“Estudar era muito importante para Peter. Dizia, e eu assino embaixo, que ‘pessoas educadas mudarão o mundo em que vivemos e trabalhamos’. O conceito de pessoa educada, que ele introduz em seu livro Sociedade Pós-Capitalista, é o de pessoa que se educa constantemente, consciente de que nunca pode parar de aprender.”
Quem escreve isso é José Salibi Neto, amigo pessoal de Drucker e cofundador desta revista, no prefácio do livro Drucker, Forever, de 2021, escrito por Francisco Madia. Quase surpreende que um autor de gestão nascido na primeira década do século 20 ainda mereça um livro inteiro a seu respeito na terceira década do século 21, quando a gestão foi tão radicalmente transformada pelas tecnologias digitais e pela pandemia de covid-19. Isso em um país que não é o seu. E a explicação resvala de algum modo nesse personagem de “pessoa educada”.
Madia recupera uma fala de Drucker para ilustrar o conceito: “Um jovem que conheço desde que era criança e que hoje está com 40 anos é, provavelmente, o melhor radiologista de toda a Costa Leste deste país. Chefia o departamento de imagens de nossa melhor escola de medicina. Um dia eu ia fazer uma palestra perto de onde ele mora e liguei para que nos encontrássemos. Sua resposta: ‘Peter, sinto muito, estou num curso em Minnesota’. Naturalmente, perguntei: O que você está lecionando? E ele respondeu: ‘Não estou lecionando, vou ficar uma semana estudando novos aspectos da tecnologia de ultrassom. Sabe, eu deveria ter feito isso no passado, mas não pude. Agora estou atrasado’”.
Drucker, mais do que qualquer outro pensador da gestão, desperta nos gestores – e talvez sobretudo nos brasileiros – o desejo de ser “pessoas educadas”. A razão? A principal pode ser seu comportamento exemplar. Era uma pessoa de 1909 que “analisava a tecnologia como ninguém, mesmo ainda usando fax e máquina de escrever”. Isso confere a todos a esperança de que podem se manter atuais, não importa o que aconteça.
Escrever sobre Drucker em 2021 faz sentido porque esse mestre antecipou o zeitgeist da década de 2020 “como se tivesse embarcado numa máquina do tempo, vindo até o futuro, dado uma espiada e voltado para escrever a respeito”.
Como registrou Madia, Drucker falou com muita antecedência (lembre que ele faleceu em 2005), de:
– Trabalho remoto (“Qual o sentido de se continuar trazendo para os centros das cidades corpos pesando 80 ou mais quilos, se tudo o que as empresas precisam é de seus cérebros, que pesam, no máximo, 3,8 quilos?”).
– Abandono organizado para poder inovar (“todas as organizações que não conseguem livrar-se de seus produtos superados estão envenenando-se”).
– Competição por ecossistema (ao dizer que a estratégia mais lucrativa é dividir o trabalho e os ganhos com empresas parceiras – como a DuPont, não como a Xerox.).
Já ler Drucker é um booster de desempenho em 2024 (e deve continuar a sê-lo em 2050) por tudo que ele escreveu (ainda podemos descobrir mais antecipações), e também por três lições, organizadas a seguir.
## três ideias-BOOSTERS
__1. São as “pessoas educadas” que mudam o mundo.__ Drucker nos ensinou como ser uma “pessoa educada”: trata-se de estudar de fora para dentro e, depois, de dentro para fora. É o que nos dá a capacidade de ler melhor o jogo nos negócios e vencer.
Madia e Salibi dizem que Drucker tinha uma espécie de processo de três etapas. Primeiro, ele lia e estudava muito – revistas, livros etc. Então, dava um jeito de viver o que aprendia – indo visitar empresas, conversando com pessoas, participando de eventos… Por fim, escrevendo, gerava novas ideias em cima do que tinha vivido. Havia um movimento de fora para dentro na aquisição de conhecimento e de dentro para fora na criação de conhecimento novo. “Como acontece com os artistas”, nas palavras de Salibi.
__2. Gerenciar pessoas é o que realmente importa.__ Em Drucker, Forever, Madia cita uma frase de Henry Ford da qual Peter gostava bastante e não era à toa: “Você pode tirar de mim minhas fábricas, queimar todos os meus prédios, mas, se deixar meu pessoal comigo, construirei outra vez todos os meus negócios…”. Melhorar a capacidade de gerenciar pessoas era a missão de vida de Drucker. E, se nunca foi fácil gerenciar pessoas, piorou com diversidade na era da inteligência artificial, em que muitos líderes se esforçam menos secretamente crendo que tecnologias resolverão os problemas de pessoas.
__3. Os disciplinados se (auto)conhecem mais.__ Madia cita Drucker: “Sempre que tomar uma decisão importante anote o que espera que aconteça. Nove ou 12 meses depois, compare resultados e expectativas. Faço isso há 20 anos. Praticado constantemente, o método mostra em dois ou três anos onde estão seus pontos fortes”.