Estratégia e Execução

Os plutocratas

Nunca se falou tanto em tornar o capitalismo mais justo, mas um livro diz que 7 milhões de super-ricos globais vêm aumentando a desigualdade

Compartilhar:

Um novo livro, Plutocrats: the Rise of the New Global Super Rich and the Fall of Everyone Else (ed. Penguin Books), enfoca a parcela equivalente a 0,1% da população mundial cuja renda média anual per capita é de US$ 23,8 milhões, e que cresce exponencialmente. Citando o aumento da desigualdade também entre as empresas, a autora Christya Freeland descreve o fenômeno a seguir. 

**Como você define os plutocratas?** Eles trabalham duro, têm nível educacional alto e sentem-se vencedores, por mérito, de uma árdua competição econômica globalizada. Tendem a acreditar em instituições que permitem a mobilidade social, mas não são entusiastas da redistribuição de renda –com impostos, por exemplo. São as pessoas mais internacionais de todas que conheço, no modo de viver e no de ganhar dinheiro. 

**A teoria hourglass do consumidor seria a evidência disso. O que é essa ampulheta?** O Citigroup criou o índice Hourglass, cuja carteira tem ações de empresas dos extremos econômicos, de bens de luxo e de varejistas de desconto, mas não empresas que atendem a classe média. O interessante é que esse índice subiu 56,5% entre dezembro de 2009 e setembro de 2011, enquanto o Dow Jones avançou 11%. 

**O que explica o fenômeno?** No livro, dou três explicações. A primeira é a revolução tecnológica, que remodela o modo de trabalhar e viver –e está apenas no começo. A segunda é a globalização, que, embora tenha aumentado a riqueza mundial, o que é bom, excluiu a classe média do jogo nos mercados maduros e criou os cenários “o vencedor leva tudo”. A terceira é o Consenso de Washington, que substituiu o pensamento do pós-guerra, cauteloso com a diferença entre o que recebem um CEO e um trabalhador. Vieram então as ondas de desregulamentação, privatização, o limite ao poder sindical, e o resultado é: se nos anos 1980 um CEO ganhava, em média, 42 vezes mais do que um trabalhador, em 2012 a diferença chegou a 380 vezes. Eu acrescentaria um quarto fator à lista: o capitalismo clientelista, no qual o sucesso dos negócios tem a ver com relações com o governo, com mudar as regras em causa própria. Os oligarcas russos e muitos dos ricos chineses surgem dessa vertente. 

**Você divide os plutocratas em dois grupos, certo?** Na minha avaliação, há os heróis, como Steve Jobs, e os vilões, como os de Wall Street. Mas há uma coisa que os une: todo plutocrata com que converso, como os do Vale do Silício, acha-se do bem e ninguém responde pela desigualdade. 

**Essa desigualdade pode ser revertida?** Não tenho bola de cristal, mas parece que a tendência é isso se acelerar. O economista Emilio Saez, de Berkeley, mostrou que, na recuperação econômica de 2009 e 2010, 93% dos ganhos foram para o 1% mais rico e a renda de 99% encolheu.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura
Inovação
O SXSW 2025 transformou Austin em um laboratório de mobilidade, unindo debates, testes e experiências práticas com veículos autônomos, eVTOLs e micromobilidade, mostrando que o futuro do transporte é imersivo, elétrico e cada vez mais integrado à tecnologia.

Renate Fuchs

4 min de leitura
ESG
Em um mundo de conhecimento volátil, os extreme learners surgem como protagonistas: autodidatas que transformam aprendizado contínuo em vantagem competitiva, combinando autonomia, mentalidade de crescimento e adaptação ágil às mudanças do mercado

Cris Sabbag

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent

Rafael Bertoni

0 min de leitura
Empreendedorismo
88% dos profissionais confiam mais em líderes que interagem (Edelman), mas 53% abandonam perfis que não respondem. No LinkedIn, conteúdo sem engajamento é prato frio - mesmo com 1 bilhão de usuários à mesa

Bruna Lopes de Barros

0 min de leitura
ESG
Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O SXSW revelou o maior erro na discussão sobre IA: focar nos grãos de poeira (medos e detalhes técnicos) em vez do horizonte (humanização e estratégia integrada). O futuro exige telescópios, não lupas – empresas que enxergarem a IA como amplificadora (não substituta) da experiência humana liderarão a disrupção

Fernanda Nascimento

5 min de leitura
Liderança
Liderar é mais do que inspirar pelo exemplo: é sobre comunicação clara, decisões assertivas e desenvolvimento de talentos para construir equipes produtivas e alinhada

Rubens Pimentel

4 min de leitura
ESG
A saúde mental no ambiente corporativo é essencial para a produtividade e o bem-estar dos colaboradores, exigindo ações como conscientização, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.

Nayara Teixeira

7 min de leitura
Empreendedorismo
Selecionar startups vai além do pitch: maturidade, fit com o hub e impacto ESG são critérios-chave para construir ecossistemas de inovação que gerem valor real

Guilherme Lopes e Sofia Szenczi

9 min de leitura