“A água é suave, mas corrói a pedra. A compaixão é leve, mas sustenta o mundo.” – Sabedoria oriental.
No Japão, mais de 33 mil empresas têm mais de 100 anos de existência. E não é coincidência. Esse fenômeno, conhecido como shinise (empresas centenárias), nos convida a refletir: por que algumas organizações conseguem atravessar séculos enquanto outras não sobrevivem a uma década?
A resposta pode estar em uma sabedoria sutil, porém poderosa: o suave é mais forte que o forte.
Compaixão como estratégia de longevidade
Durante o ATD 2025, o especialista japonês Tadahiro Wakasugi apresentou um olhar transformador sobre o papel da compaixão nas organizações. Para ele, a compaixão — frequentemente mal compreendida como um traço frágil — é, na verdade, uma competência estratégica que sustenta a longevidade empresarial.
Essa compaixão se manifesta em três direções:
- Para dentro: no cuidado com os colaboradores
- Para fora: no respeito profundo pelos clientes
- Para além: no compromisso com a sociedade
Empresas que sobrevivem gerações não são aquelas que exploram pessoas ou recursos até o limite. São aquelas que nutrem vínculos duradouros, criam ambientes saudáveis e pensam no impacto que deixarão para as futuras gerações.
Kokorozashi: paixão, propósito e impacto social
Outro conceito essencial da cultura empresarial japonesa é o Kokorozashi, que pode ser traduzido como:
“Uma missão pessoal que une paixão e talento para gerar impacto positivo na sociedade.”
Quando profissionais — e empresas — operam a partir desse lugar, movem-se por algo maior do que metas trimestrais. Criam legados. Inspiram pessoas. E naturalmente, duram mais.
Segundo um estudo da Globis, líderes que refletem sobre seu legado contribuem até 45% mais para a sociedade. Isso porque, ao conectar propósito e impacto, sua atuação ganha profundidade, consistência e humanidade.
Por que líderes ainda têm medo da compaixão?
Apesar dos benefícios evidentes, muitos líderes ainda resistem à ideia de incorporar compaixão em sua prática diária. Isso acontece porque, durante muito tempo, fomos ensinados a ver a liderança como um exercício de controle, autoridade e performance impessoal.
Mas os tempos mudaram.
Hoje, os desafios que enfrentamos — como a saúde mental nas empresas, a transição ecológica e a crise de confiança nas instituições — exigem lideranças mais humanas, adaptáveis e conscientes. Lideranças que compreendam que ouvir, acolher e cuidar não são sinais de fraqueza, mas de coragem e visão sistêmica.
O futuro pertence aos suaves
As empresas do futuro não serão apenas inovadoras. Serão gentis. Não apenas lucrativas. Mas significativas.
E talvez, ao olharmos para o Japão, estejamos reencontrando aquilo que sempre esteve ao nosso alcance: a consciência de que a força verdadeira nasce da leveza, da escuta e da compaixão.