Sustentabilidade

Para onde vai a Netflix

Crescimento abaixo do esperado para o número de novos assinantes alimenta debates sobre uma nova etapa na trajetória da gigante do streaming

Compartilhar:

Se já foi a um evento de inovação, qualquer um, você sabe: todo mundo quer criar uma Netflix. E, de fato, tudo ia maravilhosamente bem para a Netflix até julho de 2018, como mostrava a Bolsa de Nova York. Só que bastou um revés no número de novos assinantes para que suas ações registrassem uma queda importante e surgissem debates sobre os caminhos futuros do serviço de streaming.

O relatório da Netflix relativo ao segundo trimestre de 2018, divulgado na segunda quinzena de julho, registra a captação de 670 mil novos assinantes nos Estados Unidos, principal mercado da empresa, e 4,5 milhões nos demais países do mundo. Os números impressionam, sim, mas ficaram bem abaixo das estimativas da própria companhia: 1,2 milhão no mercado norte-americano e 5,1 milhões em outras regiões do planeta.

Os resultados levaram muitos analistas a avaliar até que ponto a Netflix poderia estar perto do seu “teto” de assinantes, o que seria agravado pelo aumento da competição nesse mercado, com a proliferação de serviços de streaming proprietários que apresentam diferentes propostas de conteúdo.

Além disso, os analistas voltaram sua atenção para sinais de mudança na trajetória dessa gigante do streaming, em especial em quatro frentes:

**1. DIVULGAÇÃO**

Os investimentos em promoção e os mecanismos de divulgação do conteúdo da Netflix são questões observadas pelo mercado. Os gastos com marketing aumentaram 92% no segundo trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, alcançando um total de US$ 526,8 milhões. A projeção para 2018 é de um total de US$ 2 bilhões, o que representa 56% a mais do que em 2017.

Apesar desses números, ações de marketing nunca foram prioritárias para a Netflix. “Queremos que nosso serviço seja tão bom em promover os novos conteúdos de forma efetiva que não tenhamos de gastar com serviços externos”, afirmou o CEO Reed Hastings no início do ano.

Ainda assim, o próprio Hastings sinalizou em entrevistas recentes que novos caminhos surgem no horizonte. Segundo ele, a empresa vem buscando modos pelos quais pode “ajudar as marcas a maximizar seu potencial, fazendo vários testes e experimentando diferentes métodos nos diversos países”. O objetivo, explica, é “aprender quais são as formas mais eficazes de gerar demanda por um título”. 

Uma das novas estratégias pode ser seguir modelos com o da Disney, que procura alimentar a curiosidade por suas produções bem antes do lançamento. Afinal, comentam muitos analistas, o que levou a Netflix à marca de 130 milhões de assinantes não é, necessariamente, o que vai levá-la a chegar aos 260 milhões.

**2. (ALÉM DO) VÍDEO**

Muito tem se falado sobre possíveis planos da Netflix para entrar nos mercados de games e música. Um dos pressupostos desse movimento, como destacou recentemente a revista Fast Company, é a ideia de que a empresa não precisa lançar seu próprio serviços de games ou de streaming de áudio para colher frutos e gerar receita com esses dois segmentos.

Um dos caminhos possíveis é o das parcerias. Por exemplo: em junho, circulou a notícia de que a Netflix negocia com a desenvolvedora Telltale a publicação de _Minecraft: Story Mode_, mas como uma versão adaptada do jogo original. A ideia seria lançar o jogo em formato de vídeo, na plataforma Netflix, com alguns comandos que poderiam ser realizados pela tela do celular ou mesmo por um controle remoto. Também com a Telltale, a Netflix estaria desenvolvendo um game baseado na série de sucesso _Stranger Things_.

No ano passado, a Netflix se aventurou no formato podcast, com o lançamento da série _You Can’t Make This Up_, voltada às produções originais de não ficção. 

**3. INTERFACE**

Ainda em julho, executivos da Netflix anteciparam que o serviço vai oferecer em breve uma nova interface para televisão. Ao fazer isso, a empresa quer que as pessoas explorem o serviço para encontrar e consumir mais conteúdos, aproximando a Netflix da própria experiência de ver TV. Assim, elas tenderiam a assistir menos ao YouTube, principalmente.

No que diz respeito à concorrência com o YouTube, Mitch Lowe, um dos fundadores da Netflix e CEO da startup MoviePass, fez uma previsão inusitada em entrevista à revista Exame: “As pessoas têm cada vez menos espaço de atenção. É difícil se concentrar em um filme de duas horas. Ao mesmo tempo, elas querem que os personagens se desenvolvam. É por isso que vamos ter produtos com episódios cada vez mais curtos. O sucesso de vídeos no YouTube mostra que as pessoas na verdade querem episódios de 10, 20 ou 30 minutos que você possa juntar”.

**4. SUCESSÃO**

Soube-se que Hastings está escrevendo um livro sobre sua estratégia de liderança e sobre a cultura corporativa da Netflix, para ser publicado no próximo ano. Na avaliação da revista Fast Company há dois tipos de presidentes de empresa que escrevem livros sobre liderança: aqueles interessados em construir uma marca pessoal e aqueles que estão preocupados em estabelecer seu legado, já pensando na sucessão – e o caso de Hastings se encaixaria na segunda categoria.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura