> **Saiba mais sobre o Whatsapp**
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> **Usuários ativos por mês:** + 600 milhões
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> **Novos usuários registrados por dia:** + 1 milhão
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> **Quantidade de mensagens diárias:** 50 bilhões
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> **Upload de fotos por dia:** 700 milhões
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> **Mensagens de voz por dia:** 200 milhões
Parado na frente de um edifício abandonado em Santa Clara, no coração do Vale do Silício, Jan Koum pega a caneta, apoia os papéis contra a porta de madeira e assina. Sem pestanejar. Ele acaba de vender o Whatsapp para o Facebook por US$ 22 bilhões. Sua vida nunca mais será a mesma, mas Koum não está preocupado. Está acostumado com mudanças. Filho único de um casal formado por um trabalhador da construção civil e uma dona de casa, Koum nasceu em uma aldeia da ucrânia, perto da capital, Kiev, em uma casa muito simples, em que água quente era um luxo.
Aos 16 anos, ele se mudou com a mãe para a Costa oeste dos Estados Unidos. Como não tinham dinheiro suficiente (ela era baby-sitter), ele foi trabalhar em um restaurante fast-food e contou com a ajuda do serviço de assistência social. É na frente do edifício em que ia pegar todos os meses o cheque do governo que ele assina a venda do aplicativo. a transação o colocou no seleto clube dos bilionários da área de tecnologia, com uma fortuna pessoal estimada em uS$ 7 bilhões, e o converteu em uma celebridade, atraindo a atenção dos principais jornais do mundo. Ele recusa, porém, a maioria dos pedidos de entrevista; não quer saber de exposição na mídia. “não é meu estilo, nada disso me interessa. Prefiro ser discreto e seguir trabalhando com meu pessoal”, afirma.
**ENCONTRANDO O CAMINHO**
Na adolescência, Koum era ainda mais tímido do que agora. Foi difícil se adaptar aos costumes dos jovens norte-americanos e perder a mãe antes de chegar à maioridade. Ele se tornou fanático por computadores. Passava o dia aprendendo a programar e em chats com pessoas que compartilhavam seus interesses. Embora tenha conseguido entrar no curso de ciências da computação da San Jose State university, abandonou os estudos quando conseguiu emprego no Yahoo!. na empresa, concentrou-se em otimizar os anúncios publicitários do portal por quase uma década, até que cansou e prometeu a si mesmo que nunca mais atuaria no setor.
Koum não gosta de publicidade e, por isso, o Whatsapp nunca teve anúncios. Essa foi, inclusive, uma das condições inegociáveis das conversas que antecederam a venda para o Facebook. o criador do aplicativo não queria nada incomodando os usuários. “a publicidade não melhora a vida de ninguém”, já afirmou Koum várias vezes. Em 2008, depois que saiu do Yahoo!, ele utilizou a poupança que havia conseguido juntar para viajar um ano pelo mundo, contando com a companhia de Brian acton, de quem se tornara amigo quando ambos trabalhavam no Yahoo!. no ano seguinte, acton o ajudou a dar forma à ideia de um aplicativo para o novo iPhone, lançado pela apple.
O objetivo era desenvolver um sistema de mensagens de texto gratuito, semelhante ao SmS, que fosse muito fácil de usar e funcionasse com base nos números de telefone de cada usuário. Essa combinação única de características foi fundamental para que o aplicativo de mensagens se tornasse um “vírus”. o nome Whatsapp surgiu porque Koum gostava do resultado do trocadilho de “up” (no sentido daquilo que é mais recente, que está “rolando” no momento) com “app” (de aplicativo). Sem gastar um único dólar para divulgar a novidade, em poucos meses, o aplicativo já estava instalado em milhares de telefones celulares em todo o mundo.
> **CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA**
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> _Manter o Google longe dos smartphones foi um dos ganhos do Facebook com a operação_
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> A pergunta que todos no setor de tecnologia se fizeram é: por que e para que o Facebook comprou o WhatsApp? A dúvida inclui as razões por trás da decisão e o elevadíssimo valor pago. Especialistas dizem que o valor faz sentido se forem levados em conta o número de usuários, a tecnologia e o modelo de negócio do WhatsApp. A questão é como o Facebook vai recuperar o investimento de US$ 22 bilhões. No momento, é difícil saber, mas o próprio Zuckerberg fez questão de dizer que o aplicativo “vale muito mais do que pagamos”, garantindo que, em 12 meses, o WhatsApp contará com 1 bilhão de usuários e que isso, por si só, tem enorme valor. isso é verdade.
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> Mas quanto? As motivações que levaram à compra do WhatsApp são mais fáceis de explicar e entender. o Facebook buscou se apropriar do mundo móvel, onde acontece a principal batalha do setor de tecnologia. Também por isso, em 2013, ele comprou o instagram, o aplicativo que permite publicar e editar fotos com um smartphone. Para o Facebook, o telefone móvel é estratégico: mais de 70% de seu 1,2 bilhão de usuários acessam a rede social pelo celular. Com o instagram e o WhatsApp, a empresa de Zuckerberg consegue duas coisas, segundo boa parte dos analistas. A primeira: ter em seu poder dois dos aplicativos mais instalados em telefones móveis em todo o mundo. A segunda, talvez mais importante: manter relativamente longe dos smartphones –ao menos por agora– seu concorrente mais direto e ameaçador, o Google.
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> Para superar o Google, Zuckerberg foi mais rápido e fechou o acordo com Koum pessoalmente, aceitando todas as condições impostas pela ucraniano, que iam além do dinheiro, em especial a preservação da independência do WhatsApp. Segundo a revista Forbes, os dois brindaram na sala de estar de Zuckerberg com um Johnnie Walker etiqueta azul, o preferido de Koum. Mariano Amartino, analista latino-americano do setor de telefonia móvel, argumenta sobre as razões por trás da transação: “Lembre que estamos diante de uma empresa que já gerencia mais mensagens instantâneas por dia que todos os sistemas de SMS do mundo. isso dá uma boa ideia da abrangência do WhatsApp. Acredito que o Facebook comprou o
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> aplicativo, entre outros motivos básicos, porque mostra a todos que o preço para ele estar em um mercado que lhe interesse nunca será um impedimento e para posicionar-se melhor em mercados de países emergentes que não possuem conexão de qualidade para suportar aplicativos pesados e publicidade. Pouco importa que, atualmente, o WhatsApp não gere receita”. Nesse caminho, o Facebook deu a entender que deve ir mais adiante. Seu fundador deixou claro que pode analisar outras possibilidades de aquisições no segmento de dispositivos móveis. Para isso, conta com um caixa nada pequeno: US$ 60 bilhões.
**CHAVE DO COFRE**
Acton percebeu que precisava de recursos financeiros para seguir crescendo e se dedicou pessoalmente a buscar o dinheiro. os uS$ 250 mil que conseguiu como investimento inicial fez dele um acionista da empresa criada. No final do primeiro ano de vida do aplicativo, quando a nova versão do Whatsapp já possibilitava enviar e receber fotos, a base de usuários teve um salto espetacular. os investidores ficaram loucos para colocar dinheiro na nova estrela do mundo dos aplicativos, mas Koum os afugentava.
O único que conseguiu, após várias reuniões, convencê-lo a aceitar o dinheiro para cobrir os custos foi Jim Goetz, do icônico fundo Sequoia Capital. Para começar, colocou na mesa uS$ 8 milhões. Depois, no início de 2013, quando o total de usuários chegou a 200 milhões, desembolsou outros uS$ 50 milhões. a que se deve o enorme –e repentino– sucesso do Whatsapp?
Para Koum, a vários fatores. “nós nos concentramos em melhorar o produto e tentar fazê-lo funcionar como uma agenda de contatos, o que contribuiu para que o aplicativo se tornasse amplamente conhecido sem que fosse preciso gastar para promovê-lo. além disso, as mensagens chegam rapidamente, mesmo que a conexão seja precária. Também foi importante o fato de o aplicativo estar disponível para todas as plataformas e sistemas operacionais. E, finalmente, todo mundo que escrever algo quer que a outra pessoa leia e responda, em qualquer lugar do planeta em que esteja. a comunicação está em nosso Dna e o Whatsapp surge para conectar as pessoas.” Diante da pergunta sobre como se sente ao constatar que 600 milhões de pessoas [dado de agosto] usam seu aplicativo, Koum responde: “Só queria construir um bom aplicativo; era uma espécie de desafio pessoal. Queria que todos os meus amigos o usassem. a verdade é que não pensei em nada maior do que isso”.
**O VALOR DE UM DÓLAR**
O Whatsapp nunca parou de crescer e, assim, despertou o interesse de outras empresas. Em meados de 2012, mark Zuckerberg, fundador e presidente do Facebook, aproximou-se de Koum com um plano de “sedução” que se transformou em um “casamento de conveniência” [leia o quadro da próxima página]. Seu modelo de negócio é simples: depois do primeiro ano de uso gratuito, as pessoas devem pagar um dólar ao ano para continuar a desfrutar o Whatsapp. mas a principal conquista da criação de Koum vai além do sucesso que conseguiu com os usuários. o Whatsapp se tornou, em muito pouco tempo, a mais séria ameaça para o negócio de SMS.
E ele vai mais longe. o objetivo imediato da empresa é chegar a 100 colaboradores e avançar em novos mercados. o foco principal é a Ásia, onde a japonesa Line domina o concorrido segmento das mensagens instantâneas. além disso, para os aplausos do público e os flashes dos fotógrafos, Koum anunciou em Barcelona, Espanha, no segundo semestre deste ano, que o Whatsapp permitirá falar com qualquer usuário por meio de uma ligação telefônica comum –e grátis. E se isso deixar as operadoras de telefonia contrariadas? “não acho que tenham muito com que se preocupar. as pessoas continuarão a pagar pelos serviços de telefonia móvel para usar o WhatsApp”, afirma o empreendedor.
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**DERRUBANDO MITOS**
A aversão de Koum ao marketing e à publicidade se reflete na forma como conduziu os negócios desde que criou o Whatsapp. na empresa, quase todos eram engenheiros e desenvolvedores. não havia uma área de vendas ou marketing. Ele sempre acreditou que, atualmente, a melhor maneira de comunicar é concentrar todas as energias no desenvolvimento de um produto melhor. Esse silêncio, no entanto, pode ter sido um erro, pois deixou solo fértil para que se propagassem vários mitos sobre o Whatsapp: que rouba dados pessoais dos usuários, que mantém todas as mensagens para entregar ao governo dos Estados unidos, que vende informações para empresas, para que estas anunciem produtos e serviços. Koum nega tudo. “É mentira que espionamos ou usamos os dados das pessoas. Somos contra o rastreamento de dados; valorizar a privacidade é algo que está em nosso Dna, como empresa e como indivíduos. não sabemos nem mesmo a idade de nossos usuários”, afirma o empreendedor.