Artigo – Planejamento pessoal
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Planeje o crescimento pessoal

Para atingir um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, apesar do trabalho híbrido, temos de evoluir constantemente em sete aspectos pessoais, com muito planejamento

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Einstein deixou claro: a vida de cada um e nós pode ser traduzida numa equação matemática. E, na visão do físico, trabalho ocupa uma parte significativa dela, porém não mais que um terço. Os outros dois terços são se divertir, o que é autoexplicativo, e saber se calar – o que pode ser interpretado como ter uma capacidade de presença, de leitura de contexto e de controle do ego tal que nos permita avaliar quando é melhor ficar quieto e observar os fatos.

Se Einstein estiver certo, e há uma boa chance de estar, a parte do planejamento pessoal tem uma contribuição desproporcionalmente grande para nosso sucesso na vida, apesar de os três blocos anteriores desta edição especial se referirem a trabalho.

No planejamento pessoal, existem sete áreas de foco {veja quadro “As 7 áreas de desenvolvimento pessoal” logo abaixo}; entre elas, decidimos aprofundar as duas mais contraintuitivas. E, mesmo que pareçam “caretas” para os gestores mais jovens, são elas que garantem um bom pedaço da diversão de Einstein: as áreas familiar e financeira.

## Planejamento familiar
Qual a primeira coisa em que você pensa quando ouve a expressão “planejamento familiar”? Nove entre dez pessoas pensam em fazer planos sobre casamento e ter – ou não – filhos. Errado. O certo é pensar em família como o alicerce de um ser humano e estendê-la além das pessoas com laços consanguíneos, incluindo todos aqueles que estão próximos de nós no cotidiano. Nossa família é composta dos nossos parceiros de vida, sejam eles quem forem. E planejar para a solidez desse alicerce significa entender quem são os membros dessa família estendida e planejar para que suas relações com eles sejam saudáveis.

Isso pode ser particularmente desafiador no pós-pandemia e no Brasil polarizado. “É impossível não pensar no que aconteceu com a família nos últimos dois ou três anos”, diz Erica Isomura, sócia da Corall, consultora e coach sistêmica. “Não tem como esquecermos essa experiência. Uma vez aprendido não conseguimos desaprender.”

Então, o planejamento familiar consiste em definir como (re)construir e manter relações saudáveis dentro da família. E o primeiro passo é conceituar o que é uma relação saudável. Simplificadamente, podemos dizer que é garantir intervalos de tempo que permitam haver qualidade nessas relações.

Isomura, que é psicóloga, dá um exemplo do que não é qualidade nas relações frequentemente observadas no círculo familiar mais próximo. Segundo ela, muitas crianças, olhando seus pais trabalhando em casa, sentiram-se rejeitadas, achando que o computador era mais importante do que elas. O que fazer?

__Diagnóstico/monitoramento.__ O período pandêmico trouxe à tona as relações que não eram saudáveis, principalmente na família mais próxima. A convivência em tempo integral no home office revelou mentiras, traições e insatisfações, e os divórcios se multiplicaram.

Isso não aconteceria numa situação em que houvesse planejamento familiar. Como diz Isomura, “precisamos aprender e planejar dentro da rotina espaços de conversas e de diálogos para temas que são dolorosos para a família, reservando tempo de qualidade para falarmos sobre isso também.” Tempo de qualidade para as relações inclui obrigatoriamente tempo para conversas desagradáveis.

__Correção dos problemas.__ O que fazer nas relações com as crianças, principalmente no cenário de o trabalho híbrido ter vindo para ficar? “Nesse caso, deve-se planejar um trabalho para mudar a percepção das crianças para que se sintam valorizadas mesmo com os pais trabalhando em casa”, afirma Isomura. Como? Ela sugere duas medidas: (1) planejar espaços (e tempos) de convivência dentro de casa que sejam de qualidade – como uma hora do recreio – e (2) fazer com que o espaço de trabalho seja percebido como algo apartado.

__Sonhos compartilhados.__ Se tem uma coisa que mantém as relações saudáveis são sonhos sonhados e realizados juntos. Pode ser uma casa ou um carro novo, uma viagem com os amigos mais próximos, até uma empresa familiar ou a faculdade dos filhos. Você tem esses sonhos? Eles também dependem de conversas difíceis, daquelas que costumamos deixar para depois: são aquelas para definir objetivos e metas de vida, incluindo momentos para sonhar junto com a família. Isomura sugere, inclusive, aplicar a metodologia de design de projetos Dragon Dreaming no ambiente familiar como apoio a essas conversas.

