Uncategorized

O que se ganha ao expandir o olhar

Três brasileiros contam seus principais aprendizados após uma temporada de estudos fora do país

Compartilhar:

Ao final dos dois anos de MBA na Stanford GSB (Graduate School of Business), na Califórnia (EUA), o engenheiro mineiro André Penha tinha uma vontade enorme de voltar para o Brasil e fazer algo de impacto. Mesmo que esse “algo” parecesse diferente demais. “Aquele ambiente altamente inovador me mostrou que não podemos depender de consenso para tomar decisões”, conta. Com outro brasileiro que conheceu no curso, Penha fundou o QuintoAndar, startup que simplifica contratos de locação de imóveis, eliminando a burocracia. “Alugar é chato e queria mudar isso”, diz. O início foi difícil – “os investidores achavam a ideia uma loucura”, conta – mas hoje, sete anos depois, após nova rodada de investimentos de um fundo americano, ele planeja aumentar o número de cidades alcançadas e lançar novos produtos. “Aprendi que é possível lidar com o desconforto se há uma visão. Mudar vidas, empresas ou mercados nunca será confortável”, comenta ele. 

Igor Marchesini também voltou transformado da temporada de estudos fora. Hoje, fundador e CEO da fintech de pagamentos móveis SumUp no Brasil para pequenos empreendedores (a empresa é alemã mas tem atualmente aqui seu mercado mais promissor), ele largou uma carreira de alto potencial como consultor da Bain & Company para empreender após ter sua visão de mundo alargada pela experiência de estudo e de estar inserido em uma comunidade global de conhecimento. “Éramos incentivados a pensar soluções para problemas que nossos mercados enfrentavam e a assumir um senso de responsabilidade pelo presente”, resume. Nubank, DogHeroe e iFood são outros exemplos de startups que se iniciaram com a volta de brasileiros da Stanford GSB.

Entre junho de 2018 e maio de 2019, outros 300 brasileiros se inscreveram nos módulos de MBA da Stanford GSB. Esse interesse crescente aguçou a curiosidade do reitor Jonathan Levin pelo Brasil, e o trouxe até aqui em agosto. “Quis ver de perto esse País que nos envia tantos talentos”, comenta. A instituição recebe alunos de 60 países, a maioria com o desejo de ingressar em carreiras menos tradicionais, como os dois exemplos citados aqui. “Há 20 anos recebíamos muitos alunos de bancos, multinacionais e consultorias em busca de aperfeiçoamento para retornar às suas atividades. Eles continuam vindo, mas em menor número. A maioria está de olho em outras possibilidades”, diz. 

A matemática Erica Janini faz parte do grupo dos que não buscavam uma nova carreira. Ao retornar, ela queria inovar dentro do Itaú, onde ingressou ainda trainee há 14 anos. E então criou o Cubo, plataforma que conecta startups, já fomentando a transformação digital no longínquo 2015. “Eu tinha alergia a empreender”, brinca, “mas queria ser uma líder melhor e tentar algo diferente na minha área. Nos dois anos de curso, conheci muita gente, aprendi sobre os desafios dos ecossistemas de negócios e tive o insight para iniciar o Cubo”, conta. 

Para esses brasileiros, o que mais valorizaram na experiência de estudar fora foram os aprendizados que transcenderam as aulas de gestão. “Desenvolvi skills como convencimento, empatia e feedback que me ajudaram a criar uma nova cultura de comportamento”, conta Erica. “Fazíamos dinâmicas e encontros informais que mostravam a importância de ouvir de verdade seu interlocutor, o poder que se cria a partir dessa conexão”, reforça Marchesini. “Nossas turmas são menores justamente para criar relacionamentos mais imersivos, que não se rompem após o fim do curso. Ex-alunos continuam se apoiando mutuamente pela vida”, comenta Levin. 

Como outros pontos-chave do programa destacam-se a relação próxima com a comunidade de Vale do Silício, clima colaborativo e global com foco na busca por ideias que solucionem problemas do mundo real. “Temos uma especial preocupação com o futuro e os redesenhos sociais. Nossa ideia é formar líderes que tragam contribuições para o mundo”, finaliza Levin.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Amy Webb SXSW 2025

O que são sistemas multiagentes, biologia generativa e o inteligência viva, destacados por Amy Webb no SXSW 2025

A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura