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Os erros subversivos de Facundo Guerra

No livro Empreendedorismo para subversivos, o jovem rei da noite paulistana recomenda aprender com erros e avisa: a esperança é a maior inimiga do empreendedor

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Você falhará. Muitas vezes. Se for bem-sucedido, terá sido à custa de sangue, suor, lágrimas e inúmeras falhas. O fracasso é parte da vida, especialmente para empreendedores. Alguns falham a ponto de quebrar seu negócio logo nos primeiros anos, outros experimentam muitas pequenas falhas ao longo do caminho. Um empreendedor experiente sabe que não existe sucesso ou fracasso, mas narrativas. A falha é um dos pontos focais do empreendedor Facundo Guerra em seu primeiro livro, _Empreendedorismo para subversivos_, lançado recentemente. A seguir, **HSM Management** publica os highlights dos dez erros educativos que ele cometeu e compartilha. 

**Expansionismo desmedido**. “À medida que os anos passavam e mais lugares eu abria, tanto mais problemas eu tentava encontrar para resolver. Comecei a me comportar como um empreendedor serial, abrindo lugares e me enfiando em projetos em ritmo alucinante, à razão de dois por ano, à custa de minha vida pessoal e sanidade. Eu me meti em todos os ramos de entretenimento possíveis. Boates? Abri quatro. Bares? Quatro. Casas de show? Duas. Cinema, centro cultural, aplicativo? Um de cada. Projetos corporativos? Mais de cinco. Minha fome não tinha limites, mas eu não gozava mais os lugares. Eram apenas mais um, e mais um, e mais um, um ritmo triste entre articular a equipe, colocar toda a minha energia para o projeto começar, inaugurar, virar as costas e saltar para outro projeto, voltando no máximo três ou quatro vezes para o lugar que tinha recém-inaugurado. 

Os espaços começavam com uma energia incrível, mas, sem meus olhos, e os dos meus sócios, eram rapidamente perdidos para a entropia. E eu não me interessava mais pelos lugares. Comecei a me sentir permanentemente fatigado, tinha sono o dia inteiro, dormia poucas horas por noite, era descuidado profissionalmente, irritadiço. Tinha entrado em um platô na minha vida profissional: era bem-sucedido, mas isso pouco importava. Não era mais feliz fazendo o que fazia, não tinha tempo para me conectar com meus amigos ou me exercitar, meu casamento se desfez; até mesmo minha filha, a coisa mais importante que tenho, um dia me perguntou, do alto de seus 2 anos, por que não me via sorrir. Estava permanentemente em estado de guerra comigo e com todos. 

Sem alternativas, eu me arrastei até um psiquiatra, que encontrou minha saúde mental em frangalhos. Tive de encher minha cara de remédios controladores de humor, coisa que jamais pensei ter de fazer na vida. Pago os custos desse crescimento desmedido até hoje. Perdi sócios, me endividei, vivo com medo de quebrar – e por algumas vezes estive muito próximo disso, sendo salvo pelo gongo. 

Moral da história: se for bem-sucedido, goze. Só expanda seu projeto se isso realmente fizer sentido para o propósito.” 

**Vaidade.** “Quando realizamos um projeto, nós o achamos fantástico. É uma parte nossa. Muitos negócios são isso: apenas vasos para as vaidades de seus donos. Por isso, quando começam a ir mal, a primeira atitude é a negação. Acreditamos estar à frente de nosso tempo, julgamos que o mundo não nos entende, não aceitamos que de fato erramos na solução que propusemos para o problema. Excesso de vaidade e falta de autocrítica nos deixam cegos para reconhecer os tropeços ao longo do caminho, e isso pode ser fatal. Vaidade extrema pode matar tanto o negócio quanto o empreendedor. Tenha cuidado com ela.” 

**Não respeitar o capital.** “Essa é a lição mais cara de todas. Não importa se você é o Elon Musk dos trópicos: tudo ruirá se você não se familiarizar com os princípios da administração, com a operação e com o controle financeiro do seu negócio. Por mais que possa estar imbuído de propósito, com sangue nos olhos para resolver um problema legítimo, e a relação política de seu produto com o entorno esteja clara e bem equacionada, de nada valerá seu discurso neo-hippie-pós-capitalista se o banco não compartilhar dos seus ideais de empreendedor. E, acredite, o banco não compartilhará. Você está na fratura entre o velho mundo, aquele impulsionado pelo lucro como imperativo máximo dos negócios, e o novo mundo, onde o propósito e a política precisarão ser levados em conta a cada momento. Aqui vale a regra de ouro de qualquer subversão: conheça as regras de trás para a frente antes de se propor a quebrá-las; do contrário, além de se machucar com o enfrentamento direto, suas ações para Empreendedorismo reportagem mudar o mundo serão apenas tiros de festim, e você parecerá um mero adolescente revoltado. Matricule-se em um curso de finanças e administração, leia sobre o assunto – mesmo que você intencione deixar os aspectos administrativos para um sócio.” 

**Não saber quando parar.** “Seu negócio foi criado com uma narrativa e qualquer narrativa precisa de um fim. Não acredite que seu negócio durará para sempre; ele não vai durar. Seja maduro e planeje até onde seu negócio irá. O propósito, a política e o problema [os três Ps] sempre admitem inúmeras soluções, e talvez o produto ou serviço que você criou seja apenas uma de muitas maneiras de equacionar essas três variáveis. E lembre que do fim se faz um novo começo.” 

**Acreditar no mito do público-alvo (e nos formadores de opinião).** “Eu não sei se você já se deu conta, mas não existe público-alvo. Primeiro, porque deveria ser proibido encarar o consumidor como um animal de caça – e sempre que ouço o termo ‘público-alvo’ eu me lembro da mãe de Bambi sob a mira de um caçador sem alma. Segundo, porque é impossível encaixar determinado agrupamento de humanos em uma categoria de consumidores. Para colocar um produto ou serviço no mercado, é preciso responder a uma inquietação pessoal, não tentar responder a uma massa amorfa, sem rosto, nome ou opinião. 

Depois, no refinamento do produto, quer-se normalmente atingir a elite e os formadores de opinião. Pergunto: é possível mesmo alguém influenciar a compra de alguém por contiguidade e exemplo? Provavelmente a resposta depende de inúmeras condições. Eu prefiro atender uma comunidade que tenha opinião própria e não simplesmente paute suas decisões porque a celebridade fulana ou sicrana foi paga para exibir esse ou aquele produto. Um produto é a solução a um problema encontrado por você. Esqueça os demais. Com sorte, e se você encontrou um problema legítimo, outros se identificarão contigo. Se quiser diminuir os riscos, use ferramentas como o crowdfunding e o crowdsourcing.” 

**Acreditar em business plan.** “O documento em que se simula e virtualiza o negócio nada mais é – em minha nada humilde opinião – do que ficção científica digna de um filme de Ed Wood. É uma perda de tempo e energia que pode condenar o negócio antes de seu nascimento, em vez de auxiliar o empreendedor na tomada de uma decisão. Me explico: timing é uma das mais importantes variáveis a serem levadas em consideração quando você for montar um negócio. Não acredite que só você em todo o planeta foi genial a ponto de ter uma ideia e que sua solução é única no mundo. 

Já fiz business plan e fiz o que pude para provar que merecia receber o investimento que pleiteava. Isso me tomou dois meses e, quando tudo parecia certo e eu tinha o investimento, recebi a notícia do proprietário do imóvel onde pretendia abrir meu negócio que ele já havia sido alugado para um concorrente. Perdi o timing. Existem ‘empreendedores’ de business plan, e existem empreendedores que têm ideias inovadoras, sujam as mãos e desenvolvem soluções para problemas reais. (Fique no segundo grupo.)” 

**Achar que o inferno são os outros.** “Quantas vezes não culpei a crise, o mercado, a concorrência, os jovens, os astros porque meus negócios não iam bem? Vitimizar-se e depositar a culpa em variáveis que estão fora do seu controle é a maneira mais rápida de agravar a situação desafiadora em que você se encontra. Aquilo que não tem solução solucionado está. Deixe de se preocupar com o que você não tem controle, abra mão do beicinho e do choramingo, arregace as mangas e interfira exatamente onde pode criar uma mudança. Mergulhe profundamente na sua gestão e nas finanças. Investigue se o produto que criou perdeu seu caráter de inovação e virou uma commodity. Analise sua comunicação e se você está usando os canais certos para divulgar seu produto. Etc.” 

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/3128c05b-1325-4782-a2bb-859b43dafe90.png)

**Não saber responder às críticas.** “Na medida em que seu produto é você, cada dardo disparado contra ele te doerá na carne. Já recebi críticas aos meus lugares que me deixaram em posição fetal por dias, desejando jamais ter nascido. Caso alguém te insulte, não faça como o idiota aqui, que perdeu dias de sua vida respondendo a patadas nas redes sociais. Resista à vontade de devolver o impropério no mesmo tom.Também não acredito em silêncio. Arrume uma calma de neurocirurgião pediatra para argumentar e esteja no controle da situação. E lembre sempre: algumas reclamações são legítimas.” 

**Esquecer o caixa.** “Quando administrar sua empresa, foque o nível de seu caixa. Você deve saber quanto de energia tem disponível de cor e salteado, dia a dia. Sempre deixe disponível o que pode ser chamado de ‘caixa para o caso de um apocalipse zumbi’: seis meses, preferencialmente mais, dos custos operacionais de seu negócio, mais um pró-labore para os sócios, caso o pior dos cenários se configure e você tenha que passar por um tempo sem faturar um único centavo que seja.” 

**Ser obcecado.** “Nos dois meses subsequentes à abertura de meu primeiro clube, o Vegas, eu perdi 15 quilos que me fizeram falta à época. Estava tão obcecado e apaixonado pelo lugar que simplesmente deixei de comer. Naquele momento era necessária toda a energia que eu tinha dentro de mim. Mas, se eu tivesse continuado com aquele nível de dedicação ao Vegas, provavelmente estaria morto agora. Assim como você reserva um caixa para o caso de algo não dar certo, reserve algo de energia para si e para os seus. São eles que importam, no final das contas. Soa piegas, mas é a verdade.”

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