A abordagem Dragon Dreaming é tribal – a família vista como uma tribo. Tem sua inspiração em duas aldeias na Nova Zelândia, em que todos os aborígenes sonham juntos gerando força para transformar a realidade, mas é algo que também existe entre os indígenas brasileiros. “Estive em uma tribo pataxó, no Sul da Bahia, numa aldeia fundada por três irmãs, que não conheciam o homem branco até os 13 anos de idade. Tiveram que se civilizar, mas o sonho delas era voltar para a mata. Elas se planejaram para sonhar juntas e transformaram o sonho em realidade, fundando a aldeia”, conta Isomura, que aplica o Dragon Dreaming com seus clientes e já aplicou em sua própria família.

Adultos muitas vezes param de ter sonhos. Não deveriam, porque é o que move a construção de futuros. Povos originários geralmente não param de sonhar. Por isso, são um excelente ponto de partida para um planejamento familiar. “Precisamos voltar a sonhar. E, mais do que isso, precisamos sonhar agora acordados e junto com outras pessoas – os filhos, o parceiro, pais, amigos”, diz a especialista.

Como fazer isso de uma maneira, digamos, adulta? O primeiro passo para planejar sonhos é entender o presente e as inspirações que nos movem. Para isso, Isomura sugere “fazer rodas de sonhos”, em que as pessoas se sentam formando um círculo, seja no chão ou em cadeiras, e seguem determinadas ações. A primeira delas é fazer a pergunta “Se parássemos de existir hoje, como família, o que deixaríamos de legado?”, e cada um deve tentar achar respostas para ela.

A segunda ação é que cada uma crie uma lista de sonhos que fariam esse legado mais potente e que as mobilizariam; podem falar também de sonhos alheios que as inspiram caso não lhes ocorra nada. A terceira ação é repetir a lista de maneira mais realista, considerando os recursos (tempo, dinheiro) limitados do presente. Dá para fazer isso com grandes amigos também.

Isomura lembra que a qualidade nas relações não é feita apenas do que dá prazer. Há obrigações, que também precisam ser planejadas, e o comprometimento com elas é qualidade. Mas a coach faz um alerta: “Faça o possível para que 70% dessas coisas tragam algum prazer. Senão, há risco de mais pessoas caírem na apatia o que traz consequências para as relações familiares”.

![sonhos viram planos de curto medio e longo prazos](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4hcxjBGWO76hF4DLsmdetn/e46f21d1645efe48165fab89cf304ab4/-075-081-_quadro_1.png)

## Planejamento financeiro
Dinheiro não traz felicidade, diz um velho dito popular, mas é essencial que ele não falte para nos sentirmos em paz – e a paz talvez seja prima-irmã da felicidade. Gastar mais do que se ganha, endividar-se, ver-se num futuro sem dinheiro são coisas que impactam negativamente a saúde, causam crises familiares e podem tirar tudo dos eixos. Planejamento financeiro endereça isso e os sonhos – familiares e individuais.

__Planejamento orçamentário mensal.__ Tudo começa pelo planejamento orçamentário, que deve ter três colunas: receita (listando todas as fontes), custos fixos e custos variáveis. Os especialistas em finanças são categóricos: ninguém pode gastar mais do que ganha. E, mais ainda, tem que fazer sobrar dinheiro. Se não anda sobrando, seu planejamento de ano-novo acaba de ficar mais importante.

– Na coluna das receitas consideram-se os salários de todos, aposentadorias, recebimento de aluguéis de imóveis etc.
– Na coluna de custos fixos deve ser colocado tudo o que é pago mensalmente de modo recorrente, como condomínio, aluguel pago por imóvel, impostos, parcelas de financiamento, funcionários domésticos e mensalidades de serviços (escola, faculdade, curso, academia, TV por assinatura, assistência médica, seguro de vida, telefone fixo e celular etc.). Contas de água, luz e gás, apesar de sofrerem variações, são essenciais e entram como custos fixos projetados. Os custos fixos não devem superar 50% das receitas.
– Nos custos variáveis se inserem os gastos com alimentos, medicamentos, combustível, passeios, outras opções de lazer etc. Muitos deles podem ser considerados supérfluos. Estes não devem superar 30% da renda.
– Deve haver uma parte da renda não gasta, idealmente 20%. Ela é que vai arcar com despesas não previstas (como trocar a TV que quebrou) e deve constituir uma poupança para investir.

O objetivo máximo deve ser o orçamento equilibrado. “Se os gastos fixos sobem e a receita continua igual, você tem de aumentar a receita ou reduzir custos – primeiro os variáveis, depois os fixos. Não tem outra saída.” Quem diz isso é Ana Laura Magalhães Barata, influenciadora digital na área financeira.

Mas e se você estiver entrando no ano-novo numa situação de endividamento? Essa é a situação de quase 80% dos lares brasileiros, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo feita em setembro de 2022. Se a dívida não for mais do que 30% da renda, ainda é razoável. Mas, superando esse teto, fica difícil. Para quitá-la, existem dois caminhos: aumentar a renda com trabalhos extras ou vender um ativo (mas desfazer-se de patrimônio só vale se cobrir todo o débito). Renegociar a dívida é sempre aconselhável. Há casos de desconto de 70% ou parcelamento a perder de vista.

Nunca é tarde para começar a cuidar do orçamento financeiro. “Se não fez antes, dê o primeiro passo agora”, diz a jornalista Mara Luquet, autora de vários livros de finanças pessoais. Um dos segredos dos planejadores, segundo ela, é buscar o mínimo de custos fixos, porque é isso que amarra o orçamento. “Com menos custo fixo é mais fácil planejar; você fica livre para as decisões de consumo e investimento”, comenta Luquet, que hoje lidera o canal MyNews.

Importante: o orçamento deve ser reavaliado periodicamente. Como diz o empresário do 3G Beto Sicupira, “custo é como unha; tem de cortar sempre”. Olhe para o orçamento sem medo e de modo pragmático. “E envolva todos da família”, diz Luquet. Apenas lembre-se de que, se houver gastos fundamentais para os outros planos (mental, físico, social, espiritual e emocional), eles não devem ser cortados. Cogite, isso sim, substituir atividades pagas por atividades gratuitas, mas comprometa-se com as gratuitas como se fossem caríssimas.

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__Planejamento de sonhos.__ Outro segredo dos planejadores financeiros é o estabelecimento de uma meta para reserva. “Caso contrário, é muito fácil os gastos virarem um dreno para a prosperidade financeira”, como comenta Luquet. Porém, pode ser mais fácil pensar em metas como sonhos. É quando você aciona o seu financeiro para custear suas metas familiares, mentais, físicas, sociais, espirituais e emocionais.

Se você não tem um sonho específico, a meta de valor a poupar deve ser o direcionador. Os especialistas falam em guardar 20% da receita. Parece muito, mas Mara Luquet reforça a importância disso para o sonho da aposentadoria, citando o caso do Chile. “Não são poucos os chilenos que não recebem nada de aposentadoria hoje. E muitos recebem uma pensão bem baixa. O governo diz que foi um erro não ter orientado a população sobre planejamento financeiro para a aposentadoria.”

O indivíduo pode gerenciar suas finanças para a aposentadoria sozinho, mas, se não conseguir, que o faça por meio de um plano de previdência privada, mesmo que não goste de pagar as taxas de administração do mercado.

Se a opção for pelo primeiro caminho, Ana Laura Magalhães aconselha as pessoas a começarem a investir da maneira mais segura, como nos títulos do governo no Tesouro Direto Selic, títulos de renda fixa pós-fixados garantidos pelo governo federal.

Investir no Tesouro Selic traz uma remuneração superior à da poupança com segurança. Basta que a pessoa cadastre seu CPF [no site](https://www.tesouro.gov.br) e dê seus primeiros passos de investimento (se for o caso) no Tesouro Selic. Ativos mais seguros e menos complicados são como arroz com feijão, sempre uma boa pedida.

Mais importante do que decidir que aplicações fazer é criar a disciplina de fazer sobrar dinheiro. “Se não der para guardar 20% da renda, tudo bem”, diz Ana Laura Magalhães. A influencer admite que a realidade brasileira torna esse percentual bastante desafiador, seja pela inflação descompassada com reajuste salarial, pela falta de confiança nas instituições financeiras etc. “Guarde o que for possível. O importante realmente é criar o hábito de poupar” – um hábito contraintuitivo para a maioria dos brasileiros.

A boa notícia é que o sistema financeiro começou a se adaptar à realidade do investidor. “Hoje dá para investir R$ 10,00, R$ 100,00”, diz a influencer dos investimentos.

Uma vez que o hábito esteja instalado, a segunda recomendação é que a pessoa se envolva com seus investimentos. “Ninguém vai cuidar tão bem do seu dinheiro quanto você, e não há uma única recomendação perfeita para todos”, explica Magalhães .

As pessoas que já têm conhecimentos mais avançados de investimentos, segundo a especialista, devem responder a três perguntas: (1) quanto investir?; (2) por quanto tempo deixar o dinheiro investido? e (3) qual o nível de risco tolerado? “As respostas as levarão aos produtos certos”, diz Magalhães. Ela só recomenda não se deixar levar pela propaganda de altas remunerações de curto prazo que povoam o mercado. “Muitos se aproveitam.”

Há um problema: planejar tudo Isso requer tempo. E tempo é um artigo em falta para a maioria das pessoas. Mas, como diz Einstein, “falta de tempo é a desculpa dos que perdem tempo por falta de planejamento”.

Artigo publicado na HSM Management nº 155

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