer análise da China em geral – e do ambiente de negócios em particular – requer um exame mais matizado e cuidadoso. Vejamos alguns segmentos de bens de consumo.

Marcas domésticas de moda esportiva como Anta e Li-Ning estão roubando market share na China de globais como Nike e Adidas. Elas vêm alcançando paridade tecnológica e, ao mesmo tempo, enfatizam o valor para os consumidores locais. Entretanto, as estrangeiras mencionadas começam a oferecer produtos e serviços mais adequados às preferências dos consumidores chineses dando maior autonomia aos times locais. Já entenderam que a centralidade do consumidor e a inovação decorrente são essenciais para uma boa marca e para o crescimento sustentável na China.

Gigantes globais dos cosméticos, como a L’Oréal e a Estée Lauder, dominam o mercado de cosméticos em rápido crescimento da China, mas há marcas nacionais ganhando impulso graças à inovação tecnológica, como Bloomage Biotech (com seu ácido hialurônico), ou beneficiando-se da tendência “guochao” (algo como “o pior produto chinês é preferível ao melhor estrangeiro”), especialmente no setor de cosméticos coloridos, como as marcas locais Perfect Diary e Flower Knows. No entanto, o risco de se apoiar na tendência “guochao” sem focar o suficiente na proposta de valor global de um produto vem sendo percebido. Houve recentemente uma controvérsia envolvendo 0 astro da TV chinesa Li Jiaqi e a marca doméstica Florasis, da qual era garoto-propaganda. Quando questionado por um consumidor sobre o preço dos produtos, o pop star lhe disse que ele é quem ganhava pouco, talvez por não se esforçar tanto quanto devia. Esse incidente sublinhou a necessidade das marcas se envolverem autenticamente com os consumidores e construírem uma proposta de valor além do apelo patriótico.

O mesmo princípio se aplica às redes de cafés. A Starbucks na China adapta a narrativa de sua marca para ser atraente para os setores ricos e de classe média do país, além de oferecer sobremesas tradicionais chinesas, como bolos da lua. Mas a marca local em ascensão Luckin Coffee faz diferente: combina ofertas nacionais, tecnologia e acessibilidade para seus produtos serem mais locais e mais acessíveis. Pelo sucesso que vêm obtendo, os consumidores chineses tomam decisões de compra com base na maximização do valor percebido, seja a marca emocional ou os benefícios mais práticos.

Não é o espírito guachao “da China para a China” que manda aqui. Mas, para ter sucesso, é preciso inovar, ser verdadeiramente centrado no cliente e ser rápido, muito rápido – como dizem, deve-se ter a “velocidade da China”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura