Empreendedorismo

Planejamento financeiro: um bê-á-bá para começar

Pensar e agir na gestão financeira pode ser o fator decisório para o sucesso ou fracasso da sua empresa. Confira pontos fundamentais para pensar seu negócio a partir dessa perspectiva
É fundador da HashInvet, gestora de recursos especializada em patrimônio digital, e membro da Confraria do Empreendedor. Foi executivo da área financeira de grandes empresas e atua como consultor independente em gestão empresarial e finanças corporativas.

Compartilhar:

A jornada empreendedora é fascinante, isso ninguém pode negar. Os grandes deals do mercado provocam fortes rebuliços na comunidade empreendedora e enchem os olhos de muitos sonhadores candidatos a empreender. Contudo, é fundamental que se sonhe com os pés no chão, pois a vida de um empreendedor passa longe da imagem glamorosa que aparece na grande mídia.

Empreender é sonhar com um mundo melhor. É resolver um problema, uma dor de alguém ou de alguéns. [Empreender](https://www.mitsloanreview.com.br/post/empreendedorismo-antifragil) é se doar e assumir muitos riscos, pois as incertezas são as únicas certezas nesta jornada.

Mas uma ideia brilhante não passa de uma ideia brilhante. É preciso conhecer técnicas e estratégias para se testar um modelo de negócios, estudar cases de sucesso e de insucesso das técnicas, [modelos e estratégias consagradas](https://www.revistahsm.com.br/post/a-sua-empresa-e-agil-mindset-cultura-aumentar-potencial-empreendedor). É gostoso ler e se imaginar nesses maravilhosos cenários. Hoje, no entanto, o objetivo é focar no bê-á-bá para quem vai começar.

É verdade que para começar basta dar o primeiro passo, mas é importante alguns cuidados para não dar o primeiro passo em falso. Me refiro ao planejamento. Planejamento financeiro mais especificamente. O assunto pode soar chato, burocrático ou perda de tempo para quem está começando. Mas, por mais que se tente esquivar, essa é uma etapa fundamental do nascimento à [maturidade de qualquer negócio](https://www.revistahsm.com.br/post/efeito-startup-na-pandemia).

Antes que você, leitor e leitora, desista de continuar a ler meu artigo, vou dar algumas poucas estatísticas (Relatório Causa Mortis/Sebrae 2014) e depois prometo que serei breve (pelo menos no texto de hoje):

– __40% da MPEs__ interrompem as suas atividades antes de completar dois anos;

– As principais causas da mortalidade das empresas são: __planejamento__, gestão e comportamento empreendedor.

O planejamento não garante o sucesso. O planejamento dá oportunidade para a jornada seguir o seu caminho e, quem sabe, possa chegar ao sucesso e atingir ao seu potencial. É uma conjunção de fatores, quase místicos… mas sem alguns ingredientes a mágica certamente não acontecerá.

## Não existe almoço grátis
Acredito que já conheça essa expressão. Essa talvez seja alguma das poucas regras em que não tenha sequer uma exceção. Qualquer iniciativa, por menor que sejam as demandas exigirão recursos iniciais. Nem que estes recursos sejam apenas o seu tempo!

Se você vai precisar de dinheiro, mesmo que de algum familiar, algum planejamento mínimo será necessário. Dinheiro não cresce em árvore e certamente você sofrerá um grande interrogatório antes de ver o primeiro centavo. É bom você se preparar, uma resposta sem fundamento pode colocar tudo a perder. Esteja preparado, fundamentado e leve o assunto bastante a sério. Você deve receber perguntas do tipo:

• Dinheiro para quê?
• Como você vai gastar?
• Quando vai gastar?
• Qual o seu retorno esperado?
• O que eu ganho com isso?
• É uma doação? Empréstimo? Investimento?
• Quais os principais riscos?

Note que o planejamento não é lei, mas é direção.

## Não basta planejar, tem que gerir!
Em minha experiência prestando consultoria e mentoria para empresas nascentes, pude constatar na prática os resultados da pesquisa Causa Mortis, do Sebrae. A maioria das empresas tinha um contexto muito parecido: uma solução legal, uma [necessidade de investimento de terceiros](https://www.revistahsm.com.br/post/quando-e-como-buscar-investidores-para-sua-empresa) e nenhum planejamento para o seu fluxo de caixa.

Muitos chamavam aquela planilha de três linhas que aceita tudo, em que mostrava quão brilhante e valiosa era a ideia, de fluxo de caixa projetado. Mesmo antes de o negócio ser, de fato, um negócio de grande valor, eles acreditavam que receber alguns milhões de reais por uma ínfima participação na empresa era uma pechincha.

Se você já deu o primeiro passo, parabéns! O primeiro passo é o mais difícil e importante. Agora é preciso planejar, executar, medir e se adaptar com a maior velocidade possível. Planejar com o pé no chão e a cabeça na lua.

Um fluxo de caixa para os próximos meses bem feito te obrigará a refletir e a responder a todos os tipos de perguntas necessárias para o desenvolvimento do seu negócio. Por exemplo, mas não limitado a essas perguntas:

– Quais as suas despesas fixas recorrentes?

– Quais as suas despesas variáveis? E como espera que elas se distribuam no tempo?

– Quais as suas fontes de receita? Se existirem, como elas se distribuem no tempo?

– O que precisa e quanto custa para o desenvolvimento de um protótipo? E como isso se comportará no tempo?

Certamente o [plano não será seguido à risca](https://www.revistahsm.com.br/post/e-preciso-ir-alem-da-estrategia), mas será uma ferramenta de aprendizado, aperfeiçoamento e, principalmente, uma valiosa contribuição para a sobrevivência da sua iniciativa.

Não perca de vista os seus objetivos. Se quiser aumentar as chances de chegar lá, comece pelo planejamento do seu fluxo de caixa! E, apesar de óbvio, jamais misture as contas da sua pessoa física com o do seu negócio, estipule um pró-labore para custear suas despesas pessoais e mantenha contas correntes separadas – hoje existem muitas opções gratuitas em bancos digitais.

É o bê-á-bá para quem vai começar. E o bê-á-bá para quem vai prosperar. O que muda são as complexidades, falaremos delas nos próximos artigos.

*Confira mais sobre empreendedorismo e finanças em [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts).*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Tecnologia, mãe do autoetarismo

Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura