Estamos, provavelmente, no momento mais propício dos últimos 50 anos para se criar uma empresa. O impacto da Covid-19 no comportamento da sociedade, assim como o quanto o acesso a novas tecnologias deverá transformar o hábito das pessoas, abrem oportunidades promissoras para se criar negócios gigantes, com modelos completamente novos e disruptivos.
Diferentemente de uma empresa criada há 20 anos, como foi o Buscapé e que teve que esperar o mercado de 100 mil internautas em 1999 crescer para atingir seus 30 milhões de usuários quinze anos depois, as startups de hoje já começam atacando um mercado gigantesco: a pandemia digitalizou TODOS OS CPFs do Brasil e do mundo. Se você não se digitalizasse, não poderia comer, receber remédios ou mesmo ver seus entes queridos. A oportunidade para empreender é única: o mercado nunca foi tão grande e as mudanças de comportamento nos próximos dez anos serão incrivelmente rápidas.
Empreendedor no passado, hoje eu invisto nas próximas gerações de empreendedores. Dotado de uma ideia potente, capaz de mudar o mundo, um excelente empreendedor tem que se tornar o exímio vendedor, um pregador, um sacerdote do seu propósito de mundo. Quanto mais gente acredita na ideia dele, mais tangível sua empresa se torna. É um trabalho árduo: cada pessoa que ele encontra, tenta convertê-la. Algumas acreditam nesse sonhador, e se tornam suas sócias, outros seus primeiros colaboradores, alguns fornecedores. Minha paixão é tornar-me seu investidor, ajudando na sua trajetória com as cicatrizes que acumulei quando estava em seu lugar.
## Mas como encontrar essa ideia vencedora?
Uma primeira dica: o momento Eureka não vem de graça. Arquimedes de Siracusa não estava só se banhando quando berrou “Eu encontrei!”, num banho púbico em 250 a.C. Ele estava há semanas procurando como resolver um problema que intrigava sua mente: como descobrir se a coroa do Rei era de ouro puro ou não?
Digo isso por experiência própria. Desde muito novo, eu adorava ir trabalhar com meu pai, também empreendedor. Primeiro numa loja de materiais de construção, depois numa empreiteira. Sempre quis empreender. Encontrar o meu negócio perfeito foi a história da minha infância e adolescência.
Meu primeiro plano de negócio, do qual tenho registro, foi aos dez anos de idade. Era uma empresa com meu irmão de sete anos para resolver o problema da minha avó, vendendo dois produtos que eu sabia (ou achava que sabia) fazer: cultivar minhocas no quintal de casa e vela de sabonete.
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Meu primeiro plano de negócio: RoAn, 1988
Alguns anos mais tarde, incentivados pelos meus pais, eu e meus irmãos resolvemos adicionar uma companheira ao nosso cão, criando o “Canil do labrador”, inclusive registrado no Kennel Club. A empreitada durou uma cria apenas, após minha mãe quase ficar louca com nove filhotes destruindo o jardim.
Na oitava série, tive aulas extracurriculares de Informática. Ali, com 13 anos, meu destino mudaria para sempre. Apaixonado pelo MS-BASIC, que pulsava em verde naquele monitor de um PC-XT 8MGHz, sabia que iria empreender em tecnologia. No ensino médio, montei com meu amigo Victor uma “empresa” de editoração eletrônica. Durou até o cabeçote da impressora queimar, ensinando um tanto sobre depreciação de ativos.
Decidi, então, estudar engenharia elétrica para perseguir meu sonho de empreender em tecnologia e, logo no primeiro ano de POLI, junto com o Ronaldo, montamos a FocoSoft, para desenvolver softwares de gestão para pequenas empresas. Até o fatídico dia em que o Rodrigo, nosso amigo de POLI, estava buscando uma impressora para comprar. Era o início da internet comercial e não havia nenhum site no mundo que comparasse preços. EUREKA!
Comecei o Buscapé em 1998, com 20 anos de idade. Meu momento Eureka foi um processo de erros e acertos, uma busca incessante que tinha se iniciado 10 anos antes. Se você não estiver treinando diariamente para enxergar o seu negócio, ele poderá passar na sua frente e você não irá perceber. A ideia para seu próximo negócio, provavelmente, virá da observação do mundo, das novas tendências de comportamento da sociedade, do Zeitgeist.
Desse relato de vida também se tira outra característica muito comum a vários empreendedores: um ídolo, um modelo, alguém a se inspirar. Não precisa ser alguém próximo fisicamente, mas precisa ser alguém que as atitudes e visão te deixem apaixonado suficiente pela louca ideia de começar uma empresa e tentar mudar um pouquinho o mundo. No meu caso, foi definitivamente meu pai. ([aqui um doce artigo escrito pelo amigo Gilberto Dimenstein sobre o papel do mestre inspirador](https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0410200925.htm))
Com a mente aberta, o bom empreendedor começa a treiná-la para identificar problemas. “Isso não funciona, essa experiência foi horrorosa, que atendimento péssimo, achei caro, custo-benefício não vale a pena, design mal feito.” Onde um consumidor vê reclamação, o empreendedor vê oportunidade. Quanto mais dor na experiência, mais chance de uma oferta completamente nova ser bem-sucedida. Não por acaso é crescente o número de empreendedores que vem de experiências profissionais anteriores em corporações: após cansativos anos assistindo à morosidade de uma grande empresa em tentar resolver um problema latente no seu mercado, o agora empreendedor – com conhecimento profundo do mercado e do problema – decide iniciar sua startup e exterminar o seu desconfortável algoz de uma vez por todas.
Num segundo olhar, o empreendedor deve analisar o tamanho daquele mercado. Quão grande é esse mercado? De forma simplória, se estuda a quantidade de usuários e a frequência de uso. A dor individual é grande, mas quantas pessoas sofrem dessa dor? É toda a população ou um pequeno nicho? E quantas vezes essas pessoas sentem essa dor todos os dias, semanas? Ou é uma vez na vida? Público-alvo grande e alta frequência vão nortear o tamanho do seu sonho.
Na medida em que começa a pensar nas possíveis soluções para o problema identificado, o empreendedor se depara com as duas últimas condições para uma grande ideia. A primeira: é escalável? Não precisa ser escalável desde o início. Aliás, muito pelo contrário, no início recomenda-se fazer coisas que não escalam (leia o preciso [post do Paul Graham aqui](http://paulgraham.com/ds.html)). Mas se tecnologia for implementada no processo/produto, a solução pode escalar rápido? A última é o quão defensável essa ideia é: será possível criar barreiras competitivas? Ou é muito fácil copiar o negócio que você que está criando?
Parece difícil? É MUITO DIFÍCIL. E a complexidade só aumenta na medida em que a ideia ganha vida. Empreender é, provavelmente, a carreira mais difícil e com curso mais indeterminado que existe. Parece gloriosa, mas tem muito sofrimento envolvido no processo. Vale ler [“O lado difícil das situações difíceis”, de Ben Horowitz](https://www.amazon.com.br/lado-dif%C3%ADcil-das-situa%C3%A7%C3%B5es-dif%C3%ADceis/dp/857827976X/ref=asc_df_857827976X/?tag=googleshopp00-20&linkCode=df0&hvadid=379708266945&hvpos=&hvnetw=g&hvrand=8032975324737358905&hvpone=&hvptwo=&hvqmt=&hvdev=c&hvdvcmdl=&hvlocint=&hvlocphy=1001773&hvtargid=pla-387388134640&psc=1), para entender como não é fácil, nem mesmo nos EUA, empreender. Mas, posso te garantir, é recompensador. Empreendedores pavimentam a estrada para o futuro.
Parece impossível? Ótimo! **Impossível é a palavra que mais guarda sucesso e realização dentro dela.**
Hora de começar! Estou aguardando você para ser convencido a investir no seu sonho de mundo